Jornalista Andrade Junior

FLOR “A MAIS BONITA”

NOS JARDINS DA CIDADE.

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CATEDRAL METROPOLITANA DE BRASILIA

CATEDRAL METROPOLITANA NAS CORES VERDE E AMARELO.

NA HORA DO ALMOÇO VALE TUDO

FOTO QUE CAPTUREI DO SABIÁ QUASE PEGANDO UMA ABELHA.

PALÁCIO DO ITAMARATY

FOTO NOTURNA FEITA COM AUXILIO DE UM FILTRO ESTRELA PARA O EFEITO.

POR DO SOL JUNTO AO LAGO SUL

É SEMPRE UM SHOW O POR DO SOL ÀS MARGENS DO LAGO SUL EM BRASÍLIA.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

História da derrocada - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO -

A maior hecatombe empresarial do país não é uma boa notícia para ninguém, mas seria bom aprender com o desastre. O empresário Eike Batista conduziu mal seus negócios por ter se alavancado demais e fomentado especulação que inflou de forma artificial o valor de mercado de projetos que não haviam maturado. O governo e o mercado erraram por terem acreditado no delírio.

Em 2010, o valor de mercado da OGX era R$ 74 bilhões. Três anos depois, está em situação pré-falimentar. Desde 2005, o BNDES aprovou R$ 9,1 bilhões em operações com as empresas do grupo EBX e em abril deste ano — quando elas já estavam em apuros e o valor da OGX havia caído para R$ 4 bi — foram aprovadas novas operações no valor de R$ 935 milhões para a MMX. Outros bancos estatais, como a Caixa, também emprestaram para o grupo quando já se sabia das dificuldades.

O BNDES usa como escudo o sigilo bancário para não prestar informações. Ofende a lógica quando diz que não perdeu nenhum tostão com o grupo. Ora, se o valor das ações desmoronou, se os empréstimos não foram pagos a tempo, é impossível o banco não ter perdido. O truque é, na época do vencimento, rolar o empréstimo. Uma das rolagens foi no último dia 15: R$ 518 milhões para a OSX. E assim que um credor não registra a perda com um grupo que desmorona: dá mais prazo.

Houve um tempo em que o governo dizia que queria mais "eikes" no país, e Eike dizia que o BNDES era o melhor banco do mundo. Em abril de 2012, em solenidade de início da extração de petróleo pela OGX, a presidente Dilma afirmou: "Eike é o nosso padrão, a nossa expectativa e sobretudo o orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado."

Hoje, é fácil ver os erros do empresário. Mas antes também era. Ele sempre exagerou sobre as potencialidades das empresas e, assim, valorizava as ações. Antes que o empreendimento maturasse, criava outra, dependente do sucesso da primeira. Foi construindo um castelo de cartas, Ele se alavancou com dinheiro dos bancos públicos, privados, de investidores. Sempre com dinheiro alheio. Alguns tubarões fugiram a tempo, investidores menores micaram e o governo tenta encobrir as perdas. Mesmo quando os sinais da falta de consistência dos seus negócios eram visíveis, o governo incentivou a Petrobras a fazer parceria com o grupo X. No ano passado, a presidente Dilma declarou, ao lado

do empresário, que "ambas podem ganhar muito com uma parceria entre elas" A ideia de Eike era de que Petrobras e OGX juntas criassem uma terceira empresa.

Quando as câmeras foram desligadas, ao fim de uma tensa entrevista que fiz com ele em 2008, em que perguntei sobre várias contradições dos seus negócios, inclusive ambientais, Eike reclamou de eu ter sido muito dura. Eu disse que não tinha perguntado tudo, por falta de tempo, e falei da proposta que ele havia feito de vender energia para o governo por um preço e recomprar por um terço do valor. A proposta fora recusada pela Aneel. Ele me disse: "todos fazem, por que não posso fazer?" Respondi que ele, supostamente, era para ser a renovação do capitalismo brasileiro.

Ele nunca foi o novo, sempre se cercou do Estado para se alavancar através de empréstimos ou tratamento diferenciado. As áreas nas quais entrou eram preponderantemente da velha economia. Mas tudo isso seria mais do mesmo. O principal erro foi declarar ter o que não tinha, para assim iludir o investidor.

Em maio de 2012, fez declaração de comercialidade de Tubarão Azul. Previu produção de 50 mil/dia e disse que poderia extrair até 150 milhões de barris. Depois, disse: "meus projetos são à prova de idiotas" Em julho passado, Eike admitiu não haver "tecnologia capaz" de extrair petróleo desse campo. Depois, fechou Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia. Ao garantir que tinha o que não poderia entregar, Eike enganou credores e investidores. Essa é a história da derrocada.

Combustível aditivado - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 30/10

São bem-vindos os sinais de que governo vai aliviar Petrobras e alinhar preços de gasolina e diesel no país aos do mercado internacional


Antes tarde do que nunca. Após anos de deterioração operacional e financeira que custaram dezenas de bilhões de reais à Petrobras, o governo enfim dá sinais de que, talvez, se afastará do populismo tarifário e permitirá maior alinhamento dos preços de combustíveis ao mercado internacional.

Ao explicar o desempenho da estatal no terceiro trimestre, o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, afirmou que um novo modelo de ajuste de preços será analisado pelo conselho de administração até 22 de novembro.

Não foram divulgados detalhes. Consta que, pela nova metodologia, haveria correção automática no preço interno (fixado pela Petrobras em reais) em caso de divergência significativa --para mais ou para menos-- em relação ao internacional (que flutua livremente, em dólar). Calcula-se que a defasagem esteja perto de 5% para a gasolina e 15% para o diesel.

A mudança permitiria reduzir o prejuízo causado pela importação para suprir o consumo interno --a perda estimada em 2013 pode se aproximar de R$ 10 bilhões.

Haveria, além disso, maior estabilidade no fluxo de caixa para a empresa realizar seu ambicioso plano de investimentos, o que inclui o pré-sal. De resto, a medida traria alívio ao setor de etanol, cuja rentabilidade foi prejudicada pelos subsídios à gasolina.

Para a Petrobras, a combinação entre maus resultados na produção, controle artificial de preços e investimentos maciços no pré-sal tem sido venenosa. O lucro do terceiro trimestre (R$ 3,4 bilhões) ficou 45% abaixo do obtido no mesmo período de 2012; a dívida, crescente, chegou a R$ 250,9 bilhões, pouco acima do limite considerado prudente pela empresa, de 35% do patrimônio líquido.

