AUGUSTO NUNES - DIRETO AO PONTO
No comício promovido por Lula para oficializar a saída de José
Eduardo Dutra e a chegada de José Sérgio Gabrielli, o Brasil ficou
sabendo que a Petrobras seria presidida por um gênio da raça disfarçado
de economista baiano. “O companheiro José Sérgio Gabrielli se
transformou num dos mais importantes diretores financeiros que a empresa
já teve em toda a sua história”, informou o palanque ambulante em 22 de
julho de 2005. Nem todos enxergam tão longe, elogiou-se na continuação
do palavrório.
“Não faltaram pessoas que me diziam assim: o mercado não vai gostar, o
mercado vai reagir, é melhor deixar quem está lá”, foi em frente o
recordista brasileiro de bravata & bazófia. ”Como eu não tenho
nenhuma relação de amizade com o mercado, resolvi indicar quem eu
queria”. O que queria (e, pelo jeito, encontrara) era alguém capaz de
acumular a presidência da OPEP com a coordenação do carnaval de
Salvador. Como até gente assim pode precisar de conselhos, ele lembrou a
Gabrielli que, caso quisesse ajuda, bastaria recorrer à onisciente e
onipresente Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e presidente do Conselho
de Administração da Petrobras.
Ainda em 2005, a sumidade descoberta por Lula encampou a grande ideia
de Nestor Cerveró, diretor da Área Internacional: comprar por US$ 360
milhões metade de uma refinaria no Texas que a empresa belga Astra Oil
havia adquirido meses antes por US$ 42,5 milhões. Com a ajuda de outro
diretor, Paulo Roberto Costa, Cerveró produziu o “resumo executivo”
apreciado em 3 de fevereiro de 2006 pelo Conselho de Administração. Foi
uma decisão desastrosa, comprovou o desfecho do negócio: em 2012, para
encerrar a disputa judicial iniciada cinco anos antes, a Petrobras pagou
mais US$ 820 milhões à Astra Oil e transformou-se na única proprietária
de uma refinaria inútil.
Feitas as contas, a aquisição da velharia no Texas, sugerida por
Gabrielli e aprovada por Dilma, custou US$ 1,18 bilhão ─ ou 2,8 bilhões
de reais, que poderiam ter atendido a angustiantes urgências
do viveiro de miseráveis fantasiado de potência emergente. Só nesta
semana a supergerente mandona que tudo quer saber, e confere até o custo
do cafezinho, resolveu enxergar o monumento à inépcia, à vigarice e à
gatunagem. Com a candura de uma Filha de Maria, alegou desconhecer a
existência de cláusulas leoninas infiltradas no contrato. Bastaria ter
lido os documentos colocados à disposição da presidente do Conselho.
Em outubro de 2010, todos no Planalto sabiam da história
inverossímil. Menos Lula, reiterou a visita do maior governante desde
Tomé de Souza ao campo de Tupi. “Quando a gente quiser ter orgulho de
alguma coisa neste país a gente lembra da Petrobrás, de seus
engenheiros, de seu geólogos, do pessoal que é a razão maior do orgulho,
mais do que o Carnaval, do que o futebol”, recomeçaram as invencionices
ufanistas. “A Petrobrás é a certeza e a convicção de que este país será
uma grande nação. É a prova mais contundente de que o brasileiro é
capaz, é inteligente, não é de segunda classe”.
Depois que o Estadão incorporou a presidente da República ao
espetáculo da indecência, a movimentação dos atores ampliou a afronta
ao país que presta. Em campanha no Ceará, Dilma recusou-se a comentar a
transação vergonhosa: estava lá para não dizer coisa com coisa sobre
“mobilidade urbana”. Gabrielli, agora secretário de Planejamento da
Bahia, culpou a “crise internacional” pelo negócio suspeitíssimo. Nestor
Cerveró, hoje diretor financeiro da BR Distribuidora, tirou férias e
foi para a Europa. Cerveró achou prudente cair fora do país tão logo
soube que o álibi montado por Dilma transfere integralmente a culpa
para os autores do resumo executivo.
A demissão o alcançou a milhares de quilômetros de distância. Nesta
sexta-feira, por ordem do Planalto, o diretor financeiro da BR
Distribuidora perdeu o emprego fpelo que fez há mais de oito anos o
diretor da Área Internacional da Petrobras. É bom que se cuide: para
salvar do naufrágio a candidata à reeleição, o comitê central da
campanha pode conferir-lhe o papel que sobrou para Marcos Valério no
escândalo do mensalão. Seu parceiro Paulo Roberto Costa está preso, mas
por outros motivos: a polícia descobriu que trocou a direção da
Petrobras pelo alto comando de uma quadrilha especializada em lavagem de
dinheiro.
Afônico de novo, Lula sussurrou a alguns amigos que Dilma não deveria
ter confessado o que fez. Daqui a alguns dias vai recuperar a voz para
jurar que não sabe de nada. Como os afilhados Dilma e Gabrielli, como os
demais sacerdotes da seita que o venera, o padrinho e Grande Pastor
sempre soube de tudo. Recitando que o petróleo é nosso, os donos do
poder privatizaram a empresa agora reduzida a caso de polícia. A
Petrobras é do PT. Só é nossa a conta bilionária.
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