Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

A CULTURA É UM CAMPO DE BATALHA

 por Percival Puggina.

   FOTO ANDRADE JUNIOR
Quatro décadas de hegemonia cultural ao longo do século passado (período que inclui intensa atividade com viés político durante os governos militares) conferiram à esquerda brasileira uma estatura superior à que corresponde às ideias em que se abastece. No campo cultural, a esquerda vencia por walkover (ou por WO). O PT, por exemplo, discutia consigo mesmo, como bem comprovavam suas muitas correntes internas. Foram longos anos dedicados à construção de narrativas, ao controle das cabeças de ponte por onde avançavam os companheiros e à propaganda que viabilizava mais e mais terreno para suas batalhas.
 Foi exatamente quando, com Lula e Dilma, os frutos do poder caíram nas mãos do partido que a Terceira Lei de Newton se fez sentir. O esquerdismo saturava as opiniões nacionais (ação) forçando a direita a sacudir a letargia que a acompanhava desde os governos militares (reação). Muito habilmente, de modo sistemático, a esquerda brasileira operava um discurso cujo único intuito era provocar constrangimento em quem não fosse de esquerda.
O leitor destas linhas, se jovem, deve estar se perguntando se leu certo e se isso funcionava. Leu sim, meu amigo. E funcionava. Não éramos muitos, aqui no Rio Grande do Sul, no ambiente cultural e político, os que não caímos nessa velhacaria.
O upgrade intelectual e cultural da direita foi acontecendo gradualmente enquanto o governo petista mostrava a que vinha e contava com intenso ativismo no ambiente cultural. Não se trata de querer uma plêiade de artistas politicamente neutros. Isso não existe, mas a sociedade percebeu que foram longe demais, que serviam a uma causa, que havia uma irrigação financeira descabida e o tema virou conteúdo durante a campanha eleitoral de 2018. Era de se esperar; artistas são assunto.
A cultura persiste como território do partido e palco de guerra. Vale observar que nos últimos anos, enquanto militantes saltavam do barco esquerdista em todos os portos, os da cultura permaneceram firmes, a postos. Há ali um ativismo cevado, em muitos casos bem remunerado, que se crê titular de direitos irrefutáveis. No entanto, o trabalho feito pela esquerda ao longo das décadas não gera direitos eternos. Não lhe concede o poder de vencer sempre por WO.
Não há por que esperar do governo Bolsonaro que reproduza os critérios e conceitos da esquerda e a mantenha em suas posições de mando. Houvesse a esquerda promovido conciliação ao longo dos muitos anos anteriores, seria viável, hoje, propor isso e declarar extinta a guerra cultural. Mas agora é tarde. A esquerda quer receber o que não deu.








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