Com uma das maiores dívidas empresariais do mundo, a nota da Petrobras está ameaçada de rebaixamento pelas agências de classificação de risco. Daí a direção buscar não só a revisão nos combustíveis mas também o saneamento de problemas operacionais herdados da politizada gestão anterior.

Longe de significar um "aggiornamento" ideológico, porém, a possível reorientação decorre da aritmética e de objetivos a médio e longo prazo. No atual ritmo de crescimento da dívida, a Petrobras teria imensa dificuldade para cumprir seu planejamento estratégico.

A alternativa, uma nova capitalização como a de 2010, parece inviável, tendo em vista a perda de valor da empresa e a justificada má vontade dos investidores.

Resta saber se os sinais auspiciosos serão confirmados. Com eleição presidencial no horizonte próximo, não será surpresa se a montanha, afinal, parir um rato.

Lula hoje, Lula antes - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP -

BRASÍLIA - Os marqueteiros decidiram lustrar Lula e o Bolsa Família para 2014. Um ainda está em muito boa forma e será de grande utilidade. O outro anda meio gasto.

Daí por que a semana virou um grande palanque para Lula em Brasília, com medalha da Constituinte no Senado, medalha da "Suprema Distinção" na Câmara e festança pelos dez anos do Bolsa Família.

Lula, claro, deitou falação, mas não custa avivar a memória e o senso crítico. Vamos lá.

Se ele agora recebe a medalha da Constituinte, há 25 anos o PT votava contra a "Constituição Cidadã", um pacto nacional histórico. Em discurso de 1988, Lula criticava: "Ainda não foi dessa vez que a classe trabalhadora pôde ter uma Constituição efetivamente voltada para os seus interesses. Ainda não foi dessa vez que a sociedade brasileira, a maioria dos marginalizados, vai ter uma Constituição em seu benefício".

Se agora Lula enaltece José Sarney, a ponto de equiparar sua importância na Constituinte à de Ulysses Guimarães, o PT não apoiava o governo Sarney e o próprio Lula se referia indiretamente ao então presidente como "o maior ladrão" da Nova República. Naquele mesmo discurso, queixou-se dos "setores conservadores ligados ao Planalto".

Se agora critica duramente quem "avacalha" a política, Lula era quem denunciava a existência de "300 picaretas" no Congresso Nacional. Ou não?

Se agora defende vigorosamente a reforma política, Lula teve oito anos de mandato e uma popularidade estrondosa, mas nunca mexeu um dedo pela reforma. Ou não?

Se agora se volta raivosamente contra a mídia e contra jornalistas, Lula foi aquele líder sindical mítico do ABC embalado pela mídia nacional e endeusado por repórteres desde os anos 1970. Ou não?

Há o Lula pré-governo e o Lula pós-governo. Entre o que ele era e dizia e o que ele é e diz, passa aquele rio que inebria e deforma: o poder.

Bolsa Família e a doença do politicamente correto

Bolsa Família e a doença do politicamente correto
Contraponto
Edição 1999 de 27 de outubro a 2 de novembro de 2013

Irapuan Costa Junior 

Pensando bem, ser “politicamente correto”, entre outras coisas, significa não mostrar os fatos como eles são, não “dar nomes aos bois”. Vamos a alguns exemplos: o programa Bolsa Família é inatacável. Nenhum político da situação ou da oposição tem a coragem de dizer o que ele é na realidade: um programa que acorrenta ao governo os miseráveis — a quem não se mostra uma saída — para que continuem pagando com o voto a esmola, benesse vendida como sendo do PT, quando é, na verdade, dos impostos, da sociedade.
 Ninguém diz que o programa acorrenta os preguiçosos, pela falta de critério na concessão, estimulando a vadiagem, também ela presa eleitoralmente. Nenhum vagabundo, que busca religiosamente seu dinheirinho todo mês na Caixa Econômica, embora possa trabalhar para ganhá-lo honestamente, quer correr o risco de perder a mamata numa mudança de governo. Uma mudança pode redundar em um governo mais criterioso do que o atual (o que não é difícil), e numa revisão desse tipo de prodigalidade. 
Prova incontestável, claríssima, de que falta cuidado na distribuição farta dessas bolsas: foram descobertos mais de 2 mil políticos com mandato (na maior parte, mas não na totalidade, vereadores) recebendo, descaradamente, a Bolsa Família, embora embolsassem os vencimentos de agentes políticos, que, sabemos, não são baixos. 
Há um precedente aí, que não foi mencionado: quem se candidata a vereador e é eleito nunca é um marginalizado da sociedade, que necessita de assistência pública para a sobrevida. É alguém que tem liderança na sua comunidade, que tem recursos para uma campanha política — que sempre é cara —, que não precisa mendigar — ainda que dinheiro público — para sobreviver. Muito menos precisaria depois de eleito. Pela quantidade dessas concessões, dificilmente conseguirá uma oposição fazer pender a seu favor um prato da balança eleitoral. 
Outro exemplo está nas ruas, em qualquer das últimas manifestações: seja numa greve justa de professores, seja num protesto contra um leilão de poços de petróleo. Infiltram-se nessas manifestações grupos constituídos da escória comportamental: vão ali para destruir tudo o que de útil encontram pela frente, desde uma singela lixeira de rua até carros policiais, passando por lojas de veículos, agências de bancos e carros da imprensa. São integrantes de partidos de extrema esquerda, componentes de movimentos sociais marginais como o MST, ladrões ou apenas baderneiros.

O “politicamente correto” na imprensa os chama de “manifestantes” ou “ativistas”, quando, na verdade, são bandidos (que até as máscaras, símbolo secular da bandidagem, usam); o “politicamente correto” no governo impede que a polícia os combata com a devida energia (o que, como vemos, os estimula), em nome de uma falsa liberdade; o “politicamente correto” na própria polícia, sempre pressionada, faz com que os poucos presos sejam logo liberados sem maiores consequências (o que é mais um estímulo para o vandalismo).

 Não conheço nenhum país verdadeiramente civilizado que trate com tal condescendência uma marginalidade como essa que vemos, todos os dias, no noticiário.

Governo decide cobrar calotes da Venezuela

Empresas brasileiras estão há 4 meses sem receber

Matéria da Folha de S. Paulo:

Depois de estimular negócios com a Venezuela, o governo do Brasil agora cobra do país vizinho “calotes temporários” de exportações de empresas brasileiras feitas neste ano.
Em alguns casos, o atraso nos pagamentos de produtos vendidos ao mercado venezuelano, que vive um momento de escassez, chega a quatro meses.
A situação já preocupa os empresários brasileiros, especialmente os que começaram a negociar mais recentemente com a Venezuela, e levou o governo a enviar uma missão ao país para tentar solucionar o problema.
Na segunda-feira passada, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e o assessor especial da presidente para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, viajaram a Caracas para conversar com autoridades venezuelanas sobre os atrasos, segundo apurou a Folha.
Oficialmente, a missão brasileira teve como objetivo reforçar a disposição brasileira de ajudar o parceiro comercial a superar sua crise de abastecimento, mas os pagamentos atrasados foram um dos temas principais.
Nesta semana, a Venezuela informou que terá de importar 400 mil toneladas de alimentos de países latino-americanos em novembro e dezembro, sendo que 80 mil toneladas de carne e grãos virão do Brasil.
O calote temporário está sendo provocado principalmente pela crise econômica na Venezuela, que faz o governo local exercer forte controle sobre a saída de dólares, o que tem atrasado o pagamento de suas importações.
O total dos pagamentos em atraso não é revelado, mas o montante em jogo é significativo: o Brasil exportou para a Venezuela US$ 3,1 bilhões até setembro.
Segundo um empresário ouvido reservadamente, o maior problema está na exportação de alimentos, setor que recebeu estímulo do governo brasileiro para aumentar as vendas à Venezuela diante do quadro de escassez.
(…)
A relação Brasil/Venezuela ganhou impulso no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e seguiu no mesmo ritmo no de Dilma Rousseff, estimulando parcerias e defendendo politicamente a administração de Hugo Chávez (1954-2013) e de seu sucessor Nicolás Maduro.
Parcerias que nem sempre foram bem-sucedidas, como a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O negócio era para ser uma sociedade entre a Petrobras e a venezuelana PDVSA, que até hoje não colocou dinheiro no projeto.
(…)
VIÉS
Casos como esse levaram críticos da oposição a apontar o viés ideológico do favorecimento à Venezuela. Lula e Chávez foram expoentes da guinada à esquerda na América Latina nos anos 2000.
A Venezuela inclusive foi integrada ao Mercosul justamente quando o país que se opunha à sua entrada, o Paraguai, estava suspenso do bloco aduaneiro.
Em 2012, as exportações brasileiras para a Venezuela foram de US$ 5 bilhões. Este ano, apesar das vendas totais à Venezuela terem caído 17%, os cinco principais produtos exportados pelo Brasil cresceram quase 30%.
São produtos essenciais em tempos de crise de abastecimento: carne bovina, bois vivos, carne de frango, açúcar e medicamentos. Produtos como preparação para elaboração de bebidas também deram um salto de 93%.
Uma crise com os fornecedores brasileiros não interessa aos venezuelanos, já que o Brasil é o quarto principal fornecedor, atrás de EUA, China e Reino Unido. No ano passado, o país forneceu quase 10% de tudo o que a Venezuela comprou.
(grifos nossos)

 

Tesouro Nacional deve R$ 9 bilhões ao FGTS, diz ministro do Trabalho

Para cumprir meta de superávit fiscal, Governo não faz repasses de multa adicional a fundo desde março de 2012.

 Matéria do portal G1:

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, informou nesta terça-feira (29) que o Tesouro Nacional deve cerca de R$ 9 bilhões ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Os valores devidos pelo Tesouro Nacional referem-se ao adicional de 10% da multa, paga pelas empresas, em demissões sem justa causa. Desde março do ano passado, o Tesouro Nacional não tem repassado os valores recebidos dos empregadores nos processos de demissão. Já foram feitos dois pagamentos pelo Tesouro, que ainda deve, entretanto, R$ 4,5 bilhões ao FGTS.
Segundo ele, o governo fez uma proposta, aprovada hoje, de pagar, em 2014, R$ 100 milhões por mês a partir de abril do ano que vem por conta dos recursos não repassados relativos à multa adicional de 10% nas demissões. “Certamente, no decorrer de 2014 vamos discutir em cima de dados que possam fazer com que a gente estabeleça um retorno mais rápido e maior”, acrescentou Dias.
O governo também deve, ao FGTS, sua parcela (17,5%) nos subsídios do Minha Casa Minha Vida – programa habitacional do governo federal que contempla benefícios para a população de  baixa renda. Neste caso, a dívida do Tesouro Nacional com o FGTS, segundo ele, soma mais R$ 4,5 bilhões.
Esforço fiscal
O governo está apertando o cinto para tentar cumprir a meta de superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda) de R$ 111 bilhões para todo o setor público (governo, estados, municípios e estatais) para este ano – o equivalente a 2,3% do PIB.
Em maio de 2013, o governo anunciou um bloqueio de R$ 28 bilhões em despesas no orçamento federal com o objetivo de cumprir as metas fiscais, e, em julho, realizou um corte extra de R$ 10 bilhões na peça orçamentária.
(grifos nossos)

 

Venezuela: the end is near, como diriam os profetas do apocalipse...

Venezuela descamba para a hiperinflação

O dólar supera a barreira psicológica de 50 bolívares na Venezuela. Produtos em escassez são remarcados duas vezes por dia, quando eles existem a venda nas prateleiras dos supermercados.
Francisco Vianna
O câmbio negro ou “mercado paralelo” tem sido a única forma que a grande maioria dos venezuelanos têm de adquirir a moeda estadunidense à vontade, sem o controle do socialismo bolivariano.

Muitos estão vendendo o que têm e indo embora do país, e para isso precisam de dólares. O mercado de rua tem sido amplamente combatido pelo governo ‘bolivariano’ e a operação envolve riscos, uma vez que os dólares que não procedem da compra oficial do governo podem ser confiscados pelo regime de Caracas.

Isso, todavia, não tem diminuído a procura pela moeda americana na mão dos cambistas e doleiros do chamado “mercado paralelo” onde o dólar já é vendido a mais de 50 bolívares.

O valor alcançado pela divisa americana nas ruas da Venezuela, segundo os especialistas, já representa a transposição de uma barreira psicológica que acreditam ser o limiar da hiperinflação que é de 50 bolívares por dólar, numa demonstração do adiantado grau de deterioração econômica do país, como geralmente tende a ocorrer nos regimes socialistas.

Nesta semana, as ruas cotavam o dólar “paralelo”, em 53,51 bolívares por dólar, em Caracas, conforme o website www.dolartoday.com que acompanha as transações do mercado negro. Essa cotação de rua do dólar representa uma desvalorização do bolívar da ordem de 75,08 % ao ano, em relação ao valor da moeda americana negociada há 12 meses e que era de 13,33 bolívares por dólar. Ao câmbio oficial, só tem acesso um pequeno grupo de empresários cuidadosamente selecionados pela cúpula do regime de Caracas, que os vende a moeda dos EUA por 6,3 bolívares, valor altamente subsidiado pelo governo e à custa do trabalho do povo.
 Comerciante em Caracas, anunciando a venda da sua loja de comércio com o humor típico da desilusão socialista.
No entanto, a maioria dos economistas do país acredita que o dólar está supervalorizado num nível insustentável e prognosticam que o governo de Nicolás Maduro vai se ver obrigado a desvalorizar oficialmente a moeda nacional após as eleições municipais de dezembro. O nível recorde de valor de troca alcançado pelo dólar americano no país, acreditam os analistas, decorre de dois fatores: a diáspora e a falta de liquidez do estado socialista bolivariano. A diáspora econômica é a que ocorre com a saída do país dos capitais privados e da mão de obra especializada que há algum tempo migra para a vizinhança sul-americana, principalmente Colômbia, Peru, Chile e Brasil.  

A falta de liquidez do estado faz com que o governo retenha a moeda americana ao máximo para honrar seus pagamentos aos seus sócios estratégicos (Rússia, Irã, China e países da ALBA), liberando assim um volume de divisas em moeda forte muito aquém do necessário para manter a economia em funcionamento.

Para compensar, de forma inconsequente – como soe acontecer nesse tipo de regime –, o Palácio Miraflores aumenta enormemente o volume da moeda circulante sem lastro, em bolívares, que fatalmente levará a taxa de inflação a fechar o ano acima dos 50% ao ano.
De fato, o próprio governo reconheceu esta semana que a inflação anualizada em setembro foi 49,4 por cento, seu nível mais alto em 13 anos.

“Com a escassez de dólares em oferta cresce a demanda daqueles que precisam da moeda americana até para ir embora do país. São poucos os que vendem dólares”, disse um professor de economia da Universidade Central de Venezuela. “Isso gera uma escassez progressiva de produtos básicos de consumo que, na Venezuela, hoje está chegando às raias do insuportável e provavelmente o regime se certificará disso com os resultados das eleições municipais de dezembro próximo, mesmo que haja todos os mecanismos eleitorais fraudulentos que tendem a beneficiar a situação e que transformam o regime cada vez mais numa caricatura de democracia”, acrescentou o professor.

Com os bolsos cheios de bolívares sem valor, os venezuelanos não sabem o que fazer com eles, e não encontram nos mercados muitos produtos básicos tais como açúcar, óleo de cozinha, carnes, papel higiênico, apenas para citar alguns.

Com a diáspora venezuelana, agrava-se o esvaziamento de capitais privados e de mão de obra qualificada, com redução acentuada da classe média e queda intensa da capacidade produtiva do país tanto no setor primário (agropecuário), como no secundário (comercial e industrial) e mais ainda no terciário (serviços). A própria PDVSA, fonte maior de todas as divisas em moeda forte do país, está tendo sérios problemas de manutenção de suas instalações de extração e refino de petróleo por escassez de mão de obra qualificada, com sua produção tendo sofrida uma queda de quase um terço em relação ao que produzia há cerca de cinco anos atrás.

As estatizações por confisco puro e simples de ativos privados fizeram com que o governo chamasse a si a responsabilidade de continuar a manter uma produção que está acima de sua capacidade, mesmo reduzindo drasticamente os salários de seus operadores (o que deixa de fora a seleta burguesia do politiburo instalado em Caracas).

Assim, cada vez mais, Caracas se vê obrigada a trocar petróleo por tudo, uma vez que quase mais nada se produz no país. Os próceres do regime acreditam ainda que o petróleo do país poderá comprar tudo o que o povo necessita, ilusão que a prática começa a desfazer como uma imagem de fumaça. 

Segundo alguns economistas sul-americanos, o país poderá experimentar uma série de “pacotes econômicos” tal como ocorreu no Brasil após a farsa da “abertura democrática” pelo regime militar, com a diferença fundamental de que, no maior país da América do Sul, o regime militar teve a capacidade de montar uma infraestrutura mínima para permitir um crescimento econômico vigoroso. Teve também o bom senso de um governo de centro-esquerda para criar um plano que possibilitasse o controle da inflação e a existência de uma moeda forte e o respeito às leis da economia de mercado.

Ao contrário do Brasil, a Venezuela não tem nada parecido com isso e está se tornando um país de pobres e miseráveis, uma cópia do que ocorre em Cuba, a fonte inspiradora do falecido Hugo Chávez Frías. O déficit fiscal no país caribenho já chega a 20% do seu PIB e o governo nunca esteve com suas reservas de moeda forte tão baixas, além de continuar a imprimir dinheiro sem lastro de modo frenético.

O que o ‘socialismo bolivariano’ está fazendo com a Venezuela pode ser comparável a uma “política de terra arrasada”, que se traduz em hiperinflação e paralisação com deterioração do parque produtivo e queda da produção petrolífera. Com os valores do barril de petróleo progressivamente em baixa – e ainda sem mostrar os reflexos da produção norteamericana de hidrocarbonetos derivados do xisto betuminoso – a tendência é a da exportação do petróleo venezuelano continuar a diminuir.  

Assim, como é muito mais difícil estabilizar uma economia baseada apenas na exportação dessa mercadoria, as pressões internas e externas sobre o regime de Caracas deverão naturalmente aumentar o que permite que os entendidos prevejam dias mais turbulentos para o país.

Nós já vimos esse filme aqui no Brasil, mas tivemos a sorte de contar com o patriotismo e o bom senso dos militares para restaurar a ordem no galinheiro. Ordem essa que, nos últimos dez anos vem sendo deteriorada mais uma vez e tem impedido que o Brasil deslanche de vez como a primeira grande potência latina mundial.

Brasil e Venezuela estão necessitando – este mais do que aquele -- da intervenção de patriotas de bom senso para voltarem a por ordem na zorra em que estão se tornando.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional)

O presidente Joao Figueiredo e a Copa do Mundo - Paulo Figueiredo


Depoimento recebido por um amigo do filho do último presidente, João Batista Figueiredo, autorizado a ser divulgado pelo próprio Paulo Figueiredo.

[Fulano,] de repente hoje eu comecei a receber uma enxurrada de mensagens mencionando esta história.

Como você sabe, sou, evidentemente, talvez o cara mais suspeito para tecer considerações sobre qualquer matéria que faça juízo de valor a respeito de meu pai, especialmente em atos do seu governo.
Mas sobre este episódio, especificamente, não posso me furtar a lhe dizer, e com certeza absoluta, que o que está relatado é totalmente verdadeiro.
Até porque, veja você, calhou de eu estar presente no mencionado encontro. 

Tinha acabado de vir do Rio, e fui direto para a Granja do Torto ver os meus pais, como eu sempre fazia assim que chegava em Brasília. Soube que o "Velho" estava reunido com o Havelange, no gabinete da residência. Como sempre tivemos com ele uma relação muito cordial, me permiti entrar para cumprimentá-lo e dar-lhe um abraço.
"- João e João! Esta reunião eu tenho que respeitar!", brinquei irreverente, dele recebendo um carinhoso beijo. (Havelange sempre teve o hábito de beijar os amigos). Ia, logicamente, me retirar, mas papai me deixou à vontade:
"- Senta aí, estamos falando de futebol, que é coisa que você adora".
Fui logo sacaneando: "Vocês já descobriram um jeito de salvar o Fluminense?" (risos - os dois eram tricolores roxos).
"- Ainda não, mas vamos chegar lá. Estamos conversando sobre Copa do Mundo..."
Filho, neste momento, o Havelange está me sugerindo realizar a próxima Copa do Mundo no Brasil e eu vou dar uma resposta a ele com o seu testemunho: “Havelange, você conhece uma favela do Rio de Janeiro? Você conhece a seca do nordeste? Você conhece os números da pobreza no Brasil? Com essa realidade, você acha que eu vou gastar dinheiro com estádio de futebol? Não vou! E, enfie essa tal de Copa do Mundo no buraco que você quiser, que eu não vou fazer nenhuma coisa destas no Brasil!
O Velho não concordava que o país despendesse quase um bilhão de dólares (valor abissal para os números daquela época) para tentar satisfazer o caderno de encargos da FIFA, principalmente diante do quadro de enorme dificuldade financeira que o Brasil atravessava. Uma situação cambial dramática, resultante de um aperto histórico na liquidez internacional - taxa de juros internacionais de 22% a.a, barril de petróleo a 50 dólares no mercado spot - agravada pela necessidade de se dar continuidade a um importantíssimo conjunto de obras de infraestrutura. Muitas delas iniciadas, diga-se de passagem, em governos anteriores, mas que não poderiam ser paralisadas por serem realmente de vital importância para a continuidade do nosso desenvolvimento.
Realmente, era contrastante com o que se fez (ou melhor, o que NÃO se fez) nos governos seguintes: várias hidrelétricas, começando por Itaipu - até hoje é a segunda maior do mundo, além de Tucuruí, Balbina, Sobradinho, todas com as suas gigantescas linhas de transmissão; conclusão da expansão de todas as grandes siderúrgicas (CSN, Usiminas, Cosipa e outras - que fizeram o Brasil passar de crônico importador para exportador de aço); conclusão das usinas de Angra 1 e 2; um programa agrícola que permitiu que ainda hoje estejamos colhendo os frutos da disparada de produção de grãos - graças à Embrapa, ao programa dos cerrados e ao programa "Plante que o João garante"; um salto formidável nas telecomunicações, até então ridículas; multiplicação da malha rodoviária - a mesma, praticamente, na qual hoje ainda rodamos, só que agora sucateada e abandonada; inauguração de dois metrôs: Rio e São Paulo; instalação de vários açudes no sertão nordestino; a construção de 2.400.000 casas populares, mais do que toda a história do BNH até então, e muito mais.
Isto é apenas o que eu me lembro agora, ao aqui escrever rapidamente. Em resumo: naquela época, o dinheiro dos impostos dos brasileiros, simplesmente, destinava-se ao desenvolvimento do país.
Mas, para concluir, já falando do presente: o que se está fazendo com o povo brasileiro é simplesmente criminoso. Só que a roubalheira na construção dos estádios é apenas a ponta do iceberg.
Só chamando um Aiatolá para dar jeito, mesmo.
Grande Abraço,
Paulo Figueiredo
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Obs.: 1 - Paulo Figueiredo é filho do ex-presidente João Figueiredo.
2 - Por dever de justiça, é de se ressaltar que o Presidente João Figueiredo morreu pobre. Anos após morreu sua esposa, D. Dulce nas mesmas condições. Seu filho Paulo, hoje trabalha como qualquer mortal e nunca se teve notícia de qualquer negócio fantástico envolvendo seu nome, nem tampouco, que enriqueceu no governo do pai.

‘Brasil Nervoso’, por J. R. Guzzo

PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA

Fica cada dia mais difícil, sinceramente, confiar na palavra “popularidade”. O dicionário não ajuda; o que está escrito lá dentro não combina com o que se vê aqui fora. Os institutos de pesquisa ajudam ainda menos seus números informam o contrário do que mostram os fatos. As teses do PT, enfim, não servem para nada. Garantem por exemplo, que a ladroagem, as mentiras e a incompetência sem limites do governo só afetam uma pequena minoria que lê a imprensa livre a “direita”, os “inconformados” etc. Quando Dilma fica brava, como agora, fingem ignorar o que está na cara de todos: que a ira popular vem da acumulação dos desastres noticiados por essa mesmíssima imprensa.
É simples. A presidente da Republica, que continua sendo apresentada como a governante mais popular que o Brasil jamais teve, não pode colocar os pés num campo de futebol em Brasília. Ia fazer isso como previa o programa oficial no jogo de abertura da Copa das Confederações no dia 15 de junho. Desistiu ao ouvir a robusta vaia que o público lhe socou em cima logo ao aparecer no estádio e teve de ficar trancada no cercadinho das autoridades, seu habitat protegido de sempre. Para não receber uma vaia ainda pior, também desistiu de fazer o discurso solene escrito para a ocasião. Pergunta: se a presidente Dilma Rousseff não pode aparecer nem falar em público, onde foi parar aquela popularidade toda?
O problema, no caso, é que se tratava de público de verdade e não desses blocos que o PT monta para fazer o papel de povo, transporta em ônibus fretados com dinheiro público e premia com lanche grátis, em troca de palmas para a presidente. Dilma tentou chegar perto do povo brasileiro que existe na vida real: foi um fiasco, e ela terá de lidar agora com o pânico dos magos da “comunicação” e “imagem” que fabricam diariamente a sua popularidade. Há alguma coisa muito errada nisso tudo. Para que servem todas as pesquisas de aprovação popular e a fortuna que o governo gasta em propaganda se a rua demonstra que não está aprovando nada, nem acreditando no que a publicidade oficial sobre o Brasil Carinhoso lhe conta?
A primeira explicação do Palácio foi uma piada: as vaias foram dadas pela “classe média alta” que estava no estádio no dia do jogo inicial. Mas exatamente naquela mesma hora, do lado de fora, a polícia estava baixando o sarrafo numa multidão irada que protestava contra os gastos cada vez mais absurdos, a inépcia e a roubalheira frenética nas obras da Copa de 2014 que o ex-presidente Lula, Dilma e o PT consideram a suprema criação de seus dez anos de governo. A essa altura, no mundo real. a casa já tinha caído. O Brasil Carinhoso que existe nas fantasias do governo havia cedido lugar, desde a semana anterior ao Brasil Nervoso que existe na realidade nervoso, enraivecido, violento, destrutivo, irracional e exasperado contra tudo o que acontece de ruim no seu cotidiano.
Sua revolta começou contra um aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus de São Paulo, decidido pela estrela ascendente do PT o prefeito Fernando Haddad. Abriu espaço, como sempre, para marginais gente que quebra tudo, incendeia e rouba TVs de tela plana de lojas saqueadas. Vazou rapidamente para outras trinta grandes cidades e continuou durante toda a semana passada, já envolvendo um universo de 250.000 pessoas, ou mais, e colocando à luz do sol uma revolta que ia muito além de protestos contra tarifas de transporte e atos criminais. Seu recado foi claro: o rei está nu.
O povo está dizendo que este rei — o governo de farsa montado por Lula há mais de dez anos — rouba, mente, desperdiça, não trabalha, trapaceia, vai para a cama com empreiteiros de obras, entrega-se a escroques, cobra cada vez mais imposto e fornece serviços públicos que são um insulto ao país. Acha que pode comprar o povo com fornos de micro-ondas e outros badulaques de marquetagem. É covarde e hipócrita: depois de provar por A + B que o aumento das passagens era indispensável, a prefeitura paulistana, apavorada provou por A + B que não era, e cedeu a quem chamava de “baderneiros”.
Dilma por sua vez, elogiou a todos, dos manifestantes à polícia, e correu para pedir instruções a Lula — mas não admitiu que seu governo tenha a mais remota culpa por qualquer das desgraças que levaram o povo às ruas. Espera que a revolta se desfaça sozinha como em geral acontece com movimentos que não têm objetivos claros, liderança e disciplina — e volte à sua sagrada popularidade. Pode ser mais difícil, desta vez.

“Uso de animais em experimentos não é opcional”, diz pesquisadora

Por Guilherme Rosa e Juliana Santos, na VEJA.com:
Desde a invasão ao Instituto Royal, em São Roque (SP), na semana retrasada, um velho debate voltou à tona no Brasil. Ativistas, personalidades da TV e parlamentares se juntaram a uma turba de vozes das redes sociais para pedir um fim às pesquisas científicas que se utilizam de cobaias animais. Os testes foram tachados de cruéis, desnecessários e antiquados. Pesquisadores brasileiros passaram a ser vistos como monstros sádicos que utilizam procedimentos abandonados no resto do mundo em troca do lucro fácil.
Faltava nessa discussão, no entanto, uma voz importante, os próprios cientistas. Ninguém melhor do que biólogos, geneticistas, veterinários e médicos para dizer se é possível eliminar as cobaias animais nos testes. Entre os pesquisadores, a opinião é unânime: os bichos são imprescindíveis para os experimentos. Por isso, são permitidos no mundo todo; e sem eles não há como desenvolver novos remédios e tratamentos — a ciência médica poderia decretar falência no país.
“O uso de animais em experimentos não é opcional. Existem situações em que eles simplesmente não podem ser substituídos”, diz Silvana Gorniak, pesquisadora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP que realiza pesquisas com roedores para estudar o potencial terapêutico e tóxico de diversas substâncias naturais.
Seu estudo atual é sobre a planta Solanum malacoxylon, conhecida popularmente como espichadeira. “Quando consumida naturalmente, ela é tóxica. Estamos estudando se o seu princípio ativo, usado em quantidades menores e controladas, pode funcionar como um substituto da vitamina D”, explica. Para descobrir se o potencial terapêutico da planta pode se reverter em tratamentos reais, é necessário realizar testes em modelos animais. Caso a substância seja testada diretamente em cobaias humanas, o risco para os voluntários é imenso.
Segundo a cientista, a decisão de usar bichos em suas pesquisas não é simples — nenhum pesquisador faz isso porque gosta. Ademais, esse tipo de estudo é muito caro, pois o custo das cobaias animais eleva em muito o preço dos experimentos. Por isso, há décadas, laboratórios de todo o mundo procuram por métodos alternativos. Nos últimos anos surgiram novas técnicas de cultura celular e modelos de computador, capazes de substituir os animais em algumas pesquisas, mas não todas. Não há como simular o funcionamento conjunto de sistemas complexos do corpo, como o circulatório, nervoso e imunológico. “Como replicar a depressão em uma cultura de células? Não existem métodos alternativos para testar anticancerígenos, vacinas contra aids, medicamentos anti-hipertensivos. Para saber se eles funcionam, precisamos testar em animais”, diz Silvana.
Camundongos e cães
Ao contrário do que tem sido apregoado por ativistas nos últimos dias, o uso de modelos animais — mesmo pequenos roedores — é importantíssimo para o estudo de doenças em seres humanos. “O camundongo é pequeno, fácil de reproduzir, tem um curto ciclo de vida e regeneração rápida, o que o torna uma ótima cobaia. Seu genoma é muito parecido com o humano, o que ajuda a responder muitas perguntas, principalmente da área genética”, afirma a geneticista Mariz Vainzof, coordenadora do Laboratório de Proteínas Musculares e Histopatologia Comparada do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP.
É claro que nenhuma cobaia é absolutamente fiel à fisiologia humana, mas cada linhagem de animal pode fornecer respostas para questões diferentes dos pesquisadores. Os roedores são um ótimo modelo para a pesquisa conduzida por Mariz, por exemplo, mas péssimos para a depressão. Nesse caso, os pesquisadores teriam de estudar algum outro animal. Poderia ser, inclusive, um cachorro.
Em algumas pesquisas, os cientistas precisam de mais de uma espécie — cada uma responderá a questões diferentes dos cientistas. A talidomida é um exemplo da importância desse tipo de procedimento. A droga chegou às farmácias no final da década de 1950, como uma espécie de sedativo. Anos mais tarde, descobriu-se que ela era responsável por produzir deformações em recém-nascidos, levando à morte de milhares de crianças. O problema foi que a droga só havia sido testada em ratos e camundongos — animais imunes a seus efeitos adversos. Os pesquisadores deveriam ter realizado experimentos também em outras espécies, capazes de emular outros sistemas do corpo humano. Atualmente, esse erro não se repetiria.
Cuidados com as cobaias
Durante uma pesquisa científica, os animais têm de receber todos os cuidados necessários. Cobaias que sofram maus tratos podem arruinar uma pesquisa, alterar seus resultados, impedir seu financiamento e barrar sua publicação em periódicos científicos. “Não sei de onde as pessoas tiram que os cientistas estão loucos para ficar matando os bichinhos. A maioria de nós é formada em biologia. Estamos nessa área justamente porque gostamos da natureza”, afirma Mariz.
Para alguns dos pesquisadores, começar a realizar testes em animais é um choque. Mesmo com todos os cuidados, nem sempre é fácil seguir os procedimentos necessários. “Quando isso acontece com algum dos meus estudantes, eu o coloco em contato com algumas das crianças que estamos tentando tratar, com sua família. E mostro que esse é o nosso objetivo: estamos fazendo isso em prol de uma criança doente”, diz Mariz, cuja principal pesquisa busca a cura para a distrofia de Duchenne, uma doença degenerativa que atinge um entre cada 3 000 homens.
Paula Cristina Onofre Oliveira, aluna de doutorado de Mariz, é um exemplo desse tipo de pesquisador. Antes de se envolver com as pesquisas, ela havia ingressado em movimentos pela defesa dos direitos dos animais, participado de seminários e cursos que analisavam métodos substitutivos. Hoje, ela usa cobaias em seus estudos sobre a genética das doenças neuromusculares. “Não vou dizer que é fácil. Sempre tentamos minimizar o sofrimento e o número de animais, mas às vezes é impossível escapar desse tipo de experimento. Para conseguir fazer isso, temos de estar sempre pensando nos pacientes”, diz.
Preconceito animal
Gilson Volpato especialista em bem-estar animal e professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, realiza uma série de experimentos com peixes para provar que esses animais também são capazes de sofrer e sentir dor. “A pesquisa pretende mostrar que outros animais além dos cachorrinhos e gatinhos sofrem. Essa é uma crença humana: quanto mais próximo o animal do homem — e mais bonitinho ele for — mais acreditamos que ele é capaz de sofrer. Mas a ciência tem mostrado que isso não é verdade.”
Segundo Volpato, a decisão de utilizar animais em experimentos científicos só é justificada quando não existem alternativas e quando o objetivo é um bem maior. “A ciência é uma consequência direta da evolução humana. Uma ferramenta que surgiu para ajudar o homem na luta por sobrevivência na natureza. É aceitável o ser humano usar essa faculdade para resolver problemas de saúde e aumentar a longevidade”, afirma. “Nesse sentido, utilizar animais em pesquisas que podem curar doenças é um processo natural. Agora, causar sofrimento nos animais por motivos meramente lúdicos não é natural, é um absurdo.”
Enquanto a pesquisa científica seria eticamente permitida por ter objetivos maiores, diversas outras atividades rotineiramente praticadas pelo homem seriam, elas sim, cruéis e injustificáveis. “Veja a pesca esportiva, na qual o animal é fisgado, tirado da água e depois devolvido ao mar. É lógico que ele sofre — e em troca de pura diversão. Isso é sacanagem. O mesmo acontece com algumas raças de cachorro, criadas apenas para o prazer humano de ter um pet. São animais com deformações físicas, dificuldade para respirar, problemas de pele. O indivíduo pode até cuidar bem do animal, mas ele claramente sofre. E em troca do que? Em troca do indivíduo ter um cachorro para amar. Isso é pura incoerência”, afirma.
Cosméticos na mira
Pelo mesmo motivo, Gilson Volpato se coloca contra a o uso de cobaias animais em pesquisas para cosméticos — o que ainda é aprovado pela legislação brasileira. “São duas pesquisas diferentes. Uma visa um bem maior, a outra fazer um novo tipo de perfume.” Na sua opinião, a indústria da beleza deveria achar outro jeito de testar os produtos ou parar de lançá-los.
O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) admite discutir a proibição de testes de cosméticos em animais. Uma série de questões legais precisa, no entanto, ser acertadas primeiramente. “Estamos caminhando para isso, mas é uma regra que precisa ser discutida com racionalidade entre cientistas, técnicos e parlamentares”, diz Marcelo Morales, coordenador do Concea.
Debate eleitoreiro
Segundo os cientistas, a invasão do Instituto Royal tornou menos saudável a atmosfera em que o debate acontece no país, e cada vez menos racional. Laboratórios de faculdades procurados pelo site de VEJA para participar da reportagem preferiram se abster, com medo da reação de ativistas, da invasão de seus laboratórios e da perda de anos de trabalho.
Não é uma questão de criticar todas as organizações de defesa dos direitos dos animais. Segundo Volpato, a ação desses ativistas tem sido, historicamente, muito importante. “É bom ter alguém olhando e fiscalizando nosso trabalho. Em função de denúncias desses grupos, já deixamos muitas práticas para trás, verdadeiras atrocidades deixaram de ser cometidas e hoje temos uma legislação sobre esse assunto”, diz. “Mas eu queria saber daqueles que querem banir totalmente as pesquisas com animais o que eles diriam para quem tem um parente internado em um hospital.”
A volta dessa discussão entre políticos foi ainda mais atribulada e irracional. Movidos pela poderosa cena do resgate dos beagles, deputados já se pronunciaram a favor da criação de um CPI para investigar o caso e, quem sabe, proibir todos os testes com animais. As maiores autoridades no assunto não podem ficar fora dessa discussão. “Quando o político entra no debate, ele vem pensando em que posição tomar para ganhar a próxima eleição, em qual discurso será melhor para ele”, diz Volpato. “Em países sérios, os políticos ouvem os cientistas envolvidos quando discutem questões técnicas. Infelizmente no Brasil, a opinião dos cientistas costuma ser ignorada.”

