Jornalista Andrade Junior

FLOR “A MAIS BONITA”

NOS JARDINS DA CIDADE.

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CATEDRAL METROPOLITANA DE BRASILIA

CATEDRAL METROPOLITANA NAS CORES VERDE E AMARELO.

NA HORA DO ALMOÇO VALE TUDO

FOTO QUE CAPTUREI DO SABIÁ QUASE PEGANDO UMA ABELHA.

PALÁCIO DO ITAMARATY

FOTO NOTURNA FEITA COM AUXILIO DE UM FILTRO ESTRELA PARA O EFEITO.

POR DO SOL JUNTO AO LAGO SUL

É SEMPRE UM SHOW O POR DO SOL ÀS MARGENS DO LAGO SUL EM BRASÍLIA.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Tempo perdido - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO -

Os bons resultados das licitações realizadas este ano para concessões no setor de infraestrutura de transportes (rodovias e aeroportos) ou para exploração de petróleo não deixam dúvida que o governo cometeu um grave erro quando interrompeu esse processo, basicamente por preconceito ideológico.

A campanha sistemática que o PT promoveu contra a privatização antes de chegar ao poder deixou os governos Lula e Dilma em situação embaraçosa. Politicamente, não seria possível admitir que as concessões privadas eram a opção racional para se deslanchar investimentos em infraestrutura diante da incapacidade financeira e gerencial do setor público. Os governos Lula e Dilma perderam tempo precioso tentando reinventar a roda.

Aperfeiçoamentos e ajustes nesse processo seriam naturais e recomendáveis a partir da experiência acumulada, mas o governo Lula e o de Dilma, inicialmente, estavam tão preocupados em não caracterizar concessões como uma forma de privatização que exageraram na dose de intervencionismo nas licitações que decidiram realizar. O número de interessados foi diminuindo, e o resultados nem sempre se mostraram satisfatórios.

No meio do mandato da presidente Dilma, com a economia brasileira dando clara demonstração que a fórmula de estímulo ao consumo doméstico não seria capaz de sustentar o ritmo de crescimento que o governo vinha apregoando (em determinado momento chegando à fanfarronice de querer dar lições aos países desenvolvidos, em crise), houve uma reviravolta e os equívocos começaram a ser corrigidos. O mercado passou a receber bem essas mudanças, e quase todas as licitações realizadas nos últimos três meses foram bem-sucedidas.

Mesmo sendo um ano eleitoral, tudo leva a crer que as licitações que o governo decidiu realizar em 2014 para concessões na infraestrutura de transporte terão bom resultado. Falta testar o modelo em novas ferrovias, mas se as autoridades ouvirem, também nesse segmento, as partes interessadas, o risco de dar errado será mínimo.

O preconceito contra a privatização é politicamente jurássica. O Estado tem muitas atribuições e missões a cumprir ao meio de restrições orçamentárias incontornáveis. Está alicerçado em uma estrutura pesada e tem de se submeter a regras que o tornam gerencialmente incapacitado a realizar investimentos e a gerir satisfatoriamente grandes rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Tais segmentos podem ser financeiramente autossustentáveis nas mãos de concessionários, em razão dos benefícios que proporcionam a seus usuários.

A economia brasileira convive há décadas com taxas de investimento insatisfatórias, que reduzem a capacidade produtiva do país. Para resolver grande parte de seus problemas, o Brasil precisa de uma economia mais competitiva, e sem multiplicar investimentos não conseguirá atingir o grau de eficiência que tanto precisa. E se licitação é ou não “privatização”, trata-se de discussão semântica.

Feliz Brasil Novo - AÉCIO NEVES


FOLHA DE SP -

A última imagem do ano para milhões de brasileiros solidários é a do sofrimento das famílias vítimas da violência das chuvas. O Brasil assiste a um novo capítulo da mesma tragédia muitas vezes anunciada.

Nenhum governo é responsável por desastres naturais, por chuvas ou enchentes que arrastam vidas e esperanças. Mas são responsáveis pelo que fazem e deixam de fazer.

A presidente Dilma fez bem em simbolicamente levar a solidariedade do país aos brasileiros das regiões atingidas. Mas errou ao tratar essas situações tão graves como se não tivesse responsabilidade sobre elas. As visitas e as declarações da presidente seriam adequadas a alguém que tivesse assumido o cargo na véspera, mas não cabem a quem representa um governo que há 11 anos conduz o país.

Infelizmente, mais uma vez, o governo enfrenta um problema objetivo, acirrado pela sua própria omissão, sem reconhecer a sua parcela de responsabilidade e se limitando a fazer novas promessas. Promessas que, provavelmente, não serão cumpridas, como não foram as feitas no passado.

Na visita a Minas, vendo o sofrimento da cidade de Virgolândia, a presidente surpreendeu a muitos ao comentar que a cidade teve sorte por não ter um rio caudaloso passando por perto. E, em mais um lance de marketing, anunciou a liberação de um cartão "ilimitado" para as prefeituras.

Nenhuma palavra sobre as ações --ou a ausência delas-- do governo federal nos últimos anos. Nenhuma palavra sobre o fato de que das 630 obras acompanhadas no PAC 2, lançado em 2010 (mas que inclui obras anunciadas desde 2007), nas ações voltadas para a Prevenção de Áreas de Risco, apenas 54 tenham sido entregues até setembro passado.

Nenhum comentário sobre a constatação de que, dos R$ 11 bilhões anunciados pelo PAC 2 com a costumeira pompa para a mesma finalidade, apenas 0,5% correspondam às obras efetivamente entregues até a mesma data. Meio por cento! Números como esses falam mais do que qualquer propaganda.

Mais um ano se aproxima do seu final. E registro o que, em meio a tantos desafios, acredito que devemos especialmente celebrar: a consolidação da nossa democracia, com destaque para o Judiciário independente e a liberdade de imprensa assegurada.

A presença de milhares de brasileiros nas ruas, um coro de vozes que ainda ecoa à espera de respostas, é o retrato emblemático e inesquecível do ano que se encerra.

Que no final de 2014 possamos comemorar bem mais do que a "sorte" de cidades não terem rios, e celebrar vidas e esperanças que não terão sucumbido às inevitáveis chuvas que virão. E que possamos celebrar especialmente o resgate da confiança no futuro do país. Feliz Brasil Novo!

HUMOR








Todos conectados - EDITORIAL ZERO HORA


ZERO HORA -

Nunca, na história da humanidade, uma virada de ano teve tantos registros em imagens e textos como esta de 2013 para 2014. Jamais as pessoas tiveram tanto poder nas mãos para fotografar, descrever e repassar instantaneamente para qualquer parte do mundo tudo o que lhes parece interessante. Os smartphones e as redes sociais consolidaram-se como instrumentos da comunicação instantânea, reduzindo distâncias, aproximando pessoas, possibilitando o compartilhamento de informações e até mesmo de intimidades.
As facilidades de acesso a essa nova forma de comunicação geraram também extravagâncias como a flagrada pela argentina Paula Sibilia, no seu livro O Show do Eu: a intimidade como espetáculo, no qual demonstra que o indivíduo atual legitimou uma cultura da observação do outro conjugada com a exposição de si próprio. É neste admirável e desconcertante mundo novo que se encontram os desafios da modernidade, a mudança de paradigmas culturais, a substituição de atividades profissionais, as transformações em diversas áreas do conhecimento e os contrastes cada vez mais acentuados entre as gerações de seres humanos.
O Brasil é personagem e protagonista deste processo, com mais da metade de sua população já inserida na era digital e mais de 90% das escolas públicas e privadas do país utilizando computadores e acessando a internet, de acordo com o Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e da comunicação (Cetic). Falta-nos qualificar a educação para que os jovens possam tirar melhor proveito da tecnologia e utilizá-la para a construção de um país melhor.
O momento é mais do que apropriado para este avanço. Neste 2014, o Brasil promoverá a sua segunda Copa do Mundo e terá eleições presidenciais. As atenções do planeta estarão voltadas para os brasileiros. Receberemos delegações de todos os continentes e teremos a oportunidade de mostrar, na prática, se o nosso país está mesmo preparado para saltar da condição de emergente para a de desenvolvido. Vale o mesmo para o teste de democracia que promete ser o pleito de outubro, ocasião em que o país escolherá seus governantes para os próximos quatro anos.
Tanto o mundial de futebol quanto o estamento político foram fortemente questionados nas manifestações de junho, quando multidões saíram às ruas para protestar e pedir reformas. Tais movimentos, vale lembrar, tiveram origem exatamente nesta nova forma de comunicação proporcionada pelas redes sociais e pelos avanços tecnológicos. Ao descobrir novos caminhos para o exercício da cidadania, os brasileiros também assumem o desafio de contribuir para a solução dos problemas apontados nos protestos.
Neste contexto de transformações, Zero Hora chega ao seu cinquentenário (a ser completado em maio próximo) com o compromisso de manter a sintonia com os seus públicos e com a era digital, sem renunciar aos valores que a transformaram no jornal preferencial de milhões de gaúchos e brasileiros.

