Nelson Motta: O Globo
As previsões se confirmaram: perdemos todos. Mas Dilma e Lula perderam mais.
Vagando como um fantasma pelas madrugadas do Alvorada deserto, sem
autoridade, sem credibilidade, sem amigos ou aliados, se não fosse tão
arrogante, autoritária e incompetente, e se não tivesse tanto desprezo
pela inteligencia alheia, Dilma mereceria pena.
O grande escritor argentino Julio Cortázar dizia que a ficção é a
história secreta das sociedades. O combinado entre Lula e Dilma era que
ela ficaria quatro anos esquentando lugar para a volta triunfal do
Grande Líder. Mas Dilma gostou da vida de rainha e, na reunião do
“comitê central” do PT, teria se trancado com Lula em uma sala e saído
sorridente, e ele, cabisbaixo. O que Dilma teria dito a Lula de tão
terrível para fazê-lo desistir do seu lugar? Por enquanto, é só uma boa
história de mistério, mas a realidade brasileira produz tramas que
superam qualquer ficção, e talvez hoje Dilma esteja secretamente
arrependida.
Um circo de horrores presidido por Eduardo Cunha e com 100 deputados
réus e investigados não é festa, é velório. É a falência de um sistema
político-eleitoral putrefato. Não há o que comemorar, estaremos nas mãos
da bandidagem do PMDB, tão maligna quanto os petistas que montaram o
esquema de roubalheira na Petrobras para fraudar eleições e se
eternizarem no poder, além de enriquecer ladrões. E dividir o país.
Com Dilma desmoralizada, rejeitada por 75% da população e por 2/3 do
Congresso, não havia saída, nem para ela nem para o país. Foi
constrangedor vê-la tentando uma falsa humildade tardia, propondo pactos
com quem diz golpistas, sem jamais reconhecer seus erros, sem assumir
suas responsabilidades nas decisões que a reelegeram e nos levaram aonde
estamos. Não dá para ter pena.
Com o impeachment e alguma sorte e vontade política, temos uma remota
chance de melhorar com as reformas tributária, previdenciária e politica
(com o recall !), urgentes, enquanto a sociedade está mobilizada.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário