Jornalista Andrade Junior

domingo, 23 de março de 2014

Um tiro no olho do Brasil -

PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA


CORREIO BRAZILIENSE - 
Domingo, 9 de março. A dois dias de completar 18 anos, um jovem deu um tiro à queima-roupa no olho de Yorraly, a ex-namorada, de 14, no Distrito Federal. Filmou a execução com o celular e, certo da impunidade, vangloriou-se compartilhando a cena com amigos na internet. Colegas meus, "cabeeeças", consideram de um reacionarismo atroz alguém levantar a hipótese de que o autor de um crime como esse precisa ser levado a julgamento e punido.
"Que atitude de direita, meu irmão?", fulminam. Afinal, isso só existe em países política e socialmente atrasados, como Canadá, Reino Unido, Dinamarca, Suécia... Aberrações de primeiro mundo como essas não frutificam por aqui, terra do inigualável ECA, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Trata-se de lei que estabelece: a pessoa não pode ser penalmente responsabilizada pelos crimes que cometer antes de fazer 18 anos. Mesmo que um dia, entediados, resolvam "brincar" de sair por aí fuzilando todo mundo que achar pela frente, eles estão salvos da cadeia.

Então a lei é um lixo? Em sua totalidade, não. Por exemplo: está lá que a proteção da infância e da juventude deve ser prioridade nas políticas sociais. Ocorre que, na prática, acaba prevalecendo apenas a parte que assegura o direito à imputabilidade penal. Os dispositivos que obrigam os governos a zelar pelo futuro de crianças e adolescentes são solenemente ignorados. Comparem a prioridade dada às escolas públicas e aos estádios "padrão Fifa". Melhor: não faça isso. Senão, você corre o risco de ser "fulminado" pelos ditos "progressistas". São outros os tempos e os valores.

No Brasil de hoje, reclamar do roubo de dinheiro público ou sair às ruas cobrando ensino com "s" é coisa de analfabeto político de "direita". Veja o caso do mensalão: todo aquele povo junto roubando o erário pode ser chamado de quadrilha? Claro que não. Repare a situação da Petrobras: pagar mais de US$ 1 bilhão por uma refinaria que um ano antes custou a bagatela de US$ 42,5 milhões é crime de lesa-pátria? Nunca. Só na cabeça de pessoas "reacionárias", dessas que exergam crime até numa simples brincadeira como essa que resultou na morte de Yorrally.

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