Editorial O Estado de S.Paulo
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) transferiu R$ 12,9 bilhões em dividendos para o Tesouro
Nacional, em 2012, mais R$ 7 bilhões, em 2013, e quase R$ 3,9 bilhões, apenas
no primeiro trimestre deste ano. Neste ano, os recursos não vieram de lucros
contabilizados, mas das reservas estatutárias do banco, destinadas a
"assegurar a formação de patrimônio líquido compatível com a expectativa
de crescimento dos ativos" e a "garantir margem operacional
compatível com o desenvolvimento das operações" do banco.
O Tesouro depende crescentemente dos
dividendos das empresas estatais federais - com destaque para o BNDES - para
melhorar o resultado primário (ou seja, apresentar saldo positivo antes de
incluir as despesas com juros). Incluídos juros, há déficit nominal. No
primeiro trimestre, o déficit nominal das contas públicas consolidadas foi de
R$ 33 bilhões, ou 2,73% do PIB.
O superávit primário de março, último
mês com dados disponíveis, foi de R$ 3,6 bilhões, dos quais cerca da metade (R$
1,85 bilhão) obtida com a transferência de recursos da reserva técnica do
BNDES.
A operação, ressalte-se, não é
proibida, mas sua necessidade não foi devidamente explicada. Afinal, a operação
foi feita em "caráter de urgência", por solicitação do Tesouro
Nacional à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) em 26 de março, para
liquidação até 31 de março, segundo o jornal Valor. O Tesouro informou que só
"o BNDES é que se manifesta sobre o assunto". Mas, se o BNDES é um
banco controlado pelo Tesouro - e partiu do Tesouro a ordem de transferência dos
recursos da reserva estatutária, a operação deveria ser explicada pelo Tesouro.
O BNDES informou que a operação não
causa impacto sobre o funcionamento do banco, "pois há margem para
atendimento dos limites prudenciais antes da compensação". Pelo estatuto,
a compensação deve ocorrer neste semestre.
Nos últimos anos, o BNDES recebeu
vultosas transferências do Tesouro. Devia ao Tesouro, pelo balanço de 2013, R$
400 bilhões, em valores corrigidos. Ou seja, grande parte dos lucros do banco -
e das reservas acumuladas - só existe graças aos aportes do Tesouro, que agora
quer dividendos do BNDES para ajudar o superávit primário. Mas será um pequeno
alívio, pois não se acredita que a meta de superávit primário de R$ 99 bilhões
(1,9% do PIB) em 2014 possa ser cumprida.
0 comments:
Postar um comentário