Alex Pipkin, PhD
Sou cinquentenário, 5.5, portanto, de acordo com o conjunto de valores que fui ensinado e que prezo, eu respeito os mais velhos.
Não, os mais velhos não representam sinais de autoridade, pelo contrário, são símbolos da sabedoria acumulada. É evidente que, de um modo geral, eles têm mais janela do que eu, mas, sobretudo, considero-os porque eles leram muito mais e, claro, no papel, com as letras impressas.
Tenho ficado impressionado negativamente com a escassez de leitura, especialmente dos jovens estudantes. Será que é possível ter uma compreensão adequada e ampliada do mundo - e de suas coisas - sem ler “de tudo e de todos”?
Tenha em mente - se é que já não esqueceu do parágrafo acima - que me refiro a uma leitura atenta, sem distrações e, de fato, comprometida. Uma leitura interessada nos faz viver outras vidas, imaginar, compreender múltiplas perspectivas e, acima de tudo, refletir com os pés no chão e os pensamentos viajando criativamente no tempo e no espaço.
Eu não sei... penso que em alguns aspectos estamos andando para trás, o que não é nada bom.
Primeiro, porque embora não tenha realizado uma pesquisa formal, minha amostra indica cabalmente que a grande maioria das pessoas não lê. Quem não lê fica a mercê da famosa brincadeira do telefone sem fio, na qual uma pessoa fala uma frase ao ouvido de outra ao seu lado e a tal frase vai movendo-se até o último participante. Além da turma acreditar numa pseudo-verdade tribal, esta acaba sendo ainda mais distorcida. Não é preciso aprofundamentos para sacar a alegria de líderes populistas em geral com esta situação, no fácil quesito de manipulação dessa gente desinformada.
Segundo, muita gente “se informa” pela grande mídia e/ou pelas redes sociais.
Faz tempo que a grande mídia deixou de informar os fatos como eles são, omitindo e distorcendo-os de acordo com a sua notória agenda ideológica; até cego enxerga.
Por sua vez, as redes sociais transformaram-se em câmaras de eco tribais, que somente dão voz e vez para a ditadura de suas visões de mundo parciais, enviesadas e, muitas vezes, completamente desarrazoadas.
Terceiro, porque se “lê” não se lendo. As telinhas dos laptops e dos telefones são salvadoras, mas quando se trata de leitura, pode-se estar passando os olhos, rapidamente, prejudicando ou matando a capacidade de apreensão daquilo que se lê. Ok, pode-se descartar o que já se sabe, porém, o calamitoso é desprezar o que não se sabe.
Talvez não seja unicamente um hábito que possuo, mas o tocar no papel e o mirar a tinta impressa, creio eu, atiça minha atenção e concentração. Na presença da distração, os pés voam junto com a cabeça... O mais trágico é que quem não lê atentamente, provavelmente só irá querer confirmar aquilo que vai ao encontro de suas crenças apreendidas; o bicho-homem assim funciona.
As consequências problemáticas do acima exposto não cessam com o estreitamento e a deturpação das realidades. Outro problema abissal é a falta de memória daquilo que - quando se lê - se leu.
Ou tudo que se leu e se viu do demiurgo de Garanhuns não são suficientes para comprovar seus atos ilícitos e seu achaque aos cofres públicos?
Ou tudo que se leu sobre a plataforma econômica liberal do ministro Paulo Guedes, reiteradamente afirmando que não haveria aumento de impostos, e agora propondo um inacreditável aumento a pessoa jurídica, não é um fato? Ou é um fato do mundo político?
Quem lê mesmo compreende que estamos no país de Lewis Carroll!
Como li atentamente o saudoso Paulo Francis, fecho com uma de suas frases: “Quem não lê, não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo”.
publicadaemhttps://www.puggina.org/outros-autores-artigo/abstinencia-de-leitura-e-desmemoria__17466
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