Mais uma vez, a reforma ministerial joga pela janela os critérios técnicos e obedece exclusivamente à lógica do jogo eleitoral, mantendo os tradicionais feudos partidários e trocando cargos por tempo de propaganda eleitoral
Está confirmado: o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, vai para a Casa Civil no lugar da senadora Gleisi Hoffmann, que a partir de agora dedicará mais tempo para cuidar de sua candidatura ao governo do Paraná. Não houve surpresa na mudança, já que desde meados do ano passado a imprensa nacional dava conta da vontade da presidente Dilma Rousseff de substituir um pelo outro quando se iniciasse o processo de reforma ministerial ditado pelas conveniências do calendário eleitoral.
A Casa Civil, repartição e titular tradicionalmente considerados o “braço direito” da Presidência, continuará sob o comando do PT, partido que projeta permanecer por pelo menos mais quatro anos como dono do poder central. A Mercadante – ex-deputado e ex-senador petista por São Paulo – caberá a execução de grande parte da estratégia política que visa a reeleger Dilma.
Não se pode afirmar que o novo ministro terá proeminência preponderante neste papel, muito embora deva agir sempre como um facilitador importante para que se concretize o passo inicial da campanha presidencial. Ou seja, buscar o apoio do maior número possível de siglas com representação no Congresso Nacional à reeleição de Dilma, garantindo-lhe maior tempo que os adversários na divisão do horário da propaganda eleitoral em rádio e televisão.
Proeminente mesmo, sem dúvida, será a participação do ex-presidente Lula, que ainda esta semana – e já com a presença informal do futuro chefe da Casa Civil – se encontrou com a presidente na condição de seu principal cabo eleitoral. Com a barba em regime de regeneração após a perda do poderoso emblema em razão do tratamento contra o câncer, Lula será sempre o grande oráculo e articulador dos bastidores mais profundos da campanha.
A partir de agora, prossegue – certamente sob a influência do ex-presidente – o restante da “reforma” ministerial, tendo como critério não apenas a substituição dos atuais titulares que disputarão eleições em seus estados (caso de Gleisi Hoffmann), mas sobretudo o de lotear o gabinete entre o maior número das mais representativas legendas, de modo a comprometê-las com a intenção reeleitoral.
É hora em que emergem as maiores cobiças, a oportunidade em que alguns poucos segundos no programa eleitoral transformam-se em ouro em pó na visão de Dilma e do PT. Em troca deste ouro precioso, oferecem-se ministérios com “porteiras fechadas” aos indicados pelos partidos, que deles fazem instrumentos de práticas políticas paroquiais e de cunho meramente fisiológico.
Trata-se de uma anomalia condenável, capaz de produzir situações no mínimo teratológicas. Por conceito, um ministério deveria ser constituído por cidadãos que se destacam pelo conhecimento técnico das áreas que lhes couberem, e ao mesmo tempo vocacionados para buscar soluções e gerenciar providências com eficiência proporcional aos grandes desafios com que o país se defronta para entrar em linha com o desenvolvimento social e econômico sustentáveis.
Entretanto, é dado ao presidente da República fazer uso muito diferente de tais objetivos, pois pode manipular ao seu bel-prazer os cordéis representados por nada menos de 39 ministérios (provavelmente um recorde mundial), centenas de diretorias e milhares de cargos comissionados. A “reforma” segue tão somente requisitos político-eleitorais, ficando para as calendas o verdadeiro interesse público que deveria nortear as escolhas. Para infelicidade do Brasil.
0 comments:
Postar um comentário