Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 4 de junho de 2021

"Patriota: um raio X do provável partido de Bolsonaro",

 por Silvio Navarro


Bastam duas palavras — “patriota partido” — digitadas nos buscadores da internet para descobrir qual sigla vem sendo forjada para o presidente Jair Bolsonaro tentar a reeleição no ano que vem. O resultado da pesquisa indica o site oficial do Patriota (número 51 na urna), seguido dos dizeres: “Brasil acima de todos”. Trata-se de uma adaptação do bordão adotado desde a corrida eleitoral de 2018 pelo então candidato Bolsonaro — sua origem remete ao lema da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército nos anos 1960: “Brasil acima de tudo”.

O convite para a filiação do presidente da República foi oficializado nesta semana, durante um encontro em Brasília, pelo dirigente do partido, Adilson Barroso, ao lado do senador Flávio Bolsonaro (RJ), que passou a integrar a agremiação. “Está quase certo, estamos negociando. É como um casamento: tem de ser programado, planejado, senão dá problema”, afirmou Bolsonaro ao ser questionado na última terça-feira sobre o que ele há meses chama de “namoro” com a sigla.

O Patriota foi criado em 2011 com o nome de Partido Ecológico Nacional (PEN). A escolha do nome foi uma tentativa, à época, de atrair a ex-senadora Marina Silva para concorrer à Presidência, mas o plano naufragou porque a criação da Rede Sustentabilidade, que hoje ela lidera, saiu do papel. Em 2017, a sigla repaginou-se, mudou a alcunha para Patriota e deu uma guinada no estatuto para a centro-direita a fim de atrair o próprio Bolsonaro. Quase deu certo, mas ele optou pelo guarda-chuva do PSL. A solução do “PATRI” (como a legenda aparece nos placares de votos) foi lançar o folclórico Cabo Daciolo, que terminou o primeiro turno com mais de 1,3 milhão de votos, à frente de nomes como Marina Silva e o ex-ministro Henrique Meirelles.

No ano seguinte, a jogada da sigla foi incorporar o também nanico Partido Republicano Progressista (PRP). O objetivo era unir os seis deputados do Patriota aos quatro eleitos pelo PRP, um velho truque muito utilizado para conseguir ultrapassar a chamada cláusula de barreira, que dá direito a uma fatia do fundo partidário. A Justiça Eleitoral autorizou a fusão, formou-se uma bancada com nove federais — ficaram seis —, e, em 2020, o Patriota teve acesso a R$ 21 milhões dos cofres públicos.

Com dinheiro em caixa e estatuto novo, a missão passou a ser ganhar alguma musculatura nas eleições municipais. Foram eleitos 50 prefeitos e mais de 700 vereadores. No maior colégio do país, o deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei e ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), foi a principal surpresa, com 522 mil votos para a prefeitura paulistana, superando o petista Jilmar Tatto. Nas câmaras municipais, também despontaram alguns nomes, como o mineiro Gabriel Azevedo, em Belo Horizonte.

O saldo da eleição passada, porém, tornou-se uma pedra no sapato dos dirigentes do Patriota, especialmente Adilson Barroso. Ex-vereador da pequena cidade paulista de Barrinha, na região de Ribeirão Preto, ele afirma que “nunca desistiu do sonho” e que prepara o partido para receber Bolsonaro há anos. Acontece que, nas últimas semanas, quando o seu sonho se tornou possível, parte dos diretórios estaduais estava tomada por “antibolsonaristas” declarados, como os representantes do MBL. No caso de Minas Gerais, o vereador Gabriel Azevedo foi expulso justamente pelas críticas ao presidente da República. Mas, em São Paulo, a confusão foi maior. Em uma convenção realizada na terça-feira 1º de junho, numa sala em Barrinha, Adilson Barroso dissolveu diretórios, mudou dirigentes e preparou o terreno para a chegada do líder máximo. Comprou uma briga interna que quase terminou em pancadaria caipira — daquelas com arremesso de cadeiras — e foi parar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O plano de voo de Bolsonaro mira a eleição de ao menos 50 cadeiras na Câmara

Segundo aliados da família de Bolsonaro, é só esse o entrave que ainda o separa da ficha de filiação. Leia-se: ele quer ter certeza de que não terá adversários internos, como o grupo do MBL, porque assumirá o posto de “presidente de honra” da sigla. Mais: da sua caneta sairão vetos e chancelas a quem quiser disputar cargos eletivos em 2022, especialmente para a bancada de deputados. O plano de voo de Bolsonaro mira eleger ao menos 50 cadeiras na Câmara — ou até mais, como conseguiu ao impulsionar o PSL no pleito anterior —, senadores e ter alguns candidatos aos governos competitivos. Em São Paulo, seu “plano A” é o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que até agora resiste à ideia.

“Se tem uma coisa que eu quero e tenho certeza de que ele [Bolsonaro] vai querer, é não deixar entrar quem venha aqui só para usar o nome dele, ganhe a eleição e depois use o plenário para discursar contra o presidente”, diz Adilson Barroso. “O Patriota tem o nome que Bolsonaro mesmo deu, o estatuto que praticamente ele fez. […] Tem tudo de que o presidente precisa.”

Num país onde partido político se confunde com balcão de negócios regado com dinheiro público, não faltam ofertas de filiação a quase nenhum político com potencial nas urnas — que dirá para Jair Bolsonaro. O próprio PSL já flertou com o seu retorno, até porque só tem a estatura atual graças a ele e sabe que o horizonte em 2022 não é nada alvissareiro. A permanência de nomes em suas fileiras que jogam e jogarão contra a reeleição do presidente pesa na direção oposta a um eventual regresso seu. Também os tradicionais PTB, de Roberto Jefferson, e PP, aos quais ele já foi filiado, abriram as portas, mas em ambos Bolsonaro não teria o controle absoluto dada a fragmentação de líderes regionais.

Quem tomou rumo semelhante recentemente para tentar atrair o presidente foi o Partido da Mulher Brasileira (PMB), que no mês passado mudou sua nomenclatura para Brasil 35. Chegou a ser o caminho preferido depois que a criação do Aliança Pelo Brasil não atingiu o número de assinaturas para se viabilizar a tempo. Faltam ao PMB, contudo, recursos para fazer campanha, já que não elegeu nenhum deputado federal em 2018. A despeito da força das redes sociais e mobilizações espontâneas nas ruas, Bolsonaro terá de arcar com despesas de viagens pelo país depois do expediente no Palácio do Planalto no ano que vem — e quem pagará a maior fatia dessa fatura será o partido escolhido. Por exemplo: conforme a distribuição do fundo eleitoral — destinado a financiar campanhas e que não tem nada a ver com o fundo partidário, usado para gastos do cotidiano da legenda —, o PMB receberá R$ 1,2 milhão; o Patriota, R$ 35 milhões.

Em tese, Bolsonaro ainda tem muito tempo para se decidir sobre sua nova casa. Segundo o TSE, o prazo para filiação vai até seis meses antes da eleição de outubro de 2022. Antecipar a data do “casamento”, contudo, favorece a organização dos convidados para a festa — e desta vez, quanto mais cedo isso ocorrer, o comparecimento poderá ser decisivo.


Revista Oeste

















PUBLICADAEMhttp://rota2014.blogspot.com/2021/06/patriota-um-raio-x-do-provavel-partido.html

0 comments:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More