Cabeça de Ruy Barbosa - RUBEM AZEVEDO LIMA


CORREIO BRAZILIENSE -
Bom Senso FC, movimento que acredita representar os jogadores de futebol no país, lamentou o fim do Campeonato Brasileiro "de forma melancólica", que, como disse o presidente da CBF, José Maria Marin, acabou "dentro do Tribunal". Este é aquele que guardou a medalha de ouro de um atleta. O repórter, tanto quanto Maria Marin, cumpre seu dever, mas acha que os atletas do Bom Senso nem conhecem os departamentos de seus clubes para saberem se eles estão quites com seus compromissos disciplinares. Tais diretorias costumam atender, em geral, mais os chamados craques, do que os indisciplinados.
Quem acompanhou a defesa dos advogados do Flamengo e da Portuguesa estranhou, pois eles pareciam estar mais preparados para atacar o clube adversário, valendo-se dos apupos do público flamenguista e lusitano ao advogado e ao clube adversário, interessados os dois. Mas a galhofa contra o Fluminense foi um trabalho malfeito e a maldade dos que prepararam os que tinham esse objetivo perdeu seu tempo.

Aliás, o Ministro Marco Aurélio, do STF, observou que "a celeuma no futebol que salvou o Fluminense tem um simbolismo: provou-se que as regras são para serem cumpridas e quem não cumpri-las será punido".

A psiquiatria de Freud diz que a inveja é um erro terrível à verdade sobre os erros morais. Camões diz, com Marco Aurélio: "A inverdade é o que nunca salvará a inveja. O bem de outrem merece o que o céu deseja".

No futebol, a bola com que se joga não chega ao céu. As jogadas tão altas normalmente não são dignas de craques. Pelo contrário; estes, em perigo, não hesitam em chutar.

O que periga é o Brasil. Mas não na política, face às eleições o Congresso está separado. Quanto à economia, idem, como a política, o governo mostra agir sem orientação.

O que pode nos salvar é a Justiça. Mas estamos às voltas com a corrupção. Vista nossa posição inferior na América do Sul, teremos de trabalhar muito para igualá-la e passá-la.

A descoberta do ministro do Supremo Marco Aurélio na IstoÉ é a celeuma do futebol brasileiro, no qual cada jogador joga para si mesmo. Basta educá-los para que os craques joguem unidos, não como se não jogassem todos por uns, na tragédia do Maracanã, de 70 mil brasileiros nas arquibancadas.

O mergulho - FÁBIO ZANINI


FOLHA DE SP -

SÃO PAULO - A cena é digna de Monty Python. Sem camisa, o governador Cid Gomes mergulha numa adutora para tentar consertá-la em Itapipoca, cidade afetada pela seca no Ceará. Fica longos segundos dentro d'água, apenas o cocuruto calvo à mostra.

Volta com o cabelo escorrido na cara, dá uma cusparada, pega ar e tenta de novo. Finalmente consegue fechar uma válvula com defeito. Um puxa-saco pede palmas ao Jacques Cousteau cearense (a cena está em folha.com/no1390844).

O ridículo da performance tornou-a saco de pancada nas impiedosas redes sociais, mas há que se admitir que o governador não está sozinho.

Sair do gabinete, pôr a mão na massa ou simplesmente aparecer de um jeito inusitado são hoje pré-requisitos do manual do governante em busca de popularidade.

Não apenas no Brasil. Talvez Cid tivesse em mente as histrionices do uruguaio José Mujica (esse sim um Deus para a turma do Facebook), que moldou a Presidência à sua imagem de velhinho excêntrico. A última foi aparecer de sandálias e unha de fora na posse de um ministro.

Exemplo ainda maior é o do papa Francisco, cuja façanha em 2013 foi chacoalhar a igreja menos com reais mudanças de doutrina que com gestos como pagar sua conta numa pousada ou carregar a maleta na subida do avião.

No Brasil pós-protestos, as antenas das autoridades estão ainda mais alertas. Certamente isso entrou no cálculo da presidente Dilma para interromper sua folga de Natal e sobrevoar áreas inundadas em Minas.

Para Cid Gomes, talvez o maior problema seja ter adotado tardiamente o estilo "gente que faz". Um único banho de adutora não deve ser suficiente para desfazer o estrago na imagem causado por farras como a contratação da cantora Ivete Sangalo a peso de ouro para inaugurar um hospital (inacabado) em Sobral, há um ano. Aguardemos, portanto, suas novas peripécias.

O Julinho e o ensino - PAULO BROSSARD


ZERO HORA -

Um fato chocante e de inegável importância social foi divulgado por ZH dias antes do Natal ao retratar a alarmante deterioração de um dos mais conceituados colégios de Porto Alegre, o “Julinho”, como era familiarmente denominado o “Julio de Castilhos”. Ao tempo em que surgiam colégios de inspiração religiosa, logo consagrados pela excelência do ensino ministrados por notáveis educadores, o governo rio-grandense, de forte tintura comtiana, cuidou de formar seu colégio padrão, que viria a levar o nome do chefe republicano; cansei de ouvir referências respeitosas ao colégio laico destinado a cotejar com os católicos e evangélicos; o maior louvor suponho viesse daqueles que lhe houvessem frequentado. O trabalho da jornalista Letícia Duarte estendeu-se pelo ano escolar, 27 de fevereiro a 22 de novembro de 2013; registrando o colapso do que fora um colégio modelar; é impossível resumi-lo, o espaço seria insuficiente para um resumo do resumo, limito-me a dizer que, a todos os títulos, o quadro é deplorável.
É óbvio que sem professor não há escola nem ensino, no entanto, no Julinho, até sete professores por dia faltam às aulas, 89% dos alunos chegam ao final do Ensino Médio sem aprender o mínimo em matemática, 38% saem do Ensino Médio e chegam ao Superior e não sabem ler e escrever plenamente; ao fundo da sala alunos se divertem com equipamentos eletrônicos durante as aulas; essas singelas observações esclarecem porque a classificação do Brasil entre 65 nações ocupa posição desoladora. É de notar-se que isto acontece em um colégio que durante muitos anos foi dos melhores aqui existentes e em consequência no Brasil inteiro. Esta metamorfose não se operou de repente, o mal, por conseguinte não começou ontem. O colégio que foi o melhor não se transforma no pior da noite para o dia. E o mais grave é que a degradação se infiltra a setores relevantes do país, do governo inclusive a de instituições docentes. Dir-se-á que existem, Deus seja louvado, colégios da melhor e mais justificada reputação e eu sei disso e como brasileiro por isto me felicito, mas infelizmente isto não justifica a cota de colégios de inqualificável reputação. Segundo as repercussões até agora conhecidas verifica-se que há os que pensam que o fenômeno que deformou o Julinho tem caráter geral e há os que entendem que a falência do antigo e modelar ornamento do colégio oficial é uma exceção.
Não tenho elementos para opinar em favor de uma ou outra das interpretações, mas confesso a minha angústia cívica diante do espetáculo público do caso funesto e vexatório do Julinho uma vez que os efeitos dele se irradiam aos demais graus do ensino; é evidente que o ensino primário contamina o Ensino Médio e este compromete o Ensino Superior; a esse respeito, louvores seriam poucos, se as numerosas universidades emergentes realmente encarnassem o que a sua denominação anuncia. Confesso-me sem condições de opinar em assunto de tal relevância, pois não conheço o real teor do ensino oferecido e mais do que o ensino, da real formação de seus jovens frequentadores.
No entanto, há um dado idôneo que ajuda a esclarecer o problema em causa, não é segredo, foi amplamente divulgado que dos 65 países que participam do exame de avaliação internacional de alunos de 15 e 16 anos em várias áreas, ficou o Brasil na 55ª posição em leitura, 58ª em matemática e 59ª em ciências. Dispensável dizer que esses dados indicam as carências do ensino no Brasil. Os dados referidos são dolorosos para não dizer humilhantes. O caso do Julinho soa como uma espécie de S.O.S. partindo da educação.

Muito além da urna - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO


O Estado de S.Paulo  -

Em ano de eleição presidencial, o Brasil discute problemas aparentemente essenciais: privatizar o privado, estatizar o público, bolsas e embolsos. Mas, para espanto dos políticos, a vida dos brasileiros depende pouco dos eleitos. As principais tendências da população mudam à revelia de Brasília.

E muita coisa está mudando. Mais instruída e integrada ao mercado de trabalho, a brasileira casa e tem filhos cada vez mais tarde. A idade média das mães cresceu 12 meses em uma década. Está em 26 anos e aumentando. Uma brasileira de 20 e 24 anos tem 62% de probabilidade de não ser mãe. Se a jovem for branca, a chance de não ter dado à luz chega a 70%.

