Jornalista Andrade Junior

domingo, 30 de março de 2014

O REPOUSO

Jacornélio M. Gonzaga (*)

         Há alguns meses, meditava eu na orla do “Brazilian River Thames”, mais conhecido como Tietê, quando me veio à memória, possivelmente a olfativa, a imagem do GANGES, o sagrado rio hindu. Perguntei-me então? O que faço aqui em terras de Haddad, Marta, Ignácio, e muitos outros iletrados. Por que não retorno a MOMBAI, na Índia, e termino meus estudos sobre o idioma Sânscrito.

         Vocês vão me inquirir: qual a razão da escolha dessa língua? Bem, o Sânscrito é uma língua indo-européia do ramo indo-ariano. Nela foram escritos os quatro Vedas (1200-900 AC) e durante dezessete séculos (VI AC – XI DC) foi a língua da literatura e da ciência hindus; é mantida, ainda hoje, por razões culturais, como língua constitucional da Índia. Guarda algumas semelhanças com o latim e o grego.

         A Constituição da Índia diz que o híndi e o inglês são as duas línguas oficiais da administração federal, mas reconhece outras vinte e uma com um status oficial especial. De todas as vinte três, a que eu tenho a maior dificuldade de domínio é o inglês.

         Doido para me livrar das Marias do Rosário da vida e com medo dos trombadões de 17,99 anos, entrei em contato com o Departamento de Sanskrit da Universidade de Mumbai, solicitando a aceitação de minha proposta de estudos.

         De posse da resposta positiva, embarquei num avião da Malaysia Airlines com destino “certo” (?), ou seja, qualquer ponto ao sul do Oceano Índico.

         A dez mil metros de altitude, envolvido em minhas meditações, comecei a “cair na real” de como estava ultrapassado. Eu ainda era do tempo que Pasadena era uma cidade da Califórnia/USA, onde havia ocorrido a final da Copa do Mundo de Futebol de 1994 e os irmãos Van Halen se juntaram, em 1974, para formar a banda de mesmo nome.

         Não! Passadena para a “glória” dos petralhas é uma refinaria localizada em outra Pasadena, a que fica no estado do Texas/USA, e que foi comprada, em 2005, pela empresa belga Astra Oil, por insignificantes US$ 42,5 milhões. Em 2006, esta mesma Pasadena, que não é a dos Van Halen, foi adquirida (50%) por Gabrielli, pela mixaria de US$ 360 milhões. Em 2008, a Petrobras, de Gabrielli, e a Astra Oil se desentenderam e uma decisão judicial, baseada em clausulas de contrato, obrigou a estatal brasileira a comprar, por US$ 1,18 bilhão, a parte que pertencia à empresa belga.

         Vejam as coincidências: Preocupado com o programa “fome zero” do Obama, que ia muito mal das pernas, o senhor Albert Frère, megaempresário belga, resolveu comprar, por intermédio da Astra Oil, uma refinaria obsoleta lá no Texas/USA, só para ajudar! Esqueci de informar que o Sr Albert é vice-presidente mundial e dono de 8% das ações da GDF Suez Global LNG, maior produtora privada de energia do planeta.

         Fã do carnaval baiano, apaixonado por acarajé e aderente, de primeira hora, do lepo-lepo, o “bom belga” influenciou para que a GDF Suez (não é o GDF do Agnelo) fizesse alguns negócios com a PETROBRAS no Recôncavo Baiano e realizasse outros, em diversos estados do Brasil, por meio da Tractebel Energia.

         Esta empresa, que é a maior companhia privada de produção de energia na Ilha de Vera Cruz, e que tem 68,7% do seu capital social nas mãos da GDF Suez, doou, em 2006, R$ 300 mil reais para a reeleição do apedeuta. Posteriormente, foi uma das patrocinadoras da grande obra cinematográfica “Lula, o Filho...”. Em 2010, para a eleição de Dilma, a Tractebel doou quase R$ 900 mil. Coincidência!!!!!!!!!

         Faço bem em refugiar-me em Mombai, não tenho mais estômago para agüentar a Senadora Gleisi Hoffmann dizer que a perda de valor das ações da PETROBRAS não é fruto da horripilante, trapaceira e “conchavista” administração petista e sim u’a manobra da oposição com a finalidade de privatizar a empresa petrolífera.

         Não terei mais que ver a exploração positiva na mídia dos atos de bravura do terrorista Carlos Eugênio Paz, o Clemente, ao mesmo tempo que as tardias revelações à Comissão Nacional da inVerdade, feitas pelo Dr Pablo (codinome, muito criativo, do TC Ref Paulo Manhães), um velho gagá, que é a cara do Saddam Hussein, são alcunhadas de vergonhosas. Não terei mais a dúvida se vergonha foi o que Clemente fez ou se vergonhoso é o “arrependimento pablístico” e suas controvérsias.

         Não mais azedarei o meu pobre e combalido fígado ao saber que a Maria do Rosário, durante uma coletiva de imprensa, defendia o pior dos infernos contra os matadores de um homossexual e, ao tomar conhecimento que o crime havia sido perpetrado por menores, respondeu: “crime não, o que eles cometeram foi um ato infracional e, após apreciação pelo Judiciário, não serão penalizados, mas submetidos à medidas sócio-educativas”. Indagada se a lei não estaria sendo branda demais com os bandidos, Maria respondeu:“não são bandidos. São menores em conflito com a lei”. Em seguida, retirou-se da sala, fingindo estar a atender o celular, ignorando os avisos de um de seus 4218 assessores que a advertia sobre o aparelho, no qual fingia falar, era, na verdade, o controle remoto do ar-condicionado.

         Quando eu estiver hospedado em um dos 560 quartos do Taj Mahal Palace Hotel, certamente, não terei tempo nenhum para me preocupar com as colocações do psiquiatra Agenor Antão de Aragonés Antúlio, que afirmou que as Marias desequilibradas, quando confrontadas com situações reais, tendem a ter surtos melindrosos, mas que na maioria das vezes é mera retórica para fugir da situação complicada.

         Quando ouvir na 98,3 FM, Rádio Mirchi Mumbai, o trecho da canção ARDOR DO INFANTE - “Vê, meu irmão, soa a metralha, sibilam balas a cantar” – não vou ter mais nenhuma dúvida sobre a necessidade da presença do marido da Ministra Ideli Salvatti, na comissão técnica que foi à Rússia para verificar a qualidade de um sistema de defesa antiaérea. O subtenente músico do Exército Brasileiro, Jeferson da Silva Figueiredo, munido de um diapasão, avaliará o sibilar da munição disparada pelo Pantsir-S1, sistema que custa o triplo dos modelos preferidos pelos militares brasileiros.

         Pois é, é muito mais fácil, ler, escrever, falar e pensar em sânscrito do que entender a incomPTência e a linha coruPTa da condução dos destinos desse Brasil. Sinceramente, mereço ou não mereço um repouso?

            (*) Jacornélio é tradutor juramentado nas línguas Panjabi e Tâmil. Trabalhou por muito tempo na Companhia Britânica das Índias Orientais.
Revisão: Paul Essence e Paul Word Spin (in memoriam).
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