Uma
das mais admiráveis figuras do século 20, Nelson Mandela, reconciliou a
África do Sul – que saía do abominável regime do apartheid – consigo
mesma promovendo pacificamente o entendimento entre a minoria branca
opressora e a ampla maioria negra oprimida. Lula continua fazendo
exatamente o contrário: dividiu os brasileiros entre “nós” e “eles”,
arrogando-se a tutela sobre os desvalidos, que tem procurado seduzir,
transformando-os não em cidadãos, mas em consumidores. Um truque que,
como se vê hoje nas ruas, está saindo pela culatra.
Pois
é exatamente o homem que subiu na vida com um punhal entre os dentes,
disseminando a divisão em vez da consciência da cidadania como arma de
luta contra as injustiças sociais, que agora, acuado pelo
desmascaramento da enorme farsa que tem protagonizado, tem a desfaçatez
de prognosticar que “a esperança vai vencer o ódio”.
Apesar
de alegadamente motivada pela declaração de Aécio Neves, na convenção
do PSDB que lançou oficialmente sua candidatura à Presidência da
República, de que “um tsunami” vai varrer o PT do poder, foram dois os
sinais de alerta que levaram Lula a abrir a caixa de ferramentas: nova
queda de sua pupila Dilma nas pesquisas e as vaias e agressões verbais
em coro de que ela foi vítima na quinta-feira durante o jogo de estreia
do Brasil na Copa do Mundo.
Quanto
às pesquisas, não há muito mais a dizer do que aquilo que elas revelam:
uma tendência constante de queda do prestígio e das intenções de voto
na candidata do lulopetismo à reeleição. A debandada dos membros mais
“pragmáticos” da “base aliada” reforça essa evidência.
As
vaias e xingamentos no Itaquerão, por sua vez, refletem o que têm
afirmado, abertamente, muitos líderes oposicionistas e, intramuros,
lideranças do próprio PT: Dilma e, mais do que ela, o lulopetismo estão
colhendo o que semearam. Nem por isso manifestações como aquelas podem
ser endossadas. A grosseria não é coisa de gente civilizada. Um chefe de
Estado merece respeito, no mínimo, pelo que representa.
Mas
não há de ser quem sempre, deliberada e calculadamente, se esmerou em
atacar e ofender adversários que agora vai assumir posição de
superioridade moral para condenar quem manifesta, no calor da multidão,
um sentimento espontaneamente compartilhado.
E
também não vale o argumento com que Lula procurou desqualificar os
manifestantes do Itaquerão, a eles se referindo como “gente bonita”, ou
seja, a famigerada elite. Afinal, a Copa do Mundo no Brasil, essa
vitrine que está expondo o País aos olhos do mundo com efeitos
duvidosos, foi apresentada à Nação sete anos atrás como uma fantástica
conquista pessoal de Lula, uma dádiva generosa ao povo brasileiro. Foi
para a “gente bonita” que Lula trouxe esse espetáculo – do qual agora
mantém a boa distância e não porque não possa pagar os caríssimos
ingressos que, como ele sempre soube, são cobrados pela Fifa.
A
candidata Dilma, por sua vez, recolheu-se. Alegou uma gripe para não
comparecer, ao lado do chefe, à convenção do PT que lançou, no domingo, a
candidatura petista ao governo de São Paulo. Mas o recato acabou aí.
Gravou um vídeo em que se refere indiretamente ao episódio do Itaquerão e
dá uma magnífico exemplo do tom mistificador que passará a imprimir à
campanha eleitoral: “(O Brasil) é um país em que mulheres, negros,
jovens e crianças, a maioria mais pobre, passaram a ter direitos que
sempre foram negados. É isso que vaiam e xingam. É isso que não
suportam”.
Os
líderes do lulopetismo só estarão a salvo de vaias e constrangimentos
se escolherem as multidões que estão sob seu próprio controle.
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