Mais drástico ainda foi o amadurecimento das noivas. Em 2003, a idade típica da mulher solteira ao casar era 21 anos. Em 2012, já beirava os 25 anos. Essa média oculta um fenômeno dentro das estatísticas do registro civil: em 10 anos, duplicou o número de mulheres de 30 anos ou mais que se casam no papel.

Em parte, é fruto do envelhecimento da população, pois há também mais homens dessa idade se casando. Mas o fenômeno é 30% mais intenso entre as mulheres. As maduras estão mais casadoiras - ironicamente - devido ao novo padrão de mortalidade masculina.

Nasce um brasileiro a cada 10 segundos. Há 5% mais chances de o recém-nascido ser homem. A prevalência do sexo masculino nos nascimentos costumava ser rapidamente compensada pela maior sobrevivência das mulheres. Mas a drástica diminuição da mortalidade na infância faz com que o excedente masculino perdure cada vez mais.

Só quando os nascidos em 2012 completarem 37 anos haverá mais brasileiras do que brasileiros dessa mesma idade. Nas gerações seguintes, essa inversão vai levar mais e mais tempo. O excedente masculino provoca novos comportamentos e uma profunda transformação das relações entre os sexos - inclusive de poder.

Hoje, o mercado matrimonial favorece as mulheres até a faixa dos 30 anos. Além dos homens da mesma idade, mais numerosos, elas atraem também maridos mais velhos. Daí em diante, porém, a oferta de parceiras é maior do que a de parceiros da mesma geração - e muitos desses homens maduros casam com mulheres mais jovens.

É o que a demografia batizou de "pirâmide da solidão": à medida que a idade avançava, as brasileiras, principalmente separadas ou viúvas, tinham ao alcance um contingente cada vez menor de potenciais parceiros, enquanto para os homens a oferta de companheiras aumentava. Com o tempo, cresciam as solitárias e diminuíam os solitários. Mas a pirâmide começa a ruir.

Em 2012, para cada 100 divorciadas que voltaram a se casar, houve 136 divorciados que formalizaram nova união. Felizmente para as mulheres, a desproporção está diminuindo rapidamente. A diferença, que era de 45% só quatro anos antes, caiu para 36% e diminui ano a ano. Tende a desaparecer em pouco tempo. Mas como?

Morre um bebê a cada 15 minutos no Brasil, e a chance de a vítima ser menino é 25% maior. A fragilidade do dito sexo forte se mantém até os 80 anos, quando as mortes femininas pela primeira vez suplantam as masculinas em volume. Por isso, toda redução da mortalidade, principalmente nos primeiros anos de vida, aumenta a proporção de homens na população.

As próprias mulheres têm contribuído para isso: 61% das mães já fazem 7 ou mais consultas pré-natal. Agem em benefício próprio. Menor mortalidade implica maior número de homens, o que aumenta as oportunidades matrimoniais por um período mais longo. Elas ficam em posição de força para postergar a escolha do parceiro enquanto se afirmam profissional e politicamente. É uma revolução, e isso tem pouco ou quase nada a ver com a eleição.

cada brasileiro trabalha metade da vida só para pagar seus impostos ao governo

DEU NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO

Funcionalismo consome 71% da arrecadação
 Durante o ano de 2013, já foram registrados gastos de R$ 1,13 trilhão em gastos diretos federais para o pagamento de pessoal e encargos. Isso significa que as despesas com o funcionalismo dos Três Poderes consomem quase 71% do total do esforço de arrecadação de tributos em todo o País, segundo dados do Portal da Transparência. Até agora, já foram arrecadados pela União mais de R$ 1,6 trilhão em impostos.

Renda minha

 É tanto dinheiro arrecadado com impostos que, redistribuído, daria um salário mínimo por mês para cada brasileiro, incluindo crianças.

É mesmo uma jornada
 Com expectativa de vida de 72 anos, cada brasileiro trabalha metade da vida só para pagar seus impostos ao governo.

Gente cara
A folha de pessoal dos Três Poderes corresponde a quase 50% do orçamento federal de R$ 2,5 trilhões aprovado pelo Congresso dia 18.

Cara de pau cara
 Após condenação do Supremo Tribunal Federal, os três ex-deputados mensaleiros ainda torraram R$ 197 mil da cota parlamentar. De junho a dezembro, Valdemar da Costa Neto (PR) gastou R$ 81,6 mil, Pedro Henry (PP) R$ 77 mil e Genoino (PT) torrou R$ 38 mil até setembro.

Daqui não saio
 Com a família e amigos morando em Brasília, o mensaleiro Valdemar da Costa Neto quer permanecer preso no complexo da Papuda. Ele pretende ser “contratado” pelo PR, partido de sua propriedade.

J.R.GUZZO - NÓS, UM PAÍS DE OTÁRIOS

AS MELHORES DE 2013
J.R.GUZZO - NÓS, UM PAÍS DE OTÁRIOS

Artigo publicado em edição impressa de VEJA
 CLIENTELA IDEAL
O Brasil, como bem sabem os estudiosos da língua portuguesa tal como ela é falada por aqui, é o maior importador mundial de palavras argentinas. Não espanholas, como a conhecida caramba, por exemplo – argentinas mesmo, ou, mais precisamente, portenhas, vindas diretamente das calçadas mais pobres de Buenos Aires para o cais do Porto de Santos e a Praça Mauá, no Rio de Janeiro, de onde transbordaram para o Brasil todo ao longo dos anos.
Essas palavras e expressões vêm do lunfardo, ou “lunfa”, linguajar obscuro, enigmático e com vocabulário descolado do castelhano oficial da Real Academia Española; a maior parte dele pouco ou nada significa na Espanha, no México ou no Peru. Não chega a ser um idioma, mas é bem mais que uma gíria; aparentemente surgiu no fim do século XIX como meio de comunicação entre presidiários, criminosos em geral, proxenetas, vigaristas, batedores de carteira, vadios e outros malvivientes do submundo de Buenos Aires.
Dali se incorporou ao falar da rua, nos bairros pobres dos quais La Boca é o símbolo mais conhecido dos brasileiros, e logo em seguida às letras de tango – das quais, enfim, passou para o mundo.
Ou melhor: para o Brasil. O resto do mundo pode repetir palavras cantadas por Gardel, mas não as utiliza na sua linguagem corrente. Aqui, porém, entraram com todo o gás, e há décadas fazem parte do dia a dia do português falado pelos brasileiros.
A lista não acaba mais: otário, afanar, engrupir, embromar, cambalacho, bacana, bronca, fajuto, punguista, fuleiro, grana, gaita, escracho, cana, tira, lábia, patota, cabreiro, pirado, campana, mina (não no sentido geo­lógico), barra-pesada, e por aí se vai.
Haveria, na preferência nacional pela importação de palavras com esse tipo de significado, entre tantas outras que o lunfardo oferece, alguma atração especial da alma brasileira pela linguagem da marginalidade?
É coisa para os profissionais do ramo responderem, mas certas realidades não se podem negar: feitas todas as contas, a palavra argentina que teve mais sucesso no Brasil, do seu desembarque até o dia de hoje, é “otário”. Amamos essa palavra. Quer dizer: amamos essa palavra quando ela é aplicada aos outros ou, mais exatamente, quando não é aplicada a nós. Vale, então, como uma espécie de certidão negativa, que nos absolve de tudo aquilo que não queremos ser – bobos, enganados, passados para trás.
No Rio de Janeiro, especialmente, é coisa muito séria, do milionário ao engraxate, manter durante a vida uma reputação de não otário. Vale para o Brasil todo, é claro – ser chamado de otário, em qualquer ponto do território nacional, é ofensa grave. Mas no Rio, por alguma razão que é melhor deixar para a apreciação dos mestres em psicologia social, é insulto maior ainda – assim como é um orgulho, assumido ou disfarçado, considerar-se portador da imagem oposta, a do “malandro”.
Depende, naturalmente, da circunstância e do jeito com que a palavra é usada, mas é frequente que o indivíduo classificado como malandro sinta que recebeu um elogio. Vale como um genérico para todo tipo de avaliação positiva: ser tido como malandro é ser tido como inteligente, esperto, habilidoso, experiente, prático, capaz de cuidar de si mesmo, vacinado contra a suprema humilhação de “ficar no prejuízo”.
É comum, no Rio, o sujeito trabalhar de sol a sol, cozinhando no meio de um calor de 40 graus na operação de uma britadeira de rua ou na direção de um ônibus urbano, ganhando uma mixaria e sendo barrado na entrada de tudo aquilo que se considera “vantagens da vida”.
Ao mesmo tempo, sabe que é roubado todos os dias, que o governador do Estado usa helicópteros oficiais, mantidos à sua custa, para transportar seu cachorrinho de estimação entre o Rio e Mangaratiba, e que a casa onde mora pode vir abaixo nas próximas chuvas de verão. Não importa: ele vai morrer achando que foi um grande malandro, e que otários são os outros.
É uma situação de sonho para governantes, vendedores de ilusões e vigaristas de todas as especialidades; têm à sua disposição, sempre, uma clientela que é tola o suficiente para achar que não é tola nunca. O Brasil da esperteza, onde se cultua a “malandragem” em tudo, é, na verdade, um dos países mais crédulos do mundo.
Há poucos, do seu porte, com tantos ludibriados, ingênuos, trapaceados, compradores de mercadoria falsa vendida pela marquetagem política, levados na conversa por palavrório de palanque, prontos a acreditar em farsantes notórios – enfim, e com o perdão da palavra, com tantos otários.

