por Ruy Fabiano
Lula insiste em que a deputada Gleisi Hoffmann, ré na Lava Jato, prossiga na presidência do PT. Diz que ela é a cara do partido e tem sido peça fundamental para animar a militância.
Não é propriamente uma escolha; é o que restou da legenda, organizada no final da década dos 70 por um punhado de intelectuais da USP, PUC e Unicamp, em parceria com o clero esquerdista católico da Teologia da Libertação, em plena vigência do sonho socialista.
No poder, o sonho virou pesadelo, e aqueles intelectuais, pouco a pouco, foram saindo do partido – gente como Hélio Bicudo, Francisco de Oliveira, Francisco Weffort, Hélio Pelegrino, Antônio Cândido, Mário Pedrosa, entre muitos outros.
Não queriam se envolver na lambança que, anos depois, a Lava Jato exporia ao país e ao mundo – e levaria Lula à cadeia.
Restaram militantes como Gleisi, Dilma, Fernando Haddad, José Genoíno e José Dirceu, apoiados pelo aparelho sindicalista, hoje esquálido e anêmico pela ausência do combustível financeiro do imposto sindical, suprimido na reforma trabalhista de Michel Temer.
É bem verdade que Lula jamais levou a sério os intelectuais do partido – nem os de dentro, nem os de fora. Apenas saboreava o prestígio que eles lhe conferiam. Marilena Chauí, por exemplo, num rompante, chegou a dizer que, “quando Lula fala, o mundo se ilumina”. A conta da luz, como se sabe, está sendo paga por nós.
O padrão Gleisi lhe é mais familiar; José Dirceu é sua referência mais elevada de interlocução; admira-lhe o pragmatismo, a frieza e a cara de pau. Gleisi emula Dirceu apenas nesse último quesito.
Nem todos, por isso mesmo, concordam com a defesa que dela Lula faz. Os senadores Humberto Costa e Jacques Wagner, que com Gleisi têm em comum a condição de réus na Lava Jato, acham que é hora de mudar. Mas não sabem como (nem eles, nem ninguém).
Sabem apenas que com Gleisi não é possível prosseguir, dado o desgaste monumental a que se expôs – e expõe o partido.
O problema é achar quem a possa substituir. A carência humana no PT é de tal ordem que Fernando Haddad cogita de lançar a própria esposa, Ana Stela, como candidata a prefeita de São Paulo, nas eleições do ano que vem. Ninguém a conhece – e esse passou a ser um ativo político. Os estreantes não costumam ter prontuário.
Ele mesmo, Haddad, surgiu na política nessas circunstâncias. Lula o lançou à prefeitura de São Paulo quando ninguém o conhecia. Hoje, o seu problema é ter se tornado conhecido até demais.
Lula, naquela ocasião, se sentia de tal forma poderoso que se proclamava capaz de eleger até um poste. Já o fizera com Dilma, repetiu-o com Haddad. Foi vitorioso na largada, elegendo-os, mas derrotado na chegada: ambos deram com os burros n’água.
Já ali havia carência de quadros, o que se agravaria com o impeachment de Dilma, a Lava Jato e a prisão de Lula. Houve tentativas posteriores de eleger outros postes, todas fracassadas, incluindo a do próprio Haddad, nas eleições de outubro passado.
Os postes existem em abundância, mas falta quem os ilumine. Lula, duplamente condenado e (até aqui) com mais sete processos em curso, está mergulhado em profunda escuridão política.
Somente isso explica que ainda veja em Gleisi Hoffman saída para seja lá o que for, senão sair. O máximo que ela lhe pode proporcionar – a ele e ao partido – é o clássico abraço dos afogados. Glub, glub, glub…
Com Blog do Noblat
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