por Carlos Alberto Sardenberg
foto Andrade Junior
O ministro Sergio Moro está mais adiantado. Seu projeto, um conjunto de
14 projetos de lei, está pronto para iniciar a tramitação no Congresso.
Já a proposta de reforma da Previdência está numa fase preliminar — o
debate dentro do governo.
Moro, portanto, foi mais incisivo. Exerceu sua liderança na definição de
propostas que atendem ao que os eleitores pediram: mais rigor no
combate ao crime.
Verdade que o tema é menos polêmico. Quer dizer, ambos são polêmicos, mas em sentidos diferentes.
A reforma da Previdência tem a ver com toda a população. Pelas
pesquisas, pode-se dizer que há uma maioria já consciente da necessidade
da reforma para equilibrar as contas públicas e, sobretudo, garantir a
aposentadoria das futuras gerações.
Mas os detalhes — na verdade, os pontos principais, como idade mínima e
tempo de contribuição — são uma outra história. Nem todos os que apoiam a
reforma concordam que 65 anos é um bom parâmetro.
Já no caso da legislação penal, a polêmica fica dentro de um público
mais restrito. Não é, entretanto, mais fácil de resolver, porque nesse
grupo encontram-se ilustres representantes da classe política e de
lideranças institucionais, inclusive do Judiciário.
Se a idade mínima preocupa todo mundo, a criminalização do caixa 2, que
está no pacote de Moro, é de interesse especial da classe política,
tanto da parte que já foi alvo de algum braço da Lava-Jato quanto
daquela que ainda teme ser apanhada. As investigações continuam, não é
mesmo? E agora sem foro privilegiado.
Mas como os eleitores, na maioria, estão fartos da classe política, não
será difícil para o governo usar a pressão social, inclusive via
internet, para forçar a aprovação do pacote de Moro.
Já no caso da Previdência, o governo terá que ser hábil para convencer a
população, ao mesmo tempo em que busca votos no Congresso. De certo
modo, será uma ação invertida. No caso do projeto penal, a pressão será
dos eleitores organizados ou reunidos em rede sobre o Congresso. Na
Previdência, o governo precisará dos parlamentares para ajudá-lo a
convencer a população.
Por isso já se especula sobre a possibilidade de barganhas, do tipo
entra a idade mínima de 65 anos e sai a criminalização do caixa 2. Ou,
mudança na aposentadoria dos militares pela anistia ao caixa 2 daqui
para trás.
Muito provável que se tente, mas difícil de acontecer. Há novas
bancadas, novos parlamentares que chegaram com sangue nos olhos e não
vão topar esse tipo de barganha. Esta seria, assim, uma desmoralização
para o governo Bolsonaro, e especialmente para o ministro Moro. Não
parece que ele aceitaria levar esse desaforo para casa.
Tudo considerado, a reforma penal terá mais oposição dentro das
instituições. A Previdência terá nas instituições — juízes já estão
antecipando posições contrárias — e na opinião pública. E, claro, nas
corporações mais privilegiadas que, por isso mesmo, serão mais afetadas.
Para a retomada da economia — e pois, do emprego e da renda — a reforma
da Previdência é condição essencial. Basta um número: o déficit de todo o
sistema, incluindo INSS, servidores civis e militares, está na casa dos
R$ 300 bilhões/ano. A proposta mais dura de reforma — com idade mínima
mais alta, maior tempo de contribuição, maiores contribuições e
vencimentos menores — permitiria uma economia de R$ 130 bilhões/ano,
pouco mais de um terço do rombo.
Por aí se vê o tamanho do problema e como demoramos a encará-lo. Os
efeitos estão visíveis. Com os governos — federal, estaduais e
municipais — gastando cada vez mais com aposentadorias e, em segundo
lugar, com salários do funcionalismo, os serviços públicos e a
infraestrutura nacional ficam prejudicados.
Em déficit e com dívida elevada, o governo toma mais empréstimos, o que
aumenta juros e retira recursos que poderiam financiar o setor privado.
Resumindo: sem reforma da Previdência, o país quebra. Sem o
endurecimento da lei penal, quebram-se a moral e o caráter nacional,
principalmente. Mas também prejudica o país, atolado no capitalismo de
amigos e corrupção.
O Globo
extraídaderota2014blogspot
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