Joaquim era um menino muito pobre, que estudava em uma escola pública e morava na periferia. Cansado de tanta greve, resolveu dar um rolezinho em uma biblioteca. Ele não sabia ainda, mas aquilo iria mudar sua vida.
Lá, ele descobriu os clássicos. Com Sófocles, Shakespeare, Kafka, Dostoiévski, Camus, Machado de Assis, Roth, navegou pelas entranhas da natureza humana imperfeita. Com Conrad, chegou ainda mais fundo no “horror”, entendendo o que acontece quando a cultura entra em greve.
Locke lhe ensinou sobre a propriedade privada, e Adam Smith lhe explicou o poder da “mão invisível”, que acaba levando a um resultado geral bom, mesmo com cada um seguindo os próprios interesses.
David Ricardo foi fundamental para sua compreensão das vantagens comparativas. Ele soube que mesmo em trocas voluntárias em que tivesse menos habilidade em tudo, ainda assim elas poderiam ser mutuamente benéficas.
Com Popper, soube que o relativismo cultural era uma falácia, e que é possível ter conhecimento objetivo. Compreendeu, ainda, o conceito da Grande Sociedade Aberta, assim como a importância (e os limites) da tolerância.
Bastiat foi crucial para que ficasse mais atento àquilo que não se vê de imediato, ou seja, o custo de oportunidade das escolhas ou políticas públicas. Isso o ajudou a criticar a visão míope de muito governante em busca de votos, com suas medidas populistas e assistencialistas.
De Tocqueville ele absorveu as características da democracia americana, das associações voluntárias desse povo, que foi capaz de construir uma nação próspera e relativamente livre. Jean-François Revel sepultou de vez qualquer ranço antiamericano que tivesse sobrevivido após a lavagem cerebral de seus professores marxistas.
Lord Acton deixou bem claro que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. A liberdade precisa ser defendida com base em princípios sólidos, não apenas interesses momentâneos.
Mergulhou na Escola de Salamanca, descobriu os austríacos Menger, Bohm-Bawerk, Mises e Hayek, e nunca mais levou a sério o socialismo. Já tinha noção clara de que, mesmo sob anjos, o sistema não poderia funcionar, pela impossibilidade de cálculo econômico racional.
Dos pensadores conservadores, como Burke, John Adams, Russell Kirk, Oakeshott, Isaiah Berlin, Irving Babbitt e Theodore Dalrymple, capturou a importância do respeito às tradições, os limites da razão, os riscos das ideologias e utopias, o enorme perigo das revoluções.
Passou também a desconfiar da democracia direta, entendendo que a República não pode ser a simples tirania da maioria. Benjamin Constant lhe ensinou sobre os necessários limites constitucionais do poder estatal, e Montesquieu, sobre a divisão dos poderes.
Schumpeter foi como uma luz ao lhe mostrar a “destruição criadora”. Agora não temia mais o avanço tecnológico, as inovações capitalistas, como faziam os ludistas, pois sabia que cada avanço gerava mais riqueza e criava novos empregos.
Milton Friedman lhe ensinou a eficácia do vale-educação, e Thomas Sowell, a ineficácia das cotas raciais.
Lendo as distopias de Orwell, Huxley, Ayn Rand e Koestler, ficou imune a todo tipo de tentação para as “soluções mágicas” que criariam um “mundo melhor” ou um “novo homem”. Sabia que o coletivismo era o caminho da destruição do indivíduo.
Estudou história com Paul Johnson, e ficou sabendo que vários “intelectuais” colocavam as ideias abstratas acima dos seres de carne e osso, louvando a Humanidade, mas agindo com profundo desdém em relação aos próximos.
Descobriu também a música clássica. Escutou Mozart, Beethoven, Brahms, Bach, Chopin, Rachmaninoff, Tchaikovsky, e ficou encantado. Como aquilo lhe tocava a alma! Foi Roger Scruton quem lhe convenceu da importância da beleza em nossas vidas. Sabia agora que se tudo é arte, nada é arte.
Joaquim tinha um espírito empreendedor, e desejava muito melhorar de vida. Foi com sua bagagem cultural para os Estados Unidos, tentar a sorte. Eram os anos 1980, a era Reagan, com mais oportunidades. Sempre olhara para os melhores com admiração, nunca inveja. Eram uma meta para ele, um exemplo a ser seguido. Hoje ele é um empresário de sucesso e vive em Boston.
Em sua velha comunidade, é acusado de “traidor”. Por ser negro, acusam-no de se comportar como um “branco” e ignorar sua raça. Mas ele jamais entendeu dessa forma. Para ele, o normal é desejar crescer na vida, aprender com a civilização, e não desdenhar dela. Até hoje ele é muito grato pelo rolezinho que decidiu dar na alta cultura quando jovem.
0 comments:
Postar um comentário