Careca de saber - RICARDO NOBLAT


O GLOBO -

"Renan estava careca de saber que não pode usar avião da FAB para viagem particular"
Chico Alencar, PSOL-RJ
O Senado deve ao distinto público a abertura de um processo para cassar por quebra de decoro o mandato do seu presidente, Renan Calheiros. Ou não é falta de decoro ignorar a lei? Ou não foi o que fez Renan ao voar em jatinho da FAB para se submeter no Recife a um implante de dez mil fios de cabelo? Com um agravante: depois de flagrado voando às nossas custas, tentou encenar uma farsa. Consultou a FAB sobre se de fato desrespeitara a lei.

A FAB NÃO respondeu à consulta. Deu-se ao respeito. Renan estava careca de saber que o decreto que regulamenta o uso por autoridades de jatinhos da FAB não prevê deslocamentos por razões particulares. É lícita a requisição de jatinho para viagens a serviço ou de volta ao seu estado, por exemplo. Ou em caso de emergência médica. Um implante capilar é tudo - até um luxo. Emergência, não é.

IMAGINE SE FOSSE possível escapar dos rigores da lei sob a desculpa de que desconhecia sua existência. "Sinto muito, mas nunca fora apresentado a essa lei". Não teríamos um Estado, não como o que conhecemos hoje. Mas um Estado de anarquia. Renan é político desde 1978. Foi duas vezes deputado federal por Alagoas, três vezes senador, líder do governo Collor e ministro da Justiça de Fernando Henrique.

UMA DE SUAS atividades é ajudar a fazer leis. Há várias de sua autoria. Fora centenas que ajudou a fazer.
 Para isso, como deputado ou senador, sempre contou com a assessoria de dezenas de funcionários do quadro fixo da Câmara dos Deputados ou do Senado. Como presidente do Senado - o terceiro na linha direta da sucessão do presidente da República -, todas as suas dúvidas lhe são tiradas. Na hora.

COMO SUGERIR que possa ter sido traído pela memória? Ou que seus assessores possam ter-se enganado na interpretação da lei? Ou que caberia à FAB dizer se ele acertara ou não ao requisitar jato para uma viagem particular? E uma viagem que ele se empenhou para que não chamasse a atenção de ninguém? Como de costume, foi a imprensa que descobriu o malfeito de Renan.

NA NOITE DO último dia 18, uma quarta-feira, Renan voou a Recife a "serviço", conforme consta dos registros da FAB. A agenda dele no site do Senado omitiu a viagem. Uma vez lá, internou-se em uma clínica onde, no dia seguinte, teve dez mil fios de cabelo implantados na cabeça pelo cirurgião plástico Fernando Basto. A cirurgia durou oito horas. Seus resultados começarão a se tornar visíveis daqui a quatro meses.

DE RECIFE, Renan foi a Maceió. Um outro jatinho o levaria a Brasília quando quisesse. No que deu errado... Renan apelou para plano B - "A FAB tem a última palavra". Esqueceu de combinar com a FAB. Mandou um ofício ao comandante da FAB perguntando se cometera alguma "impropriedade" ao voar a Recife de jatinho. Não recebeu resposta. Decidiu então pagar à FAB os custos da viagem.

FINAL FELIZ? Quem, fora Renan, pode pensar assim? Ok, a imprensa esquecerá mais rapidamente o assunto por causa da decisão de Renan de reembolsar a FAB. E, se ela esquece, todo mundo muda de assunto. Mas Renan, além de tudo, é reincidente. Em junho passado, foi a Trancoso, na Bahia, para o casamento da filha do colega Eduardo Braga (PMDB-AM). Usou um jato da FAB. Flagrado, devolveu à FAB R$ 32 mil.

RENAN É TUDO - menos um inocente coitadinho. Ignorou a lei em junho, voltou a ignorá-la seis meses depois, só reembolsou a União quando os dois episódios se tornaram públicos. Do contrário... Razoável supor que teria embolsado nosso dinheiro em silêncio.

A perna manca de 2014 - VALDO CRUZ


FOLHA DE SP -

BRASÍLIA - O ano das estripulias econômicas do governo Dilma chega ao fim com algumas boas notícias. A inflação voltou a ser tratada como um mal a ser combatido. Ajustes foram feitos e as concessões decolaram. Falta, contudo, uma perna ainda manca, a da política fiscal.

Apesar das promessas, ainda não há uma clareza sobre a real disposição do governo de conter seus gastos. Por um simples motivo: é minoria na equipe presidencial o grupo que defende um aperto fiscal.

Em vez de admitir a realidade, Dilma e sua equipe preferem acusar o mercado de má vontade com o governo atual, só porque ele é do PT. Bem, vamos, então, aos números, que não costumam mentir.

No início de 2013, o governo prometeu economizar 3,1% do PIB para pagamento da dívida pública, a meta de superavit primário. Dela, 2,1% seriam de sua responsabilidade. Depois, reduziu a meta para 2,3%. Sua parte despencou para 1,5%.

E tudo indica que nem isso será cumprido. Ou seja, o governo gastou, sim, muito, jogando lenha na fogueira da inflação. Para 2014, os primeiros dados indicam um apetite ainda maior por mais gastos.

Ao elaborar o Orçamento do ano que vem, o governo fixou uma meta de superavit de 2,1% do PIB, menor do que a de 2,3% revisada deste ano. Não para aí. Da meta de 2,1%, a parte do governo federal seria de apenas 1,1%. Bem mais baixa do que a de 2013, que ficou em 1,5%.

Sinal ainda mais forte do desejo de gastança da equipe dilmista no ano da campanha da reeleição da chefe. Em sua defesa, o governo diz que tem elevado os gastos sociais. Só que não dá para aumentar despesas sem receitas para bancá-las. É insustentável no médio prazo.

Agora, diante do risco de a inflação voltar a subir no ano da reeleição, o governo promete elevar sua meta de superavit em 2014. A decisão ficou para janeiro. Saberemos, então, se o Brasil seguirá mancando ou, enfim, acertará o passo.

O embuste ideológico - DENIS LERRER ROSENFIELD


O GLOBO -

O assassinato político tornou-se uma forma ‘corriqueira’ de a esquerda resolver os seus conflitos intestinos


O assassinato político de Jang Song-Thaek, tio e mentor político de Kim Jong-un, Líder Máximo da Coreia do Norte, apesar de grotesco, não deixa de ser algo, digamos, “normal”, dada a característica stalinista deste regime político. Nada muito diferente do que a esquerda totalitária fez na extinta União Soviética, nos hoje amplamente conhecidos Processos de Moscou, que eliminaram a velha guarda bolchevique.

Em outro célebre episódio, Trotsky primeiro foi apagado de uma foto junto a Lênin em uma comemoração revolucionária para, depois, ser “apagado” com uma machadinha na cabeça, no México. Quem perpetrou tal assassinato foi um agente de Stálin, Ramón Mercader, que acabou placidamente os seus dias, em Cuba, com todos os privilégios da nomenclatura castrista.

Nada tampouco distinto do que Mao fez na China. Os camaradas, amigos de ontem, tornavam-se os inimigos de hoje, taxados de contrarrevolucionários a serviço do capitalismo.

No Brasil, ainda atualmente, há os que admiram Marighella e a guerrilha do Araguaia, que compartilhavam das mesmas concepções marxistas. Há, em todos esses casos, uma patológica perversão das ideias.

O assassinato político tornou-se uma forma “corriqueira” de a esquerda resolver os seus conflitos intestinos. Processos jurídicos de fachada, tortura, acusações infundadas e mortes eram características próprias da esquerda no Poder. Não há sequer uma experiência histórica de compatibilização entre socialismo/comunismo e democracia. Lá onde o socialismo vingou, a democracia jamais germinou. Cuba e Coreia do Norte são rebentos deste período.

Se tomarmos a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, teremos uma oportunidade rara de comparação entre socialismo e capitalismo. O capitalismo sul-coreano produziu uma sociedade próspera, com alto grau de desenvolvimento industrial, científico e tecnológico. Empresas e universidades lá se retroalimentam. Sua educação tornou-se referência mundial. A democracia é o seu regime político.

