Jornalista Andrade Junior

sábado, 28 de setembro de 2013

A urgência da competição - PEDRO LUIZ PASSOS


FOLHA DE SP -
Só a exposição das empresas à concorrência externa levará ao crescimento sustentado da economia


O caminho do crescimento sustentado e do progresso social, nossos maiores desafios, requer um novo posicionamento da economia brasileira. Esse processo deverá associar maior abertura e integração internacional mais profunda, de forma a remover a restrição central do nosso desenvolvimento: a baixa produtividade.

Abertura e integração econômica ajudarão a estabelecer padrões de competição para nossas empresas, tornando de vital relevância a permanente melhora da qualidade, da governança, da inovação e, consequentemente, da produtividade.

A globalização das últimas três décadas reconfigurou o crescimento econômico, abrindo canais importantíssimos para que economias emergentes se aproximassem do mundo desenvolvido. Só marginalmente o Brasil participou desse movimento e não conquistou como deveria o seu espaço no novo mapa global da produção e dos avanços tecnológicos.

Esse distanciamento foi consequência, em parte, do câmbio defasado que predominou por longo período de tempo e dos elevados custos internos de produção, mas também decorreu da inexistência de políticas para integrar o país aos mais dinâmicos fluxos do comércio mundial. Ausente das cadeias industriais globais, nossa economia voltou-se ao mercado interno e ampliou sua especialização em commodities. A perspectiva de efetivação de grandes acordos internacionais, tal como o tratado de livre comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia que se encontra em discussão, evidencia o atraso do Brasil nessa matéria e expõe a necessidade de se estabelecer rapidamente uma política para reverter a situação, incluindo uma profunda revisão do Mercosul.

O sucesso nos processos de abertura das economias emergentes ao comércio exterior e ao investimento estrangeiro, que permitiram maior absorção de tecnologia e crescimento das exportações, dependeu também de políticas internas. Despontaram os países que combinaram condições econômicas favoráveis (câmbio, tributação, infraestrutura etc.) com formação de redes domésticas entre as empresas integradoras e os fornecedores de peças, componentes, equipamentos e sistemas de logística.

Na era da globalização, as políticas de desenvolvimento voltadas à maior participação nas cadeias de geração de valor contemplaram, pelo menos, dois aspectos.

Um deles foi a busca de meios mais eficazes de integração comercial, nos quais as reduções de tarifas e os acordos de livre comércio facilitaram e baratearam as importações, baixaram os custos de produção e, consequentemente, deram maior competitividade às exportações. O outro foi o incentivo à internacionalização das empresas.

A primeira orientação é decisiva para que a produção doméstica tenha como referência a estrutura internacional de custos. Implica ainda criar canais de atualização tecnológica para a estrutura de produção. Já a internacionalização das empresas é fundamental para a conquista e renovação constante de padrões de produtividade impostos pela competição a nível global. Enfim, para promover de fato a integração às cadeias globais é necessário atrair o investimento estrangeiro, mas também é preciso estimular a internacionalização das empresas nacionais.

A intensidade dos ganhos gerados por essas medidas vai depender dos avanços da produtividade geral da economia doméstica, o que implica melhorias da educação, da infraestrutura, das redes de comunicação e dos sistemas tributários, fatores carentes de mudanças profundas.

As deficiências do país, porém, não devem desviar nossa atenção da busca por maior participação nas cadeias globais de valor. Trata-se de condição essencial para a aceleração do crescimento de qualquer economia que almeje uma aproximação com as nações mais avançadas. Essa integração vai exigir políticas comerciais e de investimentos distintas daquelas executadas no passado.

O atraso na inserção internacional impõe ao Brasil um duplo movimento: conferir prioridade absoluta à redução de custos na base de suas cadeias de produção e resgatar o quanto antes uma política exterior determinada e pragmática.

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