SÃO PAULO - A prefeitura paulistana produziu nesta sexta um raro experimento de laboratório em economia. Despejou um balde de dinheiro novo no mercado do crack na região central. O resultado, a inflação da pedra, confirmou a cartilha.
Dependentes receberam da prefeitura o primeiro pagamento semanal de R$ 120 por atuar em atividades como limpeza e varrição. Foi um choque potencial de R$ 36 mil na procura pela droga.
A oferta não estava preparada --falamos de um micromercado de 500 a 800 pessoas pobres--, e o preço subiu. Nesta semana, se a polícia não interferir, o tráfico deve reequilibrar um pouco a balança, elevando a disponibilidade da pedra.
O que foi inicialmente inflação tende a transformar-se, com o tempo, em aumento do consumo. A expectativa se reforça porque, como se depreende da confusão com policiais civis na quinta-feira, o combate ao tráfico ficará dificultado no novo mix de abordagens apregoado pela gestão Fernando Haddad (PT), apoiado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Esse incentivo financeiro ao consumo da droga é a nota mais duvidosa do programa "Braços Abertos". Acolher dependentes em hotéis e pagar-lhes por pequenos serviços públicos pode dar-lhes mais dignidade e até reduzir danos associados ao vício. Mas mantê-los a poucos passos do pregão do tráfico é arriscar tudo isso.
Em toda a já longa discussão sobre a melhor abordagem para a cracolândia, talvez tenhamos nos acostumado a vincular uma coisa a outra, um local da cidade ao consumo dessa droga. Que tal, apenas para variar, separar essas duas categorias?
Tráfico e consumo de crack são tenazes e flexíveis, podendo desenvolver-se em vários locais, públicos e privados --são temas de repressão policial e saúde pública. É a cracolândia que não precisa necessariamente continuar. A solução, sempre adiada, é sobretudo urbanística.
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