As manifestações populares de junho e julho colocaram no centro da agenda nacional o debate sobre transporte público e mobilidade urbana. Em boa hora: o país atravessou 2013 quase parando, em decorrência dos engarrafamentos diários nas grandes cidades. Neste ano que está terminando, a indústria automobilística bateu recorde de vendas, especialmente no primeiro semestre. Nos últimos 10 anos, entre setembro de 2003 e o mesmo período deste ano, enquanto a população brasileira cresceu 11%, houve um aumento de 123% na frota do país _ uma média de 12 mil carros por dia _, segundo registros do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Como o país já concentra 85% de seus 200 milhões de habitantes nos grandes centros urbanos, é fácil imaginar onde fomos parar: no meio das ruas e avenidas, sem poder avançar.
Ter um carro deixou de ser sinônimo de autonomia, velocidade e conforto. Virou, em muitos casos, perda de tempo e de qualidade de vida. A saída viável, todos concordam, é a utilização do transporte coletivo e de alternativas como a bicicleta, mas nossas cidades não estão preparadas para tal transição, que exige, acima de tudo, uma mudança de mentalidade. O estímulo à compra e à utilização de veículos ainda é muito mais forte do que os apelos para as pessoas deixarem os carros em casa. Pior: as deficiências do transporte público e a precariedade das estruturas urbanas acabam desestimulando quem busca a solução coletiva.
O carro, como símbolo de sucesso, acabou subvertendo o uso do espaço público. As cidades têm sido pensadas para o automóvel e não para as pessoas que as habitam. Como carro polui, ocupa espaço e representa despesa considerável no orçamento doméstico, tende a perder o encanto, especialmente se os administradores públicos não encontrarem saídas para os problemas do trânsito.
Evidentemente, não é um desafio apenas dos governos, embora lhes caiba investir nas soluções viárias, organizar os espaços públicos e oferecer alternativas compatíveis com as necessidades da população. O desafio da mobilidade também exige atitudes individuais, mudanças de comportamento, menos egoísmo e mais compartilhamento. Trocar o carro pela bicicleta ainda parece absurdo para muitos brasileiros e simples aventura para outros. Mas já é prática comum para parcela expressiva das populações de muitas cidades da Europa e da Ásia.
No ano em que o Brasil saiu às ruas para reclamar transporte público mais qualificado e a preços mais acessíveis, ficamos todos com esse dever de casa: como sair do brete das estradas entupidas de veículos?
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