Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Rolezinhos e manipulações - EDITORIAL O GLOBO



O GLOBO -

Querem criar uma ‘sociologia’ dessas manifestações, com objetivos sequer imaginados pelos jovens que trafegam nas redes sociais



Todo o destaque dado aos tais rolezinhos em shoppings centers, primeiro em São Paulo, depois no Rio, poderia ter ocorrido há mais tempo. Afinal, estes rolês, originados em redes sociais, são antigos. Basta consultar o YouTube, em busca de “flash mobs”, reuniões instantâneas, para se encontrar rolezinhos pelo mundo afora, em locais públicos, vários deles de expressões artísticas: grupos de dança que se passam por viajantes em saguões de aeroportos, músicos de sinfônica disfarçados de compradores em shoppings que, de repente, começam a tocar, para surpresa geral, e muitos outros.

Também não são inéditas as confusões. Em Nova York, revelou O GLOBO de sábado, no final de dezembro, 400 adolescentes entraram correndo no shopping Kings Plaza, no Brookling, batendo em vitrines, aos gritos. O estabelecimento foi obrigado a fechar as portas por uma hora, em meio ao grande movimento em época de liquidação pós-Natal.

No domingo, o “Fantástico”, da TV Globo, entrevistou jovens com milhares de seguidores em redes sociais, capazes de promover “flash mobs”. Há pontos coincidentes no seu perfil: classe média, dois deles visivelmente ascendentes, curtidores de funk, sem qualquer traço de perigosos depredadores. São parte da “geração shopping”, um espaço de lazer por excelência, na ausência de outros, principalmente nas desassistidas periferias. Surge a pista de por que o assunto ganhou destaque só agora: devido ao oportunismo de políticos, ligados a algumas ditas “organizações sociais”, correias de transmissão de projetos partidários. A legítima e esperada reação de shoppings ao reforçar a segurança, até fechar as portas, como em Nova York, diante do risco de milhares de jovens entrarem pelos corredores em correria, passou a ser interpretada como “discriminação” das elites contra “negros” e “pobres”.

Entrou em cena a manipulação do “pobrismo”, ideologia de cepa populista, segundo a qual toda a “Verdade” emana das faixas sociais menos favorecidas. O pobrismo, somado ao interesse de Brasília em criar dificuldades para o governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, o inimigo a ser abatido nas urnas de outubro, injetou malignidade no rolezinho, que deixou de ser aquele convocado pela garotada. Surgem MST e partidos no rolê convertido em manifestação de rua. Vêm daí declarações do ministro Gilberto Carvalho, setorista de “movimentos sociais” no PT e governo, contra a ação policial (da PM estadual) nos rolês paulistas, e a racialização do assunto pela ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros.

Na visão pobrista, racialista e partidária, shopping passou a ser lugar adequado a manifestações de rua, em prejuízo dos frequentadores, lojistas e seus empregados. Ora, tanto quanto o hall de entrada do Planalto, onde Gilberto Carvalho dá expediente, estabelecimentos comerciais não podem ser espaço de atos políticos. Querem criar uma “sociologia do rolezinho" com objetivos sequer imaginados por jovens das redes sociais.

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