Jornalista Andrade Junior

sábado, 25 de janeiro de 2014

Omissão é crime - RENATO FERRAZ


CORREIO BRAZILIENSE -

A voz, geralmente fanhosa, agradece: "Sabemos que a escolha da companhia aérea é do cliente. Obrigado por escolher.". Sim, os comissários de bordo são automáticos no discurso. Somos assim ao agradecer, silenciosos e gentis, curvando a cabeça - mas, na maioria das vezes, irritados. No entanto, é esse nosso comportamento passivo, quase sempre indolente, que estimula a praga do mau atendimento nas empresas aéreas, aeroportos, bancos, companhias telefônicas. Some-se a isso a omissão do poder gestor ou regulamentador e, principalmente, do servidor público. Mesmo nas relações privadas de consumo, ou de prestação de serviços estatais ou por concessionárias, a omissão é covarde. Camus já dizia: somos responsáveis também pelo que não fazemos e pelo que impedimos de fazer. Nada pior do que ver ou ouvir administradores eleitos, ou mesmo burocratas nomeados ou de carreira, atribuírem todas as mazelas ao sistema. Para eles, tudo é extemporâneo, culpa dos outros. Esta semana, vários episódios mostraram como temos gestores fracos.

Em Ceilândia, dois inocentes precisaram morrer afogados para a burocracia candanga enxergar que havia algo errado no escoamento fluvial de um viaduto. Quem acreditaria que alguém morreria afogado no meio de uma avenida em pleno Distrito Federal? E o setor privado? Veja a situação de alguns estádios programados para serem usados na Copa do Mundo. Na esfera federal, é risível a reação da cúpula da Infraero aos atrasos nas obras de alguns aeroportos. Aliás, a situação na infraestrutura de mobilidade vai mostrar que não adianta fugir de responsabilidades: um dia, em algum momento, até os omissos serão cobrados.

Os preços das passagens aéreas, por exemplo, dispararam - uma delas está cobrando R$ 2,6 mil entre uma capital do Norte e outra nordestina. O sistema de milhagem é, perdoem o tom incisivo, uma esculhambação: numa companhia, você tem direito a faixas "promo", "irrestrita", "clássica". Tentem, porém, usar sua fidelidade para trocar por passagem: há trecho interno, tipo Recife - São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, por 45 mil milhas. Numa simulação, mesmo usando-se destinos pouco usuais, não consegui encontrar uma "promo"! Um leitor me manda uma "reserva" ida e volta de sua cidade, aqui pertinho, para o Acre: R$ 8,1 mil. Enquanto isso.

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