Escrito por Pedro Corzo
Enquanto
por décadas um grupo de cubanos radicados no exterior dedicou uma
grande parte de seu tempo a lutar para que em seu país retorne a
democracia e se estabeleça uma sociedade de direitos, outro setor, menor
em número mas também fora de Cuba, trabalhou por anos a favor de que os
Estados Unidos modifiquem sua política para a ditadura dos irmãos
Castro, sem demonstrar interesse em mudanças políticas na ilha.
É
paradoxal, porém ambos os setores recorreram a diferentes estratégias
para conseguir seus propósitos e procurou ajuda em governos e entidades
estrangeiras para alcançar seus fins.
O
primeiro grupo transitou por inúmeras vias. A luta armada foi uma
delas. Recorreu à violência quando estimou pertinente e posteriormente,
sem renunciar ao passado, um amplo setor desse grupo se convenceu de que
era necessário usar outros métodos para a mudança necessária e assumir
estratégias diferentes.
A mudança não modificou o compromisso e a luta pela liberdade a continuação por outras vias.
Denúncias
mundiais, publicações, conferências, respaldo material à oposição
interna, assistência a eventos nos quais se expõe a realidade cubana,
entrevistas com funcionários de governos para buscar apoio em foros
internacionais, tudo o que seja possível no marco do politicamente
correto nestes tempos.
Entre
os membros que integram este grupo pró-democracia há diferenças
evidentes, alguns se questionam e possivelmente não compartilham uma ou
outra decisão, porém não há dúvidas de que são indivíduos e grupos que
querem uma mudança que conduza à democracia e ao respeito ao cidadão em
Cuba.
Um
aspecto divisivo neste campo é o embargo, porque há pessoas que
favorecem o fim do mesmo sem esperar nenhuma retribuição, já que é uma
demanda que corresponde às suas convicções. Há outros que se opõem à
violência por princípios morais, como há os que não participaram em um
greve de fome por suas crenças.
É
justo também dizer que neste setor há os que ainda continuam defendendo
os métodos usados no passado, acreditam na confrontação, estão a favor
da ruptura e o fazem com devoção porque, apesar dos anos, não lhes falta
disposição para lutar.
O
outro grupo também é complexo porque, embora haja representantes do
setor que lutaram pela democracia em Cuba, é muito discutível que na
atualidade mantenham o mesmo compromisso.
Este
setor, nutrido fundamentalmente por indivíduos que nunca enfrentaram a
ditadura, investe grandes esforços e recursos para que seus reclamos
sejam ouvidos por quem possa exercer influência a seu favor. O paradoxo é
que muitos cobrem suas ambições de lucro sob o manto humanitário da
reunificação familiar, o intercâmbio cultural e o fim do embargo.
Essa
história do embargo é importante porque, embora afirmem que sua
derrogação favorecerá ao cubano a pé, a realidade é que as oportunidades
de negócios se incrementariam e beneficiariam economicamente aos que
promoveram a mudança.
Na
realidade, embora haverá exceções, a intenção é lucrar porque a
reunificação familiar e as viagens a Cuba sem limitações, favorecem
economicamente as agências de viagens que vendam passagens para Havana
com preços como se fossem para Madri.
O
intercâmbio cultural favorece os promotores de espetáculos, uma
atividade lucrativa válida como qualquer outra, que não é necessário
justificar com o conto de que se está favorecendo o re-encontro entre
cubanos.
Seu
afã imediato é que os Estados Unidos eliminem todas as restrições
impostas ao regime de Havana, inclusive o comércio, financiamento e
certamente viagens e intercâmbios culturais que afinal de contas são
como uma calçada de um só via porque termina favorecendo o regime dos
Castro ou aos que possam ser seus herdeiros, porque eles têm em sua
agenda o pós-castrismo que não precisamente inclui um regime de direito
para os cubanos.
Estas
pessoas e instituições não questionam o regime de Havana, inclusive
seus métodos mais brutais. Não sancionam os abusos à oposição interna,
as restrições aos direitos cidadãos nem criticam a corrupção que existe
na ilha. Seu trabalho é sempre orientado para demandar indulgência ao
regime e culpar os governos estrangeiros ou o exílio pela ineficiência
deste.
Nos
últimos anos um novo conto incorporou-se a esta agenda e diz que o
investimento favorece a democratização, como se essa fórmula tivesse
dado resultado na China.
O
fato de que as ditaduras permitam a existência de ricos e milionários
não garante a liberdade dos cidadãos, inclusive os potentados, porque a nomenklatura dispõe as regras e as muda quando lhe dá na telha, porque o direito de pessoas não existe para esses regimes.
Tradução: Graça Salgueiro





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