‘Quem trairá primeiro’
DEONÍSIO DA SILVA
O Brasil dá sinais de que vai mudar. Um ciclo ameaça completar-se. Tornando-nos ou não hexacampeões mundiais de futebol, reelegendo ou não a presidente Dilma, mudaremos!
Raramente mudamos sem traições. Joaquim Silvério dos Reis traiu Tiradentes, mártir de nossa Independência política, enforcado e esquartejado por ordem da rainha Maria I, avó de Dom Pedro I. Este, ao proclamar a Independência, traiu a memória da avó e também a Coroa portuguesa, à qual servia. Dom Pedro II, seu filho, foi traído pelo marechal Deodoro, que, apesar de monarquista, proclamou a República!
Assim, talvez fosse produtivo olharmos, de esguelha que seja, para o tema da traição, que tem Judas Iscariotes por emblema, ainda que haja uma releitura dos eventos da história da salvação para dizer que Judas não traiu, foi traído. E que entregou Jesus, seu aliado e amigo, ao sinédrio judaico, com a esperança de que ele enfim liderasse uma revolta contra Roma. Desesperado, o traidor se suicida, numa das versões bíblicas. Em duas outras, cai, parte-se-lhe a barriga e o chão fica cheio de sangue.
Para entender personalidades referenciais da vida brasileira atual, sem os condenar nem os absolver, que isso quando muito é tarefa do Judiciário ou da História, precisamos atentar para alguns sinais. Como se comportaram certas personalidades e o que disseram depois que a esquerda chegou ao poder com Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, continuando com Lula e Dilma?
Nas palavras insuspeitas de Darcy Ribeiro, era um luxo termos um presidente como Fernando Henrique Cardoso. Mas FH, tendo derrotado Lula em duas eleições presidenciais, tornou-se um verdadeiro homem sem qualidades para muitos de seus ex-colegas de esquerda. Quando o convidaram para fundar o Partido dos Trabalhadores, por exemplo, ele já não era o que era? Seus dois governos foram considerados por essas figuras das quais tudo se perdoa apenas um interstício doloroso a suportar até que o boia-fria Sassá Mutema fosse entronizado como “O salvador da pátria”. O grande Dias Gomes sabia das coisas e naquela telenovela não foi a única vez em que ele foi profeta.
Do governo Dilma ainda é cedo para falar o que se deve ou o que se pode, uma vez que até seus ministros acham que ela é apenas o terceiro governo do antecessor, como chegou a ser dito em terrível ato falho por uma de suas ministras, quando a chamou de “presidenta Lula”.
A vida brasileira vive o fim de um ciclo cujas complexas sutilezas não cabem num artigo de jornal, ainda assim suficiente para reconhecer a hora da mudança. O que vem por aí? Ainda não sabemos. Mas é provável que logo saberemos. Se as estruturas superficiais estão se movendo é porque debaixo delas algo mais profundo já se move há algum tempo, seja por ajustes de placas tectônicas, seja por influência de astros que brilham nos céus da pátria neste instante.
0 comments:
Postar um comentário