Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O tempo fora de tempo


‘O tempo fora de tempo’, por Carlos Brickmann


Publicado na  coluna de Carlos Brickmann
CARLOS BRICKMANN
Diz o Eclesiastes, um dos livros da Bíblia, que há um tempo para tudo, um tempo para tudo o que ocorre. Há, pois, que ter o tempo como aliado; e saber quando a hora não chegou. E, quando não for o tempo, adiar o que se deseja.
É justo ou não o pedido do ministro Joaquim Barbosa de aumento de salários no STF? Pode ser; mas não é hora de elevar agora o salário do STF para mais de R$ 30 mil, quando o salário mínimo talvez vá para R$ 722, e só no ano que vem. É correto manter o mandato do deputado federal Natan Donadon, do PMDB, preso por corrupção? Este colunista acha que não, a Câmara acha que sim; mas não é hora de criar a figura jurídica do deputado sem direitos políticos, que não pode votar nem ser votado, nem comparecer às sessões, mas continua deputado.
Não é o tempo certo para que a cúpula do país faça reivindicações, por justas que lhe pareçam. Multidões foram às ruas pedir seriedade na administração pública. Não é o tempo certo para que o governador do Ceará, do PSB, compre quatro helicópteros sem licitação e contrate bufês suntuosos para servi-lo; nem para que o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, arranje emprego público para a namorada, a sogra e o cunhado; nem para que o governador gaúcho, do PT, gaste R$ 400 mil do Tesouro para avaliar se o jornal Zero Hora o trata com imparcialidade; nem para que o governador do Piauí, do PSB, queira pagar seu hidratante, xampu reparador e gel esfoliante com dinheiro público. Puro deboche.
Parafraseando o Eclesiastes, que proveito tirou o povo de suas manifestações?
Sabedoria antiga
Um grande historiador, Capistrano de Abreu (1853-1927) dizia que a nossa Constituição deveria ter apenas dois artigos: “1 – Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara. 2 – Revogam-se as disposições em contrário”.

O caminho das pedras
Em duas semanas, dois jogos em Brasília, com times de fora, e duas grandes brigas no Estádio Mané Garrincha. Um torcedor do Flamengo foi seriamente machucado por são-paulinos; corinthianos e vascaínos brigaram a pauladas, ignorando a polícia. Três dos brigões corinthianos estavam entre os detidos em Oruro, após a morte do garoto boliviano Kevin Strada. Fala-se em proibir as torcidas organizadas, mas isso não funciona: basta que troquem de nome, e pronto.

No caso Watergate, a principal fonte dos jornalistas que revelaram o escândalo repetia sempre um lema: “Sigam o dinheiro”. O que se tem de fazer no futebol é buscar o caminho do dinheiro. Como puderam os briguentos ir a Oruro, viajar de avião a Brasília, comprar os caros ingressos, fora outras despesas? Os que ficaram detidos em Oruro por vários meses certamente perderam o emprego. Quem paga suas viagens?
Achando-se a resposta, as brigas acabam na hora.
Ela não sabia!
Eduardo Gaievski, assessor da ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, está foragido: exonerou-se e desapareceu depois de ter sido acusado de abusar sexualmente de meninas pobres, pagando-lhes de R$ 150 a R$ 200 (há outras acusações contra ele, mas esta é a mais grave). Gaievski foi prefeito de Realeza, no Paraná, preparava sua candidatura a deputado estadual pelo PT e seria coordenador da campanha de Gleisi ao Governo do Estado, no ano que vem.

E que disse a petista Gleisi sobre o caso? Claro: que não sabia de nada. Que, antes de nomear o assessor, o Governo consultou a ABIN, a Justiça, cartórios “e todos os órgãos necessários”, mas não recebeu informações porque os processos contra ele corriam em segredo de justiça. Pois é. Mas talvez tenha se esquecido do Cartório da Comarca de Realeza.
A certidão, mediante simples consulta, lista 12 ações contra Gaievski, incluindo a de exploração sexual.
Dúvida pertinente
Uma pergunta: que significa “rigoroso inquérito”? Há inquéritos dignos desse nome que não sejam rigorosos? A propósito, já existe algum resultado do “rigoroso inquérito” sobre as denúncias da Siemens a respeito do cartel nos fornecimentos para trens urbanos e Metrô em São Paulo, que conforme as denúncias funcionaria desde o Governo Mário Covas, o primeiro da atual dinastia do PSDB?

Há gente daquela época até hoje ocupando cargos importantes, e seria de seu interesse que tudo fosse logo esclarecido, para afastar qualquer suspeita.
A fila anda
É bom que o “rigoroso inquérito” sobre o cartel em São Paulo ande logo, porque parece que há mais coisas rolando. Existe quem fale em problemas em outros Estados, em fornecimentos para usinas e trens de passageiros regionais.

Faça o que eu digo
Está em pleno desenvolvimento o esforço governista de demonização do senador boliviano Roger Pinto, que ficou 455 dias isolado num quarto da Embaixada brasileira em La Paz e fugiu para o Brasil com auxílio do diplomata Eduardo Saboia. Todas as acusações que o Governo boliviano fez contra ele foram descartadas pelo Governo brasileiro, ao conceder-lhe asilo; mas agora são utilizadas como se fossem verdadeiras e comprovadas.

Veja o que diz José Dirceu – o próprio – em seu blog: “Molina, que deveria estar cumprindo pena (…)”

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