por Helena Chagas Com Blog do Noblat - O Globo
No subtexto de tudo o que está sendo dito, negociado e noticiado sobre a
possibilidade de impeachment e de substituição da presidente Dilma
Rousseff pelo vice Michel Temer está a pergunta que não quer calar: um
eventual governo Temer terá condições de frear ou, ao menos, atenuar o
ímpeto da Lava Jato? Ainda não se sabe a resposta, mas ela – ou as
suposições que se fazem em torno dela – terá importância crucial na
votação do impeachment num Congresso cheio de acusados.
Afinal, acima e além das barganhas em torno de cargos e outros brindes,
está a Lava Jato. Mais do que ter um ministério ou uma diretoria de
estatal, quem está ou pode estar nela quer salvar a própria pele e
escapar da cadeia. A esta altura, para muita gente, a sobrevivência é a
principal moeda de troca.
Incomodado com rumores sobre um hipotético “acordão” em que prometeria
salvar cabeças políticas em troca de apoio ao impeachment, o próprio
Temer aproveitou almoço com empresários nesta quinta para desmentir
qualquer “operação abafa”. Disse que é um constitucionalista e que
respeita as instituições. Afiançou que a Lava Jato continua se ele virar
presidente.
Disso ninguém duvida, e não se imagina o vice, uma vez investido na
presidência, dando ordens para suspender operações, amarrando a Policia
Federal e tentando interferir em instituições independentes como o
Ministério Público. Nada em sua longa vida pública como jurista e
político autoriza tal previsão.
Nessa mesma vida pública, porém, o professor de Direito Constitucional
Michel Temer construiu um perfil que junta habilidade política a bom
trânsito junto a instâncias do Judiciário, Ministério Público e
instituições da área jurídica, incluindo o STF. E há uma longa
distância entre tentar abafar ostensivamente uma operação midiática como
a Lava Jato e fazer articulações discretas e pontuais para reduzir seu
ritmo, atenuar efeitos e tornar seus lances menos drásticos e
dramáticos.
É isso o que, segundo alguns, Temer pode fazer. Conseguindo aprovar o
impeachment pela Câmara e sua autorização pelo Senado, o vice assumiria o
governo provisoriamente e teria o prazo de 180 dias que o Senado pode
levar para julgar a presidente para um test drive. Se mostrar serviço e
operar uma pacificação em torno da Lava Jato, teria grandes chances de
ver o Senado de Renan Calheiros e outros condenar a presidente da
República e ficar de vez na cadeira.
Teria lá seus argumentos junto ao Judiciário e a outras instituições
envolvidas na investigação: o país não aguenta mais sangrar a reboque
das surpresas da crise política, a economia necessita de reformas
urgentes e inadiáveis, é preciso recuperar a confiança interna e externa
e mostrar que há governo.
Se a página da Lava Jato, com seus sobressaltos diários, não for virada,
dificilmente haverá Legislativo para levar esses planos adiante.
Afinal, os acusados na Câmara e no Senado estão, em muitos casos, no
topo da hierarquia parlamentar – aquela que comanda votos, sessões,
presenças e ausências, inclusive na votação do impeachment.
Apesar das negativas, portanto, a possibilidade de redução na voltagem
da Lava Jato é hoje a barganha das barganhas, a mãe de todos os acordos:
entrega a cabeça da presidente da República e de mais alguns próceres
do Legislativo – possivelmente, a do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
– e o pessoal da Lava Jato dá uma trégua, passa a trabalhar mais
devagar e com menos estardalhaço. Os demais acusados, a maioria com foro
no STF, ganham no mínimo tempo. Talvez muito tempo.
Como, na atual crise, um dia é da caça e outro do caçador, e a verdade
que se tem de manhã nunca é a mesma da noite, é difícil prever o que vai
acontecer. A semana que começou emparedando o governo com o rompimento
do PMDB termina bem mais amena para o Planalto, com a divisão dos
peemedebistas, a aproximação com PP, PR e outros partidos menores, a
farta distribuição de cargos e mais uma manifestação a seu favor nas
ruas. Impossível dizer hoje se vai ou não haver impeachment.
O certo é que qualquer negociação envolvendo a mais midiática operação
policial e judicial da história do pais terá que ser combinada com os
russos. E, diferentemente do que se pensava, os russos não estão mais
morando em Curitiba. Espalharam-se pelo Brasil inteiro.
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