JÚLIA RODRIGUES
Concentrado nas complicações do programa Mais Médicos, o noticiário sobre o que vai pela área da Saúde não concedeu o merecido espaço ao impressionante desempenho do ministro Arthur Chioro no Carnaval. Enquanto a maioria dos colegas descansava, o sucessor de Alexandre Padilha usou três jatos da Aeronáutica para dedicar-se em tempo integral à guerra contra a Aids. Em defesa do uso de preservativos e da disseminação dos exames sorológicos, Chioro travou combates em quatro frentes diferentes: São Paulo, Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
“Fiz questão de ter minha esposa ao meu lado para evitar qualquer situação de exposição indevida”, esclareceu Chioro, que em algumas batalhas contou também com a ajuda de colegas do primeiro escalão e de convidados especiais. Todos viajaram sem despender um centavo do próprio bolso: os deslocamentos do novo cliente da FABTur foram patrocinados pelos brasileiros que pagam impostos. Para pagar os quatro pernoites em hotéis estrelados, o ministro usou parte das diárias de R$ 2.541,88.
A acumulação de milhagens começou no fim da tarde de 28 de fevereiro, sexta-feira de Carnaval, quando o ministro voou de Brasília para São Paulo escoltado por José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, e Eleonora Menicucci, chefe da Secretaria de Políticas para Mulheres (com status de ministra). Ainda no começo da madrugada de sábado, acompanhado por 10 convidados, decolou rumo ao Recife, onde dormiu algumas horas antes de recomeçar a festa, agora no camarote do Galo da Madrugada.
Ele deixou a capital pernambucana depois do almoço e baixou em Salvador no meio da tarde de sábado. Bastante animado, dividiu-se entre dois camarotes: o Expresso 2222, comandado por Gilberto Gil, e o reservado ao governador Jaques Wagner. No domingo, partiu para o Rio de Janeiro a tempo de aplaudir o desfile do Bloco do Sargento Pimenta. A escala no Rio estendeu-se até a manhã de de terça-feira, quando se deslocou para São Paulo. Só às 11h45 da Quarta-Feira de Cinzas o maratonista dos ares embarcou de volta a Brasília.
Chioro mobilizou as aeronaves VC-99A (Embraer 145), VC-99B (Embraer 135) e C-97 (Embraer 120) para percorrer 3.808 milhas (ou 6.129 quilômetros). ”A presença do ministro dá mais visibilidade à ação da pasta”, explicou Juvenal Vicenzi, coordenador de Redação da Assessoria de Imprensa do Ministério da Saúde. A única ação visível do ministro foi a distribuição de não mais que 200 preservativos.
Segundo funcionários da Líder, empresa de táxi aéreo, é de R$ 160 mil o preço mínimo do fretamento de um jato para cobrir tamanha distância. Como as quatro diárias somaram R$ 10.167, o giro carnavalesco do ministro custou mais de R$ 170 mil. Cada uma das 200 camisinhas distribuídas por Chioro, portanto, saiu por R$ 850. Um pacote com três unidades pode ser comprado em qualquer farmácia por R$ 3.
Quem não usou o mimo entregue pessoalmente pelo sucessor de Alexandre Padilha hoje é dono de uma valiosa brasileirice: o preservativo mais caro do mundo. Pelo andar da carruagem, já no próximo Carnaval a Camisinha de Chioro estará valendo mais de mil reais.
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