A Coreia do Norte, por sua vez, é um regime tirânico, liberticida, que reduz a sua população a uma vida miserável. A fome grassa e os servos deste país sucumbem à falta de alimentos. Nada funciona, a não ser o Exército dotado de armamento nuclear, usado como ameaça constante à Coreia do Sul. Os seus processos políticos são uma caricatura, tendo sido neste país instaurada uma monarquia comunista, com direito de hereditariedade!

O século XX também apresentou outra experiência altamente significativa. Só os tolos hesitam em extrair dela o seu ensinamento. Havia duas Alemanhas, a Ocidental, capitalista, e a Oriental, socialista.

A primeira se caracterizava pela pujança, pelo respeito às liberdades, por uma vida sindical forte, por um crescimento econômico notável e por condições sociais invejáveis. Sua indústria tornou-se um exemplo mundial. Veio a ser uma das maiores economias do Planeta.

A segunda tinha como característica central a dominação violenta de sua população, com uso do partido e de sua polícia política. As suas condições sociais eram precárias e a liberdade era sistematicamente pisoteada. Tais eram seus problemas que o socialismo sucumbiu às suas próprias contradições. Nem os prussianos resistiram ao socialismo. A queda do Muro de Berlim foi um símbolo da derrocada socialista/comunista. A ideia socialista esborrachou-se no chão.

A esquerda tupiniquim, porém, teima em nada aprender. Parafraseando Talleyrand, discorrendo sobre a aristocracia emigrada, que se obstinava em não reconhecer os eventos revolucionários: “Eles nada aprenderam e nada esqueceram.”

Para essa esquerda, o socialismo continua plenamente vigente, sendo superior ao capitalismo, compreendido como fonte de todos os males. Trata-se de uma visão religiosa: o capitalismo é o pecado, o mal sobre a Terra, a origem do egoísmo e do lucro, enquanto o socialismo seria a redenção da humanidade, a solidariedade enfim conquistada entre os homens.

O embuste consiste no seguinte. O capitalismo não é comparado ao socialismo. Se isto fosse feito, a comparação, por exemplo, deveria ser entre a Alemanha capitalista e a socialista, ou ainda, entre a Coreia capitalista e a socialista. Os termos da comparação teriam parâmetros que serviriam de critério para qualquer avaliação.

A “comparação” é de outro tipo. Compara-se o capitalismo real, existente, com a ideia do socialismo, forjada por aqueles que lhe atribuem todas as perfeições. Ou seja, atribui-se ao socialismo todas as perfeições e, de posse destes atributos, passa-se a verificar se eles “existem” no capitalismo.

Isto é equivalente a comparar uma sociedade perfeita a uma imperfeita, ou ainda, a comparar o homem a Deus. É claro que o homem, com suas imperfeições, sairá sempre perdendo quando comparado a Deus. O mesmo destino teria a comparação entre uma sociedade perfeita (ideal) e uma imperfeita (real).

Mais curiosa ainda é a afirmação de alguns segundo os quais haveria plena compatibilidade entre socialismo e democracia, quando isto não se verificou historicamente em nenhum lugar. O socialismo no Poder se caracterizou pela tirania totalitária. O “pensamento” esquerdista, se é que se pode utilizar essa palavra, é totalmente capturado pelo dogma, esse repouso dos que se recusam a pensar. É o mundo das ideias descontroladas, que não podem ser verificadas empiricamente. Ora, só onde o capitalismo prosperou é que a democracia representativa foi consolidada e os cidadãos puderam usufruir da liberdade.

Há uma mentalidade religiosa, teológico-política, que guia a esquerda tupiniquim. Vive de “preconceitos” contra a economia de mercado e o direito de propriedade, postulando, como se fosse uma coisa teoricamente séria, a “utopia” ou o “socialismo” enquanto ideias “superiores” ao capitalismo. Na ausência de conceitos, contenta-se com diatribes contra o “neoliberalismo” e outras patranhas do mesmo tipo, como se fazer política residisse somente em enganar o próximo, em abusar da inteligência alheia.

Respostas para a educação - EDITORIAL ZERO HORA


ZERO HORA

O Brasil, que já ocupava um incômodo 53º lugar no ranking internacional da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), caiu para a 57ª colocação no comparativo entre 65 países analisados pelo Pisa, a mais abrangente avaliação do ensino global. Num gráfico, a realidade do aprendizado poderia ser representada por uma linha em queda.
Sobram explicações para a dificuldade de avanço da educação brasileira. Uma delas é que os esforços oficiais se intensificaram nos últimos anos, mas continuam faltando disciplina e persistência nas políticas públicas para a área educacional.
Em consequência dessas falhas, e mesmo com alguns ganhos registrados em matemática, poucos alunos na faixa dos 15 anos, avaliada pelo estudo da OCDE, conseguem entender as relações entre os números referidos no primeiro parágrafo deste texto, principalmente quando representadas graficamente. Poucos também têm condições de assimilar uma ideia simples como a transmitida pelo segundo parágrafo, devido às dificuldades no aprendizado do português. Os problemas se acentuam quando os jovens são solicitados a fazer relações entre um parágrafo e outro. Falta-lhes conhecimento para entender a conexão.
O fato novo e promissor é que, aos poucos, profissionais da educação, especialmente professores, começam a reagir contra as adversidades da profissão e empreendem ações individuais para elevar a qualidade do ensino. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, por exemplo, essa disposição ficou evidenciada na excelência dos projetos inscritos no recente Prêmio RBS de Educação. A maioria deles comprovou, na prática, que recursos financeiros são importantes, mas nada supera a motivação, o engajamento, a criatividade, a descoberta dos caminhos para chegar direto ao aluno, motivando-os a se interessar pelos conteúdos e a aprender a usá-los em situações do cotidiano.
O ponto em comum entre os países situados no extremo oposto do Brasil na lista do Pisa _ os seis primeiros são todos asiáticos _ é justamente o fato de contarem com educadores fascinados pela missão de transmitir conhecimento e reconhecidos pela nobreza do papel que exercem perante a sociedade. Isso não significa apenas ganhar bem _ embora os salários, nesses casos, sejam incomparavelmente superiores aos pagos no Brasil, que até hoje não conseguiu sequer garantir um piso de ganhos para a categoria.
Por que, então, o país que mobiliza uma explosão de criatividade no Carnaval, que atrai multidões aos estádios de futebol e consegue reunir elevadas somas em tempo recorde para abrigar a Copa do Mundo não consegue fazer o mesmo com a educação? Simplesmente pela incapacidade de transformar o ensino numa obsessão, empreendendo esforço máximo na corrida pelo conhecimento e pela inovação.
Políticas públicas adequadas, como as que investem no aluno, como o Ciência sem Fronteiras, e as que tentam resgatar a dignidade da figura do professor para assegurar a qualidade perdida com a massificação do ensino são fundamentais. As respostas mais eficazes, porém, tendem a vir mesmo é dos próprios educadores. São eles que, bem preparados, bem pagos e reconhecidos pela sociedade, poderão levar o país a transformar a educação numa prioridade de fato e os alunos a dominar disciplinas básicas, como português e matemática, para avançar nas demais.

O preço do descaso - EDITORIAL O ESTADÃO


O ESTADO DE S. PAULO -
Com ar compungido, a presidente Dilma Rousseff apareceu nos últimos dias sobrevoando Minas Gerais e Espírito Santo para ver os estragos causados pelas chuvas, que deixaram mais de 40 mortos e milhares de desabrigados. Para mostrar firme disposição de enfrentar a tragédia, ela deixou o conforto de suas férias na Bahia para comandar reuniões de emergência com autoridades locais e federais, nas quais estabeleceu prioridades e anunciou medidas urgentes. Toda essa determinação de Dilma, porém, contrasta com o descaso de seu governo em relação ao recorrente problema das enchentes.
Levantamento feito no Sistema Integrado de Administração Financeira, publicado pelo Estado, mostra que apenas 15,5% dos R$ 2,47 bilhões previstos para obras de contenção de encostas, drenagem e manejo de águas pluviais haviam sido aplicados. Não se trata de um fato isolado. No ano passado, a execução foi de apenas 23,1%. Isso significa que o governo federal simplesmente não consegue gastar os recursos destinados à prevenção de desastres.

O programa que mais deveria receber verbas, voltado para a drenagem urbana e o manejo de águas pluviais em municípios com mais de 50 mil habitantes, obteve somente 18,87% do R$, 1,24 bilhão previsto. Já o mapeamento de áreas de risco utilizou apenas R$ 1,8 milhão dos R$ 24 milhões autorizados. Os recursos são liberados segundo convênios firmados com os Estados e os municípios - que são, portanto, corresponsáveis pela ineficiência e pelos atrasos.

