A TAL EMPRESA HOLANDESA ACUSADA DE PAGAR PROPINA A FUNCIONÁRIOS DA PETROBRÁS?
Leiam o que informam Alana Rizzo e Pieter Zallis, na VEJA desta semana:
A Petrobras pagou 17 milhões de
dólares à SBM, empresa holandesa acusada de dar propina para conseguir
contratos bilionários com a petroleira, como reembolso por um serviço
que não estava previsto em contrato. Os detalhes do acordo extrajudicial
estão em documentos sigilosos a que VEJA teve acesso. O pagamento foi
defendido pelo diretor de engenharia da Petrobras, José Antônio de
Figueiredo, e as negociações entre as duas empresas foram intermediadas
pelo engenheiro e lobista Julio Faerman. Os dois são citados em uma
denúncia publicada na Wikipedia por um ex-executivo da SBM, que apontou o
envolvimento da empresa em esquemas de corrupção em sete países. As
denúncias estão sendo investigadas agora por órgãos oficiais dos Estados
Unidos e da Europa. Nelas, Figueiredo é citado como facilitador de
negócios para a SBM na Petrobras. Faerman, que tinha contratos de
consultoria com a empresa holandesa, seria o responsável por pagar a
propina a diretores da estatal. No total, a SBM tem mais de 9 bilhões em
contratos com a Petrobras.
O caso do
reembolso mostra pela primeira vez detalhes da atuação da dupla. Em
2008, a SBM exigiu da Petrobras a devolução do dinheiro gasto para
resolver um problema de incrustação nos oleodutos de uma plataforma de
exploração de petróleo na camada de pré-sal alugada à estatal por 1,9
bilhão de reais — a FPSO Capixaba. O aluguel dessa plataforma, ancorada
no litoral do Espírito Santo, foi uma das grandes vitórias de Faerman
como consultor da SBM. Esse tipo de incrustação é resultado de um
processo químico que resulta no acúmulo de sais numa superfície. No caso
das plataformas, é formado pela união, no momento da extração de
petróleo, de dois tipos de água: a do mar e a chamada “água de
formação”, que fica retida nas rochas onde está o óleo. O acúmulo desses
sais compromete (em casos extremos pode interromper) o escoamento de
óleo, da mesma forma que o colesterol das artérias dificulta a
circulação de sangue.
Não se
trata de um problema raro. Incomum foi o encaminhamento que ele recebeu.
Em ao menos três plataformas sob responsabilidade da Petrobras em que
um caso semelhante ocorreu — a FPSO Rio das Ostras, da norueguesa Teekay
Petrojarl, a FPSO Rio de Janeiro, da japonesa Modec, e a FPSO Brasil,
da própria SBM a operação de limpeza das incrustações foi custeada pela
empresa dona da plataforma, e não pela estatal. Além disso, no contrato
original firmado em 2005 entre a Petrobras e a SBM, a responsabilidade
por manter a planta “em condições normais de operação” cabia à companhia
holandesa.
Ainda
assim, o pagamento pelos danos causados pela incrustação acabou sendo
bancado pela Petrobras. Isso só foi possível graças à inclusão no
contrato de um aditivo que estabeleceu expressamente que a estatal
deveria arcar com os custos do problema. O aditivo foi apresentado por
Figueiredo, como mostram documentos a que VEJA teve acesso.
Em outubro
de 2010, o atual diretor de engenharia da Petrobras assinou um
documento de oito páginas defendendo a ideia de que a estatal fizesse um
acordo extrajudicial para o reembolso à SBM em caso de remoção de
incrustações, sob a alegação de que a empresa “não teve a oportunidade
de incluir em seu preço os serviços e produtos pelos quais agora busca
ressarcimento”. Esse documento foi enviado diretoria executiva da
Petrobras. Em 10 de novembro de 2010, o caso foi levado em reunião pelo
diretor Guilherme Estrella, e a diretoria aprovou o acordo. Com isso, a
estatal autorizou o pagamento à SBM de 17 milhões de dólares. O depósito
foi feito no exterior, outro pleito da SBM atendido pela Petrobras.
Faerman, como representante da empresa holandesa, era quem estava à
frente da negociação, corno mostram e-mails que trocou com funcionários
da estatal. O tema também foi discutido em uma reunião entre as duas
empresas realizada em Singapura.
Procurada
por VEIA, a Petrobras não se manifestou. O lobista e a empresa
holandesa, que romperam relações há dois anos, não quiseram se
pronunciar. Em anúncio publicado em jornais na semana passada, Faerman
afirma ser inocente das acusações e se compara a Joseph K., o personagem
principal do romance O Processo, de Franz Kafka, que acaba executado
sem nunca ter descoberto o crime de que era acusado. Não é uma
comparação devida. As acusações contra Julio F. correm em órgãos
oficiais e à luz do dia. E, diferentemente do que ocorreu com o
protagonista de Kafka, os eventos indicam que labirintos são um ambiente
bastante familiar para ele.
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