por Mary Zaidan
O bloco da mentira
Assim como quem não gosta de samba é ruim da cabeça ou doente do pé, é
insano imaginar que pessoas sem acesso aos serviços básicos de saúde não
queiram ou não gostem de ter médicos para atendê-las. O doutor pode ser
de qualquer nacionalidade, pode até falar grego, mas é melhor tê-lo. A
falta de tudo é tanta que o que vier é lucro. Veio o Mais Médicos...
O polêmico programa desafinou já no começo e continuou atravessando o
ritmo, com desculpas sempre mal ajambradas quando flagrado nos seus
desatinos.
Lançado às pressas para atender à campanha do ex-ministro Alexandre
Padilha, candidato de Lula ao governo de São Paulo, logo de cara perdeu o
tom. Era para ser rumba pura, mas, chacoalhado por críticas dos médicos
brasileiros, teve de ser aberto, ainda que pro forma, para adesão local
e de estrangeiros de outras partes do mundo.
Já na primeira leva de importação, a máscara caiu: descobriu-se que,
havia meses, os cubanos estavam sendo treinados por agentes brasileiros.
O molde do programa sempre foi para cubanos, ou melhor, para a ilha dos
irmãos Castro, que fica com 75% do dinheiro que deveria ser pago aos
profissionais exportados para o Brasil.
Se o salário de R$ 940, as condições de vigilância e o cerceamento das
liberdades individuais dos cubanos já eram um escândalo, permitindo
traçar paralelos com trabalho escravo, as revelações feitas pelo Jornal
Nacional na quinta-feira, ampliaram as suspeitas sobre o Mais Médicos.
Ao contrário do que o Ministério da Saúde dizia – inclusive o ministro,
no Congresso Nacional –, nenhum país do mundo tem programa similar.
Quem confirmou isso foi a própria Organização Panamericana de Saúde
(Opas), intermediadora do contrato com Cuba. Ou seja, para manter o
acerto que avilta os médicos cubanos e enriquece os donos da ilha
caribenha, o governo Dilma Rousseff mentiu aos brasileiros.
França e Chile têm médicos cubanos, sem qualquer intermediação e sem a
cota castrista. A Itália nem mesmo importa cubanos. E Portugal, o único
país a usar a Opas, contratou 40 médicos em 2009; hoje tem 12. O Brasil
já abriga mais de cinco mil e outros quatro mil devem chegar em breve,
com as mesmas tratativas sui-generis.
Um dia depois de o procurador-geral da União, Paulo Henrique Kuhn,
afirmar ao JN que o governo brasileiro não podia mexer no salário dos
médicos cubanos porque eles assinaram contrato com Cuba, e que isso
seria “ingerência”, o ministro Arthur Chioro anunciou aumento para os
cubanos. E atribuiu a decisão – “ingerência”- à presidente Dilma.
Não bastassem as mentiras, ao conceder salário de R$ 3 mil aos cubanos
enquanto os demais médicos do programa recebem R$ 10 mil, Dilma manteve e
avalizou a injustiça.
A população que carece, e muito, de atendimento à saúde, não merece um enredo de tamanho embuste.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de
S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario
Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e
Imprensa'.





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