No caso específico dos Estados mais atingidos pelas enchentes até agora, o vexame é ainda maior. Um levantamento feito pela organização Contas Abertas mostra que o Espírito Santo recebeu apenas 0,41% dos recursos previstos para prevenção e recuperação de áreas atingidas por enchentes neste ano, que já mataram mais de 20 pessoas e deixaram 60 mil desabrigados. Além disso, nem todo dinheiro recebido foi utilizado. É o caso dos R$ 18,3 milhões destinados a drenar o Canal do Congo, em Vila Velha, cujas águas transbordaram. Embora haja desde 2009 um convênio federal para obras na região, elas não foram realizadas.

Em Minas, os municípios que mais registraram mortes não receberam nenhum centavo das verbas destinadas à prevenção de desastres. E, como mostra o Contas Abertas/somente uma fração da verba empenhada para obras de contenção de encostas em cidades como Belo Horizonte e Juiz de Fora foi efetivamente liberada - a capital mineira, por exemplo, recebeu R$ 16,3 milhões, mas o volume de restos a pagar alcança R$ 100 milhões.

Em sua conta no Twitter, Dilma admitiu a dificuldade na execução do que está previsto no Orçamento, mas se queixou das exigências burocráticas. "Muitas vezes, os recursos para prevenção ou reconstrução chegam atrasados aos municípios por falta de projetos ou exigências, que são corretas em tempos normais, mas excessivas para enfrentar situações de emergência", escreveu a presidente.

O problema é que as tais "situações de emergência" às quais Dilma se refere são totalmente previsíveis e repetem-se todos os anos. As exigências burocráticas de que reclama a presidente não foram feitas agora, em meio às enchentes e, sim, muito tempo antes. Se o governo tivesse feito sua parte entre uma tragédia e outra, o desastre deste ano provavelmente teria sido bem menor.

Mas, como sempre, Dilma recorre a soluções paliativas, como a edição de uma medida provisória para dispor, segundo suas palavras, de "mecanismos (de liberação de recursos) mais simples, rápidos, sem perder a transparência, nos quais o controle sobre o gasto do recurso público se dará sobre os resultados, durante a execução e na prestação de contas".

Para efeitos midiáticos, podem ter muita utilidade as imagens de Dilma com o colete laranja da Defesa Civil, colocando o pé na lama, mobilizando autoridades e lançando medidas de emergência para enfrentar a tragédia das enchentes. Na prática, porém, se os programas de prevenção que dependem de recursos e iniciativas federais continuarem à mercê dos improvisos típicos deste governo, infelizmente, pode-se esperar a repetição dos desastres.

Apartheid no ensino - RAUL HENRY


FOLHA DE SP -

Quando a amostra é subdividida em rede privada e pública, a realidade é mais cruel



O Brasil realizou conquistas inquestionáveis na educação, nas últimas duas décadas: universalizou o ensino fundamental, criou sistemas de financiamento e avaliação, entre outras. No que diz respeito à qualidade da escola pública, no entanto, não há o que comemorar.

Os dados do Todos pela Educação mostram que no fim do ensino fundamental, entre 1997 e 2011, o percentual de alunos com aprendizagem adequada em português caiu de 32% para 27%; em matemática, ficou estagnado em 17%. No médio, o desempenho em português baixou de 40% para 29% e em matemática de 18% para 10%.

Quando a amostra é subdividida em rede privada e pública, a realidade é ainda mais cruel. Em matemática, por exemplo, esses 10% se expressam da seguinte maneira: a rede privada tem 42% de alunos com desempenho satisfatório e a pública apenas 5%. Um verdadeiro apartheid educacional.

E esse apartheid é mais perverso porque suas vítimas não percebem a tragédia. Os pais de alunos da rede pública dão nota 8,5 às escolas. Vale relembrar que o Brasil ainda está entre as 12 nações mais desiguais do mundo e que, segundo estudo do economista Ricardo Paes de Barros, a desigualdade educacional é o principal fator responsável pela desigualdade de renda no país.

Cabe uma pergunta: quem vai defender o direito de aprendizagem desses alunos?

Quando não há pressão social pela solução de um problema de tamanha gravidade, é preciso uma ação institucional. No Brasil, em muitos casos, uma boa regulação ajudou o país a avançar. Foi assim com a Lei de Responsabilidade Fiscal e com a Lei da Ficha Limpa. Por isso, é urgente uma legislação de responsabilidade educacional.

A Câmara dos Deputados votará, em breve, a LRE. Ela terá três pontos principais:

1. Estabelecerá o padrão de qualidade que toda escola deverá ter cinco anos após sua publicação. Fazem parte desse padrão: plano de carreira para professores, infraestrutura adequada, biblioteca com acervo compatível e aulas de reforço, entre outros itens.

2. O financiamento desse padrão deverá ser feito em caráter suplementar pelo Governo Federal. Na repartição do bolo tributário, é ele quem fica com a maior fatia, aproximadamente 60%. No financiamento da educação básica, no entanto, participa com apenas 11%.

3. Haverá também um artigo com foco nos resultados. Segundo ele, nenhum estado ou município poderá retroceder seu Ideb depois de quatro anos de mandato, sob pena de o governante ficar inelegível. O Ideb é o indicador oficial de qualidade utilizada pelo MEC. O mecanismo será utilizado até que sejam atingidas as metas pactuadas no Plano Nacional de Educação.

O Brasil não pode mais esperar para enfrentar o drama da baixíssima qualidade da escola pública no país.

De mãos com o passado - JOÃO BOSCO RABELLO


O ESTADO DE S. PAULO -
À véspera do réveillon registra dois episódios emblemáticos do que foi 2013 como ano fértil em demonstrações de resistência da classe política à travessia para o século XXI, em que a transparência, e o tão aviltado quanto banalizado conceito republicano, se impõem como regra de conduta irreversível.
Os dois momentos, que sintetizam as dezenas de maus exemplos de homens públicos, têm como protagonistas dois ex-presidentes do Senado, um novamente no exercício do cargo, e outro que soma à biografia ainda um mandato de presidente da República.

José Sarney e Renan Calheiros desafiam os limites da tolerância geral que os protestos de rua de junho sugerem ter chegado ao ponto final. Pior, ambos refletem, mais que uma postura pessoal - o apego majoritário de autoridades a um modelo que mistura público e privado e traduz prerrogativas de cargos por garantia de privilégios pessoais.

Sarney mostrou que não tem limites quando se trata de defender o clã familiar que governa o Maranhão há décadas. Em defesa do governo de Roseana, sua filha, cuja omissão toma iminente uma intervenção federal na gestão penitenciária, vangloriou-se de manter a violência restrita aos portões da penitenciária.

Difícil imaginar declaração mais reveladora do arcaísmo político que orienta o pensamento e as ações do último grande representante da velha política coronelista, indiferente ao relatório do Conselho Nacional de Justiça que registra, entre outras atrocidades, um vídeo com um preso tendo à mostra tendões, músculos vasos e ossos, após uma agressão que o levou à morte.

O presídio não tem grades mais a separar as celas e as visitas íntimas são realizadas em ambiente coletivo, com abusos sexuais de toda a sorte, cenário que põe o Maranhão, outra vez, na liderança dos piores índices do país, mesmo em comparação com penitenciárias comandadas pelo crime organizado.

Renan se utilizou de um avião da FAB, a cujo uso tem direito em deslocamentos entre seu Estado e Brasília, para um procedimento médico de fins estéticos, escorando-se no questionável cálculo de que não alteraria o custo para o contribuinte se o percurso o levasse a Alagoas ao invés do Recife.

Renan e Sarney fecham um ano em que o Congresso Nacional deu demonstrações seguidas de pouco caso com a pressão da sociedade por mudanças que senão vierem por virtude, virão por imposição.

A falta de limite na leitura do certo e do errado no manual da vida pública é que toma o Poder Legislativo o sujeito da ação conspiratória contra sua imagem, que o PT - primeiro na fila do ciclo de punição iniciado com o mensalão -, insiste em identificar na imprensa.

Alvo real

Deputados do PMDB acreditam que o alvo dos irmãos Cid e Ciro Gomes é o Ministério da Integração. A versão da Saúde seria puro diversionismo.

Qualquer dos dois significará, para a presidente Dilma, uma guerra com PMDB e PT.

Paliativo

A elevação do IPI para automóveis atenua, em ano eleitoral, a revolta dos prefeitos com o impacto das desonerações fiscais, mas não reduzirá a pressão por um Fundo de Participação mais gordo.

Cena

O PSB mantém a fleuma, mas não crê que o PDT troque o apoio a Dilma por Eduardo Campos.

