editorial O Globo
Enquanto o quadro político vive as indefinições de um período pré-eleitoral, incrementadas por dificuldades próprias do governo impopular de Michel Temer, a economia emerge, de forma indiscutível, da recessão histórica do biênio 2015-16, reforçada por uma estagnação em 2014.
Foi um período em que a inflação voltou aos dois dígitos, a produção desabou algo próximo dos 8%, a renda per capita encolheu cerca de 10%, por força também de um desemprego assustador de 13,7%, atingindo 14,2 milhões de pessoas. Não há nos registros oficiais crise mais grave que esta.
Diante disso e da tendência de evolução da economia, o 0,1% de crescimento do PIB no terceiro trimestre, calculado pelo IBGE, é animador, embora tenha ficado aquém de algumas estimativas. Mas o próprio IBGE reviu os números do segundo trimestre, que havia sido de queda, e, por isso, no período, o PIB terminou estável. Dessa forma, a economia voltou a produzir o mesmo do fim de 2015, e com isso recuperou-se da recessão de 3,5% de 2016. É a terceira alta trimestral consecutiva, o que marca a saída da recessão.
Os números vistos “por dentro” são até mais auspiciosos. O consumo continua em alta, muito devido à recuperação de empregos — o índice de desemprego está em 12,2%, o sétimo recuo seguido —, embora a grande maioria das vagas seja de trabalho informal. A inflação baixa dá decisiva contribuição ao poder de compra da população.
Os investimentos, enfim, cresceram (1,6%), depois de 15 trimestres em queda. Há muita capacidade ociosa ainda a ser preenchida sem a necessidade de as empresas fazerem compras volumosas de máquinas, mas as inversões voltam a aumentar, certamente na modernização de linhas de produção. Tudo muito positivo.
Outro indicador de crescimento é a elevação em 6,6% das importações, com destaque para a compra lá fora de máquinas e equipamentos, a prova dos noves que confirma a volta dos investimentos. E tudo vai afunilando para uma expansão do PIB, este ano, próxima de 1%.
Mas este quadro benigno depende do intrincado, indefinido, cenário político. Não apenas devido às incertezas que cercam as eleições de 2018, das quais dependerá a continuidade do saneamento do meio ambiente econômico. Quanto maior a perspectiva da volta do populismo, piores os prognósticos, com reflexo imediato nos mercados e nos investimentos no setor produtivo. E vice-versa.
Prova de que a importância da política como fator de condicionamento da economia não se resume às eleições é que esta relação de dependência já ocorre no momento, como demonstram as resistências do Congresso a iniciar a reforma da Previdência. Quanto maior elas forem, menor o ânimo dos agentes econômicos. O estoque de boas notícias econômicas, portanto, pode não ser suficiente para compensar os descompassos políticos.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário