Jornalista Andrade Junior

domingo, 3 de abril de 2016

"De moedas e trocas",

 por Helena Chagas Com Blog do Noblat - O Globo

No subtexto de tudo o que está sendo dito, negociado e noticiado sobre a possibilidade de impeachment e de substituição da presidente Dilma Rousseff pelo vice Michel Temer está a pergunta que não quer calar: um eventual governo Temer terá condições de frear ou, ao menos, atenuar o ímpeto da Lava Jato? Ainda não se sabe a resposta, mas ela – ou as suposições que se fazem em torno dela – terá importância crucial na votação do impeachment num Congresso cheio de acusados.
Afinal, acima e além das barganhas em torno de cargos e outros brindes, está a Lava Jato. Mais do que ter um ministério ou uma diretoria de estatal, quem está ou pode estar nela quer salvar a própria pele e escapar da cadeia. A esta altura, para muita gente, a sobrevivência é a principal moeda de troca.
Incomodado com rumores sobre um hipotético “acordão” em que prometeria salvar cabeças políticas em troca de apoio ao impeachment, o próprio Temer aproveitou almoço com empresários nesta quinta para desmentir qualquer “operação abafa”. Disse que é um constitucionalista e que respeita as instituições. Afiançou que a Lava Jato continua se ele virar presidente.
Disso ninguém duvida, e não se imagina o vice, uma vez investido na presidência, dando ordens para suspender operações, amarrando a Policia Federal e tentando interferir em instituições independentes como o Ministério Público. Nada em sua longa vida pública como jurista e político autoriza tal previsão. 
Nessa mesma vida pública, porém, o professor de Direito Constitucional Michel Temer construiu um perfil que junta habilidade política a bom trânsito junto a instâncias do Judiciário, Ministério Público e instituições da área jurídica, incluindo o STF.  E há uma longa distância entre tentar abafar ostensivamente uma operação midiática como a Lava Jato e fazer articulações discretas e pontuais para reduzir seu ritmo, atenuar efeitos e tornar seus lances menos drásticos e dramáticos.
É isso o que, segundo alguns, Temer pode fazer. Conseguindo aprovar o impeachment pela Câmara e sua autorização pelo Senado, o vice assumiria o governo provisoriamente e teria o prazo de 180 dias que o Senado pode levar para julgar a presidente para um test drive. Se mostrar serviço e operar uma pacificação em torno da Lava Jato, teria grandes chances de ver o Senado de Renan Calheiros e outros condenar a presidente da República e ficar de vez na cadeira.
Teria lá seus argumentos junto ao Judiciário e a outras instituições envolvidas na investigação: o país não aguenta mais sangrar a reboque das surpresas da crise política, a economia necessita de reformas urgentes e inadiáveis, é preciso recuperar a confiança interna e externa e mostrar que há governo.
Se a página da Lava Jato, com seus sobressaltos diários, não for virada, dificilmente haverá Legislativo para levar esses planos adiante. Afinal, os acusados na Câmara e no Senado estão, em muitos casos, no topo da hierarquia parlamentar – aquela que comanda votos, sessões, presenças e ausências, inclusive na votação do impeachment.   
Apesar das negativas, portanto, a possibilidade de redução na voltagem da Lava Jato é hoje a barganha das barganhas, a mãe de todos os acordos: entrega a cabeça da presidente da República e de mais alguns próceres do Legislativo – possivelmente, a do presidente da Câmara, Eduardo Cunha – e o pessoal da Lava Jato dá uma trégua, passa a trabalhar mais devagar e com menos estardalhaço. Os demais acusados, a maioria com foro no STF, ganham no mínimo tempo. Talvez muito tempo.
Como, na atual crise, um dia é da caça e outro do caçador, e a verdade que se tem de manhã nunca é a mesma da noite, é difícil prever o que vai acontecer. A semana que começou emparedando o governo com o rompimento do PMDB termina bem mais amena para o Planalto, com a divisão dos peemedebistas, a aproximação com PP, PR e outros partidos menores, a farta distribuição de cargos e mais uma manifestação a seu favor nas ruas. Impossível dizer hoje se vai ou não haver impeachment.
O certo é que qualquer negociação envolvendo a mais midiática operação policial e judicial da história do pais terá que ser combinada com os russos. E, diferentemente do que se pensava, os russos não estão mais morando em Curitiba. Espalharam-se pelo Brasil inteiro.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT

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