Cartão tragédia - CARLOS ALEXANDRE


CORREIO BRAZILIENSE -
A burocracia nacional inovou neste verão com o lançamento do cartão desastre. Sem demora, as prefeituras dos municípios atingidos pelas chuvas terão direito a saque de recursos federais, por meio de um cartão magnético, para efetuar ações emergenciais no socorro às vítimas e na reparação dos danos causados pelos temporais. Causa espanto a presidente Dilma Rousseff, que venceu a eleição aclamada como especialista em gestão pública, lançar mão de instrumento tão paliativo para enfrentar as perenes enchentes da estação. Está claro que esse tipo de expediente conforta as vítimas, mas passa ao largo das reais providências que precisam ser tomadas a fim de evitar ou amenizar as tragédias que se repetem todos os anos.
Ao menos Dilma Rousseff evitou o absurdo cometido por George W. Bush, que demorou dias até entender a situação e a ajudar os milhares de norte-americanos de Nova Orleans castigados pelo furacão Katrina em 2005. Ao menos a presidente teve o discernimento político de verificar in loco a calamidade no Espírito Santo e em Minas Gerais. Não fez como o prefeito de Vila Velha, que, no meio do dilúvio, embarcou com a família para Nova York. O constrangimento e a revolta foram tamanhos que Rodney Miranda (DEM) foi obrigado a abortar o recesso e antecipar o retorno. Não há justificativas que sustentem esse brutal descompasso com a realidade.

Na hora da tragédia, políticos evitam apontar culpados, afirmam que o mais importante é exercer nossa solidariedade intrínseca e assistir os necessitados em hora tão difícil. Não há dúvida de que o socorro às vítimas é prioritário em um cenário de enxurradas, deslizamentos de encostas, destruição de estradas. A crueldade brasileira vem em um segundo momento. Passado o verão, o suplício de milhares cairá no esquecimento, pois as medidas preventivas sempre ficarão para outra hora. A omissão do poder público no planejamento urbano e a precariedade técnica para a elaboração de projetos específicos contra desastres naturais emergem após o dilúvio, resistem a qualquer tormenta.

O novo ano que se aproxima reunirá outros exemplos da nossa crônica dificuldade de planejar. O maior teste ocorrerá com a Copa do Mundo. Os transtornos poderão não ser tão trágicos como o que se vê nos últimos dias, mas estarão à vista de bilhões de pessoas. Haja improviso.

Mal na fita - MERVAL PEREIRA


O GLOBO -
A mais recente edição da revista "Foreign Affairs" traz duas análises que se combinam: os países que merecem a atenção dos investidores e aqueles que são os "eternos emergentes" e acabam não realizando as profecias que se fazem sobre eles. Infelizmente o Brasil, que já foi uma das estrelas daquele time de vencedores, passou a essa última categoria.
Entre as novas estrelas, a revista cita México, Coreia do Sul, Polônia, Turquia, Indonésia, Filipinas e países da região do Rio Meckong - Camboja, Laos, Vietnã (a antiga Indochina), Miamar e Tailândia. Há observações cautelosas, por exemplo, sobre a situação da Turquia, onde apontam o primeiro- ministro Erdogan como o responsável pela pujança, mas que também pode ajudar a desconstruir o país com sua tendência ao populismo.

Com relação a alguns desses países, como o México e as Filipinas, a revista cita como um dos pontos favoráveis "um líder político carismático" que entende a necessidade de reformas e tem capacidade de levá-las adiante. Mas Ruchir Sharma, chefe de Mercados Emergentes e de Macroeconomia Global da Morgan Stanley, adverte: esse tipo de líder costuma durar pouco nessas regiões.

Ele escreve artigo para essa edição da "Foreign Affairs" em que alinha os erros de previsão em relação à pujança dos países emergentes, especialmente os que formam o Brics - Brasil, Rússia,Índia, China e África do Sul -, classificado por ele de um acrônimo vistoso, mas sem sentido. Destaca que, por razões diferentes, os países do Brics estão tendo dificuldades, o que mostra que foi um erro tratá-los como um pacote sem rosto, esquecendo as histórias próprias de cada um apenas para justificar o acrônimo.

Os quatro países iniciais que formaram o Brics (tijolo em inglês) - a África do Sul entrou depois, aproveitando o S no idioma inglês - detêm 40% da população e do PIB mundiais, além de representarem 28% da massa terrestre do planeta. Mas, até agora, as discussões entre os Brics têm sido dominadas por temas que os dividem: a representação mais ampla dos países emergentes nas organizações estabelecidas depois da Segunda Guerra Mundial e a questão do protecionismo, especialmente na agricultura. São temas divisionistas, pois dois deles, China e Rússia, estão entrincheirados entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. E, no tema do protecionismo, a divisão ocorre em outras linhas, porque o Brasil busca apoio aos seus produtos agrícolas, e a China e a Índia têm o interesse de resguardar sua agricultura familiar.

Sharma cita como um dos principais erros das previsões acreditar que tendências registradas em determinado momento são permanentes "e que economias quentes continuarão quentes", sem levar em conta "a natureza cíclica" dos desenvolvimentos político e econômico". Ele atribui esse comportamento à "euforia" que tomou o lugar de um julgamento sólido". Sobre o Brasil, ele faz algumas observações. Primeiro, que assim como a Indonésia e a Rússia, o Brasil está se apagando graças à "gestão má ou complacente". Outro exemplo em que ele cita o Brasil é quando fala do equilíbrio das contas públicas que é necessário para garantir um crescimento homogêneo para o país: "O Brasil está gastando muito para construir um Estado de bem-estar social para um país com renda média de 11 mil dólares, enquanto a Coreia do Sul, que tem a renda média duas vezes maior que a do Brasil, está gastando muito pouco em programas sociais".

Ele cita também que a desigualdade na distribuição de rendas é muito maior do que deveria ser no Brasil e na África do Sul, enquanto está dentro da normalidade na Polônia e na Coreia do Sul, países incluídos entre aqueles que estão a merecer a atenção dos investidores internacionais.

Quanto a investimentos, ele cita a China como exemplo de uma política que aparentemente é vitoriosa, com cerca de 50% do PIB, mas que corre sério risco devido a obras inúteis, como grandes condomínios abandonados.

Já no Brasil e na Rússia, a falta de investimentos faz com que os serviços urbanos não funcionem, chegando ao cúmulo de, em São Paulo, devido aos constantes engarrafamentos, executivos dependerem de helicópteros para se locomoverem pela cidade.

Que venha o voto facultativo - GAUDÊNCIO TORQUATO


O ESTADÃO -

As portas de 2013 se fecham sob a promessa do presidente da Câmara, Henrique Alves, de abrir, mais uma vez, as sublinhadas e desgastadas páginas do livro da reforma política. Depois de recorrentes tentativas, ao longo das últimas décadas, para se por um fim ao conservadorismo ortodoxo que inspira a vida pública e que explica a razão pela qual a política deixou de ser missão para ser profissão, acreditar que as práticas nessa frente poderão mudar é a confissão de fé de que Deus, ufa, decidiu tirar férias por aqui e ajudar o país a pavimentar o terreno da razão. Deixando de lado os insondáveis desígnios do Senhor, é possível apostar uma quantia, mesmo mínima, na megasena política de 2014, tendo como base as derrotas em série que marcam a atividade política em matéria de reforma de costumes. A lei das probabilidades acolhe a hipótese de que ganhos são possíveis após sucessivas derrotas. Ademais, temas que, outrora, seriam inimagináveis passar pelo crivo de quadros fundamentalmente preocupados com a preservação de seu poder, começam a ser palatáveis, como é o caso do voto facultativo. O surgimento de novos pólos de poder na sociedade, a partir da multiplicação de entidades de intermediação social, reforça a necessidade de acabar com a obrigatoriedade de votar.

O voto facultativo tende a ser a chave-mestra para abrir as portas da mudança política. Vamos às razões. Primeiro, a constatação de que a sociedade, há bom tempo, demonstra querer participar de forma ativa do processo político. A degradação geral dos serviços públicos; as crescentes pressões urbanas; o distanciamento entre a esfera política e as bases eleitorais; a pequena margem de manobra do corpo parlamentar para atender demandas das comunidades, enfim, as promessas tão repetidas e nunca plenamente realizadas pela representação política – compõem a argamassa da insatisfação social. Grupos, setores e categorias se organizam em torno de suas entidades, formando um gigantesco rolo compressor a fazer pressão contra a representação centrífuga do poder. Estabelece-se, assim, o nexo entre cidadania ativa (mobilização social) e voto. Insatisfeitos com mandatários que foram sufragados nas urnas, contingentes tendem a buscar uma representação compromissada com suas demandas e próxima aos interesses locais/regionais. O poder econômico, claro, continuará a realizar manobras táticas (e escusas ) para cooptar bolsões, mas essa prática será cada vez mais atenuada pelo adensamento das correntes racionais.

