Empresas
privadas terão aval do governo para construir aeroportos e explorar comercialmente
nessas unidades o transporte aéreo regular — passageiros e cargas, voos
domésticos e internacionais, lojas e hotéis nos terminais — dentro de uma
modalidade chamada autorização, que oferece benefícios em relação ao modelo de
concessão. Até agora essa permissão se restringia à aviação executiva, que
engloba jatos executivos e helicópteros. As novas regras deverão ser anunciadas
por medida provisória (MP) na próxima quarta-feira e contrariam os interesses
das concessionárias que venceram os leilões de Guarulhos, Viracopos e Galeão e
temem perder mercado com os novos terminais.
Quem sai
ganhando com a MP são as construtoras Andrade Gutierrez e Camargo Correa,
interessadas em erguer o terceiro aeroporto da Região Metropolitana de São
Paulo, em Caieiras, a 35 quilômetros da capital. As duas construtoras entraram
na disputa por Guarulhos — via CCR, na qual detêm 17% cada — mas não levaram,
ganharam depois apenas a concessão de Confins (MG). Há ainda o interesse da
iniciativa privada também na construção de um aeroporto de grande porte no
Norte do país, provavelmente a ser instalado em Belém (PA). O recém-inaugurado
aeroporto de Natal já é 100% privado, mas opera mediante concessão, ou seja,
sob as regras dos privatizados.
As
companhias que explorarem os novos terminas privados terão que pagar uma
outorga mínima para a União, com base no faturamento anual. Em contrapartida,
ficarão isentas de recolher o Ataero, adicional tarifário que corresponde a
35,9% das tarifas nos embarques domésticos e 50% nos internacionais. Essas
receitas hoje ajudam a compor os recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil
(Fnac), criado pelo governo para investir nos pequenos aeroportos do país,
administrados por estados e prefeituras e pela Infraero.
Galeão
pode ter menos voos
Os detalhes
da nova modalidade, chamada de autorização, ainda serão fechados no início
desta semana. Segundo interlocutores, a ideia é que os preços cobrados pelos
aeroportos particulares sejam livres, mas a União poderá reprimir práticas
prejudiciais à concorrência e ao abuso do poder econômico. Nos demais, a
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) define os tetos das tarifas e os
operadores podem conceder descontos nos seus terminais para atrair a demanda.
O sistema
de autorização é diferente da concessão, em que os operadores já receberam os
aeroportos prontos e em operação: Brasília, Guarulhos, Viracopos, Galeão e
Confins, embora tenham sido obrigados a fazer pesados investimentos para
ampliar a infraestrutura, sobretudo para a Copa — e terão a Infraero como sócia
obrigatória, com 49% do negócio. No novo modelo, todo o risco fica com o
investidor, inclusive o terreno, que é particular, e não da União, como nas
concessões.
Os atuais
concessionários, que venceram os leilão dos aeroportos com ágios médios de 347%
e vão pagar outorgas elevadas para o governo durante o prazo da concessão,
temem perder mercado com o novo terminal de São Paulo (Guarulhos, Congonhas e
Viracopos). O maior prejudicado, segundo especialistas, seria Viracopos,
candidato natural a herdar voos internacionais de Guarulhos. Procurada, a
concessionária de Guarulhos — liderada pela Invepar — não se manifestou. O
GLOBO não conseguiu contato com a concessionária de Viracopos ontem à tarde.
No caso
do Galeão, apesar de mais distante, a avaliação é que há risco de perda de
passageiros de voos internacionais no futuro. A concessionária Aeroporto Rio de
Janeiro, que assumirá definitivamente o aeroporto carioca em agosto, disse em
nota que “os investimentos de R$ 5 bilhões para modernizar e ampliar a capacidade
do Galeão, foram definidos com base na regulação de operação de aeroportos
comerciais vigente, acompanhando a demanda de crescimento de voos
internacionais previstas para os próximos 25 anos” e que “as regras para a
criação de novos aeroportos comerciais devem respeitar os direitos privados já
firmados nas concessões aeroportuárias garantindo tratamento igualitário”.
Disse ainda que “tem confiança que o governo promoverá o debate para que as
condições e os investimentos previstos e comprometidos não sejam impactados
negativamente.”
Mudança
influencia demanda futura
Para
Lucas Arruda, sócio da consultoria Lunica, a mudança no modelo de exploração de
aeroportos trará mais concorrência para o setor, o que é positivo. Ele afirma,
porém, que as atuais concessionárias serão impactadas, pois as novas regras
mudam o cenário futuro.
— Ao
fazer a oferta no leilão, as concessionárias embasam seus lances e planos de
investimentos na expectativa de demanda futura. Se um outro terminal que não
existia passa concorrer com elas, isso significa que elas podem não capturar a
demanda que estimavam, o que altera as projeções de retorno de investimentos —
diz Arruda.
O
entendimento do Executivo é que o novo aeroporto paulista levaria ao menos sete
anos para ficar pronto e entrar em operação, considerando o licenciamento
ambiental. Neste prazo, os operadores atuais poderão reverter boa parte dos
investimentos realizados. Além disso, não há cláusulas nos contratos que
impeçam novas concessões.
De acordo
com fontes do setor privado, o novo terminal vai custar, no mínimo, R$ 5
bilhões e terá capacidade para atender 20 milhões de passageiros, em dez anos,
podendo chegar a 45 milhões. Os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Congonhas
movimentam em torno de 70 milhões de passageiros por ano.
— Mantido
o crescimento do setor, haverá espaço para mais um aeroporto de grande porte em
São Paulo. As empresas defendem preços livres e querem ficar de fora do Ataero.
Caso contrário, terão que elevar muito as tarifas para cobrir os investimentos,
o que inviabiliza empreendimento —disse um empresário que pediu anonimato.
O
ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, tem pressa em anunciar as novidade
para atrair os investimentos privados, que estão retraídos, diante da piora das
expectativas na economia brasileira.
A
liberação da construção e exploração de aeroportos privados foi incluída na MP
627, sancionada recentemente e que definiu tributação das multinacionais
brasileiras, mas esse trecho foi vetado pela presidente Dilma Rousseff. O
argumento do Planalto é que seria necessária uma legislação específica para
alterar o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA). Além disso, a emenda previa o
pagamento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) pelos
novos operadores. Na avaliação de um ministro, a outorga mínima é mais indicada
para o setor.
Fonte: O Globo
0 comments:
Postar um comentário