Tal pai, tal filho: o imenso pantano da corrupcao do Bolsa-Familia dos
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O Estado de S.Paulo
Uma
auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) mostrou que os desvios e
o mau uso de recursos públicos destinados ao pagamento do Bolsa Família
e a outros programas federais no interior do País são uma prática
generalizada e persistente. Graças às informações contundentes
recolhidas pelos auditores, desfaz-se o mito segundo o qual essas
irregularidades seriam apenas pontuais.
A
investigação da CGU foi realizada no âmbito do Programa de Fiscalização
por Sorteios Públicos, que seleciona aleatoriamente 60 municípios cujas
contas serão examinadas. São cidades com até 500 mil habitantes,
excetuando-se capitais. Conforme está expresso em seus princípios, o
objetivo do programa, criado em 2003, é "inibir a corrupção" dos
gestores públicos.
Na
mais recente verificação, são comuns os casos de fraudes em licitações
para a construção de creches e de Unidades Básicas de Saúde (UBS). Além
disso, há diversos exemplos de obras paradas ou nem sequer iniciadas,
apesar dos recursos terem sido repassados aos municípios.
Mas
é no Bolsa Família que o descontrole do dinheiro público é mais
evidente. Dos 60 municípios sorteados na última fiscalização, nada menos
que 59 apresentaram irregularidades na administração do dinheiro
destinado à transferência de renda. Tal proporção indica que se está
diante de uma situação comum e recorrente - na verificação anterior,
constataram-se irregularidades em 58 das 60 cidades.
Os
problemas resultam basicamente do desvio de dinheiro por parte das
prefeituras, que são responsáveis pela aplicação dos recursos e que
devem prestar contas ao governo federal. A auditoria mostra que esses
problemas são múltiplos, relacionados principalmente à corrupção e ao
grave despreparo técnico por parte dos municípios.
Há
casos escandalosos. Em Cipó, interior da Bahia, a CGU constatou que
diversos servidores municipais com renda superior ao teto do Bolsa
Família recebiam o benefício. Além deles, a própria filha do prefeito
ganhava R$ 102 mensais do programa federal.
Em
Boca da Mata (AL), funcionários públicos também recebem o benefício,
assim como a integrante de uma família de comerciantes. Em Abaiara (CE),
os beneficiários incluem o sócio de um posto de gasolina - que,
conforme a auditoria ressalta, é fornecedor da prefeitura, num contrato
que lhe deu entre R$ 240 mil e R$ 433 mil por ano desde 2009.
Há
diversos casos de beneficiários do Bolsa Família que não poderiam
receber o dinheiro porque são também aposentados ou pensionistas. Em
Maracás (BA), constatou-se o pagamento a 54 famílias que apresentaram
essa irregularidade.
Multiplicam-se
também exemplos de violação da norma segundo a qual a família só recebe
o Bolsa Família se mantém suas crianças na escola, como nos municípios
de Ferreira Gomes (AP) e Itarantim (BA). A auditoria constatou ainda que
é comum a falta de implantação de programas complementares ao Bolsa
Família, necessários para a manutenção do benefício, e também de
verificação frequente do cadastro dos beneficiários. As prefeituras
falham ainda na divulgação dos nomes de quem recebe os pagamentos - um
procedimento obrigatório justamente para facilitar a fiscalização - e no
arquivamento de documentos, que ficam muitas vezes empilhados sem
nenhum critério em salas improvisadas.
Confrontadas
com as irregularidades apontadas, muitas prefeituras disseram já ter
bloqueado os pagamentos, mas, segundo a CGU, raros são os casos em que
os gestores apresentaram documentos para comprovar o que dizem.
Apesar
desse cenário preocupante, as autoridades federais insistem em dizer
que, em se tratando de um programa complexo como o Bolsa Família, tais
irregularidades são insignificantes. Para contestar as denúncias de
desvios no Bolsa Família, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já
chegou a dizer que esse noticiário é fruto de "preconceito" das
"elites". Mas não será minimizando os desvios nem soltando bravatas
sobre luta de classes que o mau uso do dinheiro público será combatido
como se deve.
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