Nesse ponto, é oportuno lembrar os motivos que inspiram as escolhas. Para as classes que habitam os fundões e as margens sociais, o apelo é o do bolso, na esteira da equação: BO+BA+CO+CA= bolso cheio, barriga satisfeita (geladeira cheia), coração agradecido, cabeça decidindo retribuir a recompensa. Ora, mesmo nesses amplos espaços, a inquietação e o clamor por melhoria dos serviços públicos ( saúde, educação, segurança) dão sinais de exacerbação. Imagine-se tal onda de tensão em um ano esportivo e eleitoral como será 2014. O segundo apelo é o da proximidade. Os eleitores são induzidos a escolher representantes próximos aos seus ambientes físico e social, identificando perfis mais confiáveis, aptos a cuidar de seus interesses e mais controláveis. Esse fator aponta para um voto consciente. O voto facultativo, sob esse prisma, não arrefecerá o ânimo das bases. Ao contrário. Ainda na planilha de fatores que cercam o processo decisório, contabiliza-se a indicação feita por grupos de referência do eleitor – familiares, vizinhos, companheiros de trabalho, lideranças do bairro etc. A onda de críticas, exigências e participação terá, nesse núcleo, mais um reforço. E, por último, o próprio perfil do candidato estará sob a mira eleitoral, deixando escancarar a hipótese de que fica cada vez mais difícil no país vender gato por lebre.

Essa radiografia completa-se, ainda, com um pano de fundo que exibirá a linguagem da assepsia: políticos ficha limpa; história de um passado limpo e vida decente; respeito, dignidade, ética e moral; combate à corrupção; Ministério Público e Juízes de Tribunais Eleitorais com lupas potentes; sentimento de que a Justiça está chegando para todos, fracos e poderosos; maior transparência. O voto facultativo torna-se adereço importante nessa fotografia. A soma de todo esse aparato indica expansão da racionalidade, conceito que ampara o voto qualificado e livre. O eleitor irá às urnas sob o sentimento de que votar ou deixar de votar constituem um ato de consciência cívica. Há 20, 30 anos, a modelagem do voto obrigatório se fazia necessária pelo argumento de que a melhoria da representação implicava aprendizagem (votar sempre), sendo os eventos eleitorais de dois em dois anos com voto compulsório o mecanismo ideal para a democracia. A experiência até valeu. Mas os costumes políticos não acompanharam a dinâmica social. Daí a necessidade de alterar o calibre eleitoral. Hoje, já se pode garantir que o eleitor brasileiro desenvolveu um sentido agudo e sutil e quer exercitar seu direito, votando ou mesmo deixando de votar. Sem amarras e injunções.

E se as urnas exibirem um grande vazio, com uma enxurrada de votos nulos e em branco? Ora, a conta negativa também pode ser debitada no crédito da racionalidade política. Protestar contra o status quo, fincar pé no terreno da contrariedade, deixar as urnas vazias, constituem atos consonantes com nosso estágio civilizatório. O voto facultativo deverá ser testado. Haverá oportunistas? Sim. Figuras e figurões poderão usar a arma do bolso para convencer eleitores do fundão do país. E, dessa forma, plasmar um voto “falcatruativo”. Não terão a comodidade d’outrora. A interpretação lamurienta do memorável coronel pernambucano Chico Heráclito sobre a cabeça do votante se alastra pelo país: “ o eleitor do Recife é muito a favor do contra”. Esse eleitor contrário se espalha pela Nação.

sexy, provocante, tentação ou sem noção?

mais um desafio aos amigos, o que é sexy, provocante, uma tentação ou sem noção? veja o conjunto e decida-se




Presente de grego no Natal - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP -

BRASÍLIA - Os viajantes brasileiros deixaram (deixamos) mais de US$ 20 bilhões no exterior neste ano. No fim das contas vai dar umas cinco vezes mais do que a compra de caças suecos para renovar a frota da FAB, a serem pagos durante décadas.

Em vez de aquecer a economia do Brasil, estamos movimentando o comércio e gerando empregos nos países alheios, sobretudo nos ricos. Miami passou a ser o principal destino da brasileirada, que volta com malas gigantescas abarrotadas de peças de grife e todo tipo de bugiganga.

Na versão cor de rosa do governo, tudo isso é resultado do sucesso: o país está bombando, e os brasileiros estão cheios de amor para dar e com montanhas de dinheiro para viajar e gastar. Mas a realidade é outra e tem um nome: preço. Os preços no Brasil estão pela hora da morte.

Numa tarde em Miami, sentei para tomar um café e me senti em casa, mas a minha casa é aqui. À mesa da direita, paulistas; à da esquerda, nordestinos. E havia três moças de Minas. Todos cheios de sacolas.

Na volta, fiquei vagando duas horas num shopping em São Paulo à procura de lembrancinhas de Natal e tudo o que comprei foram dois lencinhos de seda, só para não sair de mãos abanando. Ah! E gastei R$ 60 de estacionamento num único dia.

Os produtos nacionais viraram artigo de luxo, os importados custam três vezes mais que nos EUA. Nem as feiras e o comércio popular escapam. Imagine a aflição da maioria de trabalhadores ao procurar brinquedos, tênis e roupas para os filhos.

Não foi nenhuma surpresa saber que o comércio teve seu pior Natal em 11 anos. A surpresa ficou por conta da reação desvairada do governo: em vez de se preocupar e se ocupar com os preços internos abusivos, aumentou o IOF e penalizou os cartões de débito em moeda estrangeira. Falta pão? Suprimam-se os brioches.

Se o brasileiro ficar, o bicho preço come; se correr, o bicho imposto pega. Obrigada, presidente Dilma, pelo presente de grego no Natal.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Pessoas de cor especial - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR


GAZETA DO POVO - PR -

Na escala cromática da sociedade brasileira, deveria ser incluída uma nova classe, a das pessoas que têm uma cor especial: não ficam vermelhas com nada nem empalidecem com qualquer coisa.

Renan Calheiros é o exemplo pronto e acabado desta categoria: numa época em que a população dá mostras de estar com estoques de paciência e de tolerância quase esgotados, em que as tais redes sociais escarafuncham os menores detalhes das vidas das pessoas, ele não ficou minimamente ruborizado em solicitar um avião da FAB para ir ao Recife fazer um implante capilar. Pego em flagrante, não perdeu tempo em empalidecer e fez uma consulta ridícula para que a Aeronáutica esclarecesse se havia cometido “alguma impropriedade”. Parece que vai ter de ressarcir a Força Aérea pelo voo. O distinto público espera que ele não imagine que, pagando o valor de uma passagem de voo comercial low-cost, tenha ressarcido o país pelo gasto que teve com sua escassa e declinante cabeleira.

O caso de Renan, no entanto, não é único e sugere que a faxina necessária nos privilégios exagerados atribuídos à classe política no Brasil tem de ser muito mais ampla. A começar pela regalia de poder requisitar um avião da FAB com tripulação, combustível, manutenção e suportes caríssimos para transportar ministros e “otoridades” para passar o fim de semana em suas cidades de origem, todas muito bem servidas por voos comuns. Isso talvez se justificasse (um “talvez” remoto) quando a Brasília dos primeiros dias era uma cidade distante de tudo e as pessoas tinham de ser paparicadas para trabalhar na Novacap. Agora, no século 21, trata-se de um privilégio grotesco e possivelmente inédito no mundo todo.

Mas os privilégios inaceitáveis vão muito mais longe e lembrá-los todos seria tarefa impossível ou ciclópica. Um pequeno exemplo: deputados e vereadores empregam dezenas de funcionários em seus gabinetes, para não trabalhar. Em português claro, são funcionários fantasmas e seus chefes, dotados daquela cor especial que não empalidece nem ruboresce, não têm o menor pudor em classificá-los como “agentes políticos”, cujo trabalho se dá em suas “bases políticas”, aliciando eleitores ou atendendo suas reivindicações. Ora, desde quando, ao eleger um deputado e um vereador, o eleitor deve pagar também seus cabos eleitorais? E vai por aí afora, colocando os parlamentares e os governantes brasileiros entre os mais caros do mundo todo.

Não se trata, apenas, do gasto. Privilégios como esses afastam a classe dirigente mais ainda de uma população que se sente apenas remotamente representada por ela.

Certa vez, neste mesmo espaço, sugeri que uma boa parte do distanciamento entre os governantes e governados vinha do uso de aviões executivos, que decolam e aterrissam em hangares especiais, protegidos do público, e de helicópteros que evitam viagens por terra. Embarcando e desembarcando em aviões comerciais em aeroportos públicos e viajando de carro ou ônibus (como, aliás, era a praxe no passado não muito distante), os membros do rarefeito grupo do poder estariam muito mais próximos de captar os sentimentos populares, como aconteceu com parlamentares durante a época dos protestos no meio do ano, quando foram estrepitosamente vaiados no aeroporto de Brasília. De quebra, os governantes adquiririam um conhecimento valioso a respeito dos padrões subsaarianos de infraestrutura e de serviços públicos no Brasil.

O travo amargo dessa discussão é saber que isso tudo acontece sob os olhares complacentes da população, que demonstra uma indignação epidérmica, mas continua a tolerar essas práticas sem alterá-las. Quem sabe Papai Noel não nos trará um presente tardio em 2014, promovendo uma faxina digna desse nome nos nossos costumes e hábitos políticos?

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