Brasileiros formados na Venezuela não estão aptos a exercer a medicina naquele país; até autoridade venezuelana admite que são "médicos incompletos"
Matéria da Folha de S. Paulo:
Mesmo sem cumprir todos os requisitos do
Ministério da Saúde, 41 médicos comunitários brasileiros recém-formados
na Venezuela foram selecionados para trabalhar no programa Mais
Médicos.
Eles se graduaram em novembro pela Elam
(Escola Latino-Americana de Medicina) Dr. Salvador Allende, criada em
2007 pelo então presidente Hugo Chávez. A maioria é ligada a organizações de esquerda como o PT e o MST.
O grupo voltou ao Brasil sem
atender todas as exigências da profissão previstas no artigo 8º da Lei
de Exercício da Medicina na Venezuela.
“Depois que recebem o título, os
formados têm de fazer um ano como médico rural ou dois anos de
internato. Do contrário, o ministro não assina o diploma, e eles não
podem fazer pós-graduação, medicina privada nem nada. São médicos incompletos“, disse à Folha Fernando Bianco, presidente do Colégio de Médicos de Caracas e simpatizante do chavismo.
O descumprimento dessa exigência
contraria o edital de contratação do Mais Médicos publicado em 16 de
janeiro, segundo o qual médicos brasileiros formados fora do país
precisam comprovar “habilitação para exercício da medicina no exterior”.
Nesta semana, o grupo começou o
treinamento de cerca de 25 dias, que inclui uma avaliação de
conhecimentos em saúde na atenção básica. Mas todos já têm cidades
designadas em 14 Estados, incluindo sete em São Paulo.
Na Venezuela, o programa de médicos
integrais comunitários tem sido criticado por causa de irregularidades
normativas, improvisos e falta de docentes qualificados.
A Elam não está inscrita no
Ministério de Educação Universitária. Com isso, o diploma dos
brasileiros é da Universidade Nacional Experimental Rómulo Gallegos
(Unerg), em San Juan de los Morros, a 180 km de Caracas, onde fica a
Elam.
Os brasileiros e outros estrangeiros
receberam o diploma em cerimônia com a participação do presidente
Nicolás Maduro. As festividades incluíram uma visita ao Quartel da
Montanha, onde está o túmulo de Chávez –o nome da turma é “Comandante Eterno Hugo Chávez”.
“Aqui, conheci o maior líder de todos os
tempos, que semeou em mim uma bandeira de luta que levarei para sempre
onde quer que eu vá”, escreveu, no Facebook, a brasileira Vaubéria
Macedo.
“Conheci uma medicina diferente,
humanista, onde o ser humano é o mais importante, e a saúde não é a
ausência de doenças. E por isso sou muito grata aos companheiros
cubanos.”
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