Virtudes e vícios da democracia - HÉLIO SCHWARTSMAN
SÃO PAULO - Reportagem de Valdo Cruz e Natuza Nery publicada no domingo naFolha sugere que uma queda na popularidade de Dilma Rousseff por causa da inflação foi decisiva para fazer a presidente mudar de posição e apoiar um aumento mais agressivo nos juros.
É meio assustador descobrir que a política econômica do país é definida por pesquisas de opinião, e não por um projeto de governo. Receio, porém, que lidemos aqui com uma limitação intrínseca da democracia.
Por um lado, é desejável que dirigentes estejam em sintonia com a população e respondam a seus anseios. A ideia mestra da democracia é que ela constitua uma espécie de autogestão coletiva --o tal do governo do povo, para o povo e pelo povo.
Não se pode, por outro lado, desprezar os riscos de um entrosamento muito profundo entre governantes e a população. O mais óbvio é o populismo, no qual se sacrificam objetivos de longo prazo em troca de aprovações momentâneas, geralmente programadas para coincidir com eleições. Embarcar nesse tipo de lógica compromete a racionalidade econômica de um governo, que se torna incapaz de definir prioridades e passa a perseguir metas inconciliáveis, gerando pequenos e grandes desastres.
Isso significa que a democracia é uma miragem? A pergunta é capciosa. Penso que ela funciona, mas não porque maiorias sejam portadoras da verdade. A democracia vem dando certo porque consegue canalizar os conflitos sociais para formas não violentas de disputa. Tem ainda o dom de fazer com que as visões mais extremadas do espectro político se anulem pelo voto, deixando a decisão para os setores moderados.
Ela também transforma a sociedade num grande experimento em que os atores podem aprender com seus erros. Até há pouco, a inflação era o resultado de políticas populistas que, hoje, para manter-se efetivas precisam incluir o controle da aceleração dos preços.
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