Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 26 de março de 2014

Putin move perseguição contra cristãos na Criméia

Escrito por Luis Dufaur
“Na ‘República Autônoma da Criméia’, foram documentados casos de perseguição a clérigos de várias denominações. Está havendo uma violação dos direitos sem precedentes em matéria de liberdade de consciência e de religião”, avisa órgão do governo da Ucrânia.
Assim que o presidente russo Vladimir Putin iniciou a manobra de anexação ilegal da Criméia, a Igreja Greco-Católica, fiel à Santa Sé, começou a sofrer uma “perseguição total” na península, segundo as autoridades religiosas.
“A vida da Igreja Católica de rito greco-católico está paralisada”, disse o Pe. Volodymyr Zhdan, chanceler da eparquia (equivalente a uma diocese) de Stryi, na Ucrânia ocidental, falando para a agência CNA.
Desde 2006 até 2010, o Pe. Zhdan foi chanceler do exarcato de Odesa-Krym que incluía a península da Criméia.
Três sacerdotes greco-católicos foram sequestrados por militares russos que fingem serem paramilitares independentistas.
Para o Pe. Zhdan esses múltiplos sequestros “não são um acidente”.
O Pe. Mykola Kvych, capelão naval em Sebastopol, foi preso logo depois de uma cerimônia por um defunto, em 15 de março. No dia seguinte foi a vez do Pe. Bohdan Kosteskiy, de Yevpatoria e do Pe. Ihor Gabryliv, de Yalta.
Os três foram liberados na alta noite, mas a intimidação foi clara: tinham que ir embora ou sofreriam punições muito mais graves.
O sacerdote informou ao Serviço de Informação da Igreja Ucraniana Greco-católica que ele foi objeto de um interrogatório que durou 8 horas, bem ao estilo da KGB.
Os interrogadores diziam pertencer às forças de autodefesa da Criméia, ficção criada por Vladimir Putin. Eles tinham por trás oficiais de inteligência vindos da Rússia.
O padre foi acusado de “provocações” e de fornecer armas para a Marinha ucraniana. O Pe. Kvych sustentou que ele levou alimentos para uma base naval ucraniana e que passou dois coletes a prova de bala para jornalistas.
Os sequestradores acusaram o Pe. Kvych de pertencer ao “Exército SS”, em malevolente alusão ao exército nazista na II Guerra Mundial, época em que o sacerdote nem tinha nascido.
Também foi acusado de “extremismo”, crime que a lei russa pune com 15 anos de prisão. Ele foi citado a depor diante de um tribunal dentro de duas semanas.
O Pe. Kvych fugiu para o centro da Ucrânia com a ajuda de seus paroquianos.
Além dos intimidantes sequestros, os religiosos católicos estão sofrendo outras formas de perseguição em diversos locais.
O Serviço de Informação Religiosa da Ucrânia noticiou que a pequena capela de Kherson, no norte da Criméia, ficou sem luz, após os agentes de Putin cortar a linha.
Em 15 de março, uma paróquia em Kolomyya foi depredada, e outra em Dora foi reduzida a cinzas. As duas paróquias ficam na região de Ivano-Frankivsk na fronteira com a Romênia no oeste do país.
Na Criméia, o clero está recebendo telefonemas e mensagens ameaçadoras. Na casa de um dos padres sequestrados se encontrou uma mensagem escrita dizendo que a violência era “uma lição para os agentes do Vaticano”.
“Isto não é novo”, disse o bispo D. Vasyl Ivasyuk. “Na época soviética nós sempre éramos acusados de sermos ‘agentes’ do Vaticano. Obviamente não é todo o povo da Criméia que pensa que nós somos espiões, mas se trata de um grupo muito ativo que trabalha para a Rússia”. A declaração foi dada à Catholic News Agency.
A Igreja Católica de rito greco-católica foi pesadamente perseguida sob a tirania soviética. Ela foi declarada ilegal, mas continuou trabalhando na clandestinidade até 1989.
“A Igreja emergiu da clandestinidade há 25 anos, tendo sido a maior igreja ilegal no mundo”, explicou o bispo D. Boris Gudziak, eparca de Paris.
“A Igreja Ucraniana de rito Greco-católico foi o maior grupo social de oposição à ideologia soviética e a seu sistema totalitário. Ela ficou completamente ilegal, em ‘catacumbas’, mas espiritualmente livre porque nunca colaborou” (com o perseguidor anticristão), conta o bispo.
“Muitos habitantes da Criméia nos respeitam por não temos tomado parte e eleições e ficado de fora da política”, disse. “Nossos sacerdotes não concorrem por cargos públicos, fato que lhes garante autoridade moral”.
Após a invasão das tropas de Putin, só dois sacerdotes católicos ainda podiam exercer seu ministério na Criméia.
Dom Ivasyuk explicou que os dois padres querem ficar com o povo o maior tempo possível, embora percebam a “boca do leão”.
Em 18 de março, o Departamento de Assuntos Religiosos e Étnicos da Ucrânia, do Ministério da Cultura, emitiu uma declaração condenando a perseguição do clero na Criméia.
“Recentemente, na “República Autônoma da Criméia”, foram documentados casos de perseguição a clérigos de várias denominações. Está havendo uma violação dos direitos sem precedentes em matéria de liberdade de consciência e de religião”, diz o documento.
“Pedimos que tenha fim a prática do terror e que as liberdades e direitos sejam respeitados”, acrescenta-se.
Após a anexação ilegal da Criméia pela Rússia, não é claro qual será o futuro dos sacerdotes católicos na região. Na península da Criméia moram 5 mil fiéis greco-católicos.
“O que nós vimos neste fim de semana (sequestro dos três padres) é um sinal perturbador do que será a futura direção política”, concluiu o Pe. Zhdan, pensando na “nova-URSS” de Putin.

Luis Dufaur, escritor, edita o blog Flagelo Russo. 

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