EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO -
Eleitor se mostra descrente da capacidade da esquerda de fazer reformas necessárias para tirar o país da estagnação econômica
A manchete da primeira página do jornal esquerdista “Libération” cravou “Punição” ao se referir à perda, pelo Partido Socialista (no governo), de 155 cidades das 500 que controlava, no segundo turno das eleições municipais francesas de domingo. Os eleitores dessas cidades castigaram o governo do presidente François Hollande e elegeram candidatos da União por um Movimento Popular (UMP), de centro-direita. Por sua vez, a Frente Nacional (FN, extrema-direita), de Marine Le Pen, obteve seu melhor resultado até hoje, passando a controlar 11 cidades (ganhara quatro em 1990).
Punição esperada, pode-se dizer, já que Hollande é o presidente recordista em impopularidade da Quinta República. Uma pesquisa BVA para o diário “Le Parisien” mostrou que 74% dos franceses queriam se ver livres do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault. Conseguiram: Hollande substituiu-o pelo ministro do Interior, Manuel Valls, cuja postura é de firmeza contra o crime e apoio à iniciativa privada.
Um problema para Hollande foi ter ganho a eleição, em 2012, num período em que a Europa passava por grave crise e a França precisava de austeridade para enfrentar desequilíbrios nas contas públicas e de reformas para aumentar a eficiência da economia, engessada por burocracia e demandas sindicais. Medidas difíceis para o Partido Socialista, adepto do estado forte e da proteção social.
A dois meses de completar dois anos de mandato, Hollande pouco conseguiu, principalmente em relação ao desemprego de mais de 10%. Ele garantira que começaria a baixar até o fim de 2013, o que não ocorreu. O déficit público, que o governo prometera à UE reduzir a 4,1% do PIB no ano passado, bateu nos 4,3%. A dívida pública passou de 90,6% em 2012 a 93,5% do PIB em 2013 — Hollande planeja cortar os gastos públicos em €50 bilhões até o fim do mandato, em 2017. O número mais assustador talvez seja a queda de 77% do investimento externo direto na França no ano passado, segundo a ONU.
Após o péssimo resultado da esquerda no pleito municipal, Hollande tem pela frente a votação no Parlamento, em meados deste mês, do “pacto de responsabilidade”, um pacote de €30 bilhões em corte de impostos para estimular as empresas. A 25 de maio, haverá eleições para o Parlamento Europeu e o tempo disponível parece insuficiente para a esquerda reverter o resultado do voto municipal.
A França, como quase todos os países, se ressente da baixa credibilidade dos políticos e da falta de líderes de expressão. Os partidos franceses, por sua vez, carecem de um projeto nacional capaz de tirar o eleitorado da apatia — foi recorde a abstenção de 38% nas municipais. Daí talvez o bom desempenho da FN, que não esconde de ninguém sua firme postura anti-UE e de linha dura com os imigrantes.
Eleitor se mostra descrente da capacidade da esquerda de fazer reformas necessárias para tirar o país da estagnação econômica
A manchete da primeira página do jornal esquerdista “Libération” cravou “Punição” ao se referir à perda, pelo Partido Socialista (no governo), de 155 cidades das 500 que controlava, no segundo turno das eleições municipais francesas de domingo. Os eleitores dessas cidades castigaram o governo do presidente François Hollande e elegeram candidatos da União por um Movimento Popular (UMP), de centro-direita. Por sua vez, a Frente Nacional (FN, extrema-direita), de Marine Le Pen, obteve seu melhor resultado até hoje, passando a controlar 11 cidades (ganhara quatro em 1990).
Punição esperada, pode-se dizer, já que Hollande é o presidente recordista em impopularidade da Quinta República. Uma pesquisa BVA para o diário “Le Parisien” mostrou que 74% dos franceses queriam se ver livres do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault. Conseguiram: Hollande substituiu-o pelo ministro do Interior, Manuel Valls, cuja postura é de firmeza contra o crime e apoio à iniciativa privada.
Um problema para Hollande foi ter ganho a eleição, em 2012, num período em que a Europa passava por grave crise e a França precisava de austeridade para enfrentar desequilíbrios nas contas públicas e de reformas para aumentar a eficiência da economia, engessada por burocracia e demandas sindicais. Medidas difíceis para o Partido Socialista, adepto do estado forte e da proteção social.
A dois meses de completar dois anos de mandato, Hollande pouco conseguiu, principalmente em relação ao desemprego de mais de 10%. Ele garantira que começaria a baixar até o fim de 2013, o que não ocorreu. O déficit público, que o governo prometera à UE reduzir a 4,1% do PIB no ano passado, bateu nos 4,3%. A dívida pública passou de 90,6% em 2012 a 93,5% do PIB em 2013 — Hollande planeja cortar os gastos públicos em €50 bilhões até o fim do mandato, em 2017. O número mais assustador talvez seja a queda de 77% do investimento externo direto na França no ano passado, segundo a ONU.
Após o péssimo resultado da esquerda no pleito municipal, Hollande tem pela frente a votação no Parlamento, em meados deste mês, do “pacto de responsabilidade”, um pacote de €30 bilhões em corte de impostos para estimular as empresas. A 25 de maio, haverá eleições para o Parlamento Europeu e o tempo disponível parece insuficiente para a esquerda reverter o resultado do voto municipal.
A França, como quase todos os países, se ressente da baixa credibilidade dos políticos e da falta de líderes de expressão. Os partidos franceses, por sua vez, carecem de um projeto nacional capaz de tirar o eleitorado da apatia — foi recorde a abstenção de 38% nas municipais. Daí talvez o bom desempenho da FN, que não esconde de ninguém sua firme postura anti-UE e de linha dura com os imigrantes.
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