Finalmente, a constatação do óbvio: o Enem virou o maior vestibular do mundo

REINALDO AZEVEDO



Finalmente o óbvio! Os leitores habituais deste blog sabem que há muito tempo afirmo que o Enem se transformou no maior vestibular do mundo. E nem poderia ser diferente. Era uma questão de lógica. Se o exame deixou de avaliar a qualidade do ensino para ser um instrumento de ingresso dos alunos nas universidades federais e se há menos vagas do que candidatos, qual é a consequência óbvia? Haverá uma disputa, certo?, e o aspecto classificatório da prova se sobrepõe ao da simples avaliação. Leiam o que informa Lecticia Maggi, na VEJA.com:
As provas da edição de 2013 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicadas neste fim de semana, apresentaram diferenças significativas em relação a outros anos: os enunciados e textos de apoio ficaram menores, enquanto as soluções das questões de matemática e ciências da natureza passaram a exigir a aplicação de fórmulas. Na avaliação do professor Luís Ricardo Arruda, coordenador do Anglo Vestibulares, não há mais dúvidas: o Enem se tornou um grande vestibular. “Saiu interpretação de texto e entrou mais conteúdo”, analisa.
Um dos mais claros exemplos dessa mudança na estrutura da avaliação federal, que vinha sendo desenhada desde 2009, quando o Enem foi transformado em vestibular das universidades federais, pode ser percebido na prova de matemática. Dentre as 45 questões de exatas deste domingo, os candidatos se depararam com equação quadrática, frações e logaritmos — itens até então pouco cobrados. “O Enem exigiu que os participantes soubessem aplicar fórmulas e dominassem, realmente, matemática. Neste ano, apareceram cálculos de figuras planas e espaciais. Já em edições anteriores, saber regra de três bastava”, afirma Arruda.
Um pouco menos complexa, a prova de linguagens apresentou como itens de apoio a letra de Até Quando, de Gabriel o Pensador e o quadro Descobrimento do Brasil, de Candido Portinari. As questões do teste ainda envolveram os hábitos de alimentação de adolescentes e relação dos jovens com a internet. Os textos da prova, em geral, encurtaram — ponto considerado positivo por Arruda: “O exame era muito cansativo, com trechos demasiadamente longos. Felizmente, esse erro foi corrigido. Nesta edição, vieram textos curtos e charmosos, que despertavam o interesse dos participantes”. Já o ponto negativo foram as alternativas de algumas questões, consideradas óbvias. Um exemplo disso é o item 99 (prova rosa), em que o candidato deveria analisar um quadro do artista polônes Pawla KucynsKiego. “A resposta (letra C) era muito fácil, não exigia nem sequer reflexão”, afirma.
Motivo de comemoração para alguns candidatos, o tema da redação deste ano, “Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil”, foi aprovado pelo professor de língua portuguesa Fernando dos Santos Andrade, do Anglo Vestibulares. “Já era esperada uma proposta que discutisse questões relacionadas à cidadania já que essa é uma característica do Enem. Mas o tema Lei Seca em si foi uma agradável surpresa”, diz.
Segundo ele, os textos de apoio à proposta de dissertação induziam o candidato a perceber os efeitos positivos da lei, mas não impediam também que abordassem suas falhas. Comparando a 2012, quando os participantes tiveram que escrever sobre movimentos imigratórios para o Brasil no século 21, o tema desta edição foi considerado mais fácil. “Por tratar-se de uma lei nacional, foi um tema amplamente divulgado e que está mais próximo da realidade dos jovens. Além disso, está relacionado a um sério problema da sociedade e que precisa de constante discussão: as mortes por embriaguez no trânsito”, afirma.
Impasse Especialistas são unânimes ao afirmar que o modelo “vestibular” do Enem veio para ficar, mas ainda requer muitos ajustes. Neste ano, pela primeira vez, a avaliação será usada como processo seletivo — ou parte dele — por todas as 59 universidades federais do país. E, segundo o Ministério da Educação (MEC), mais doze instituições de ensino já manifestaram interesse em aderir ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para preenchimento integral ou parcial de suas vagas em 2014.
Ao transformar a prova em um gigantesco vestibular, contudo, o país perde um instrumento importante de avaliação do ensino médio. Um mesmo exame não pode se prestar com eficácia a duas funções de natureza tão distinta: avaliar a etapa final da educação básica e, ao mesmo tempo, selecionar candidatos para o ensino superior. O MEC, contudo, insiste: até o fim do ano, prometeu entregar a todas as escolas um relatório detalhado sobre o desempenho dos alunos na avaliação federal. Espera-se que, com o documento, gestores e professores tenham conhecimento das principais deficiências de seus alunos e possam, assim, aprimorar as aulas. A ideia é, na verdade, um paradoxo: “O Enem, como é estruturado hoje, não avalia os conhecimento necessários dos alunos para o fim do ensino médio, somente peneira os melhores”, afirma Arruda. “Em um exame de seleção você avalia bem os melhores alunos, mas não os demais”, completa Ruben Klein, especialista em estatística e consultor da Fundação Cesgranrio.
Por Reinaldo Azevedo

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Médicos estrangeiros: nem 10% são aprovados pelo Revalida

Médicos estrangeiros: nem 10% são aprovados pelo Revalida


Somente UM QUARTO dos cubanos passam na primeira fase do exame.

por Gravatai Merengue 

Segue trecho de reportagem do G1 e já voltamos:
9,72% dos médicos são aprovados na primeira fase do Revalida – Exame é necessário para revalidação do diploma de medicina. Segunda fase ocorre em 4 de novembro. Somente 9,72% dos inscritos no Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras (Revalida) 2013, o equivalente a 155 candidatos, foram aprovados para a segunda fase do exame. Os resultados foram divulgados nesta segunda-feira (28), e os candidatos podem fazer consultas individuais no site do Inep. A segunda fase, de habilidades clínicas, na qual os participantes realizam simulações de atendimento médico, acontecerá em Brasília (DF), nos dias 30 de novembro e 1° de dezembro. Os aprovados precisam se inscrever e pagar a taxa de R$ 300 até 4 de novembro (…) Na edição de 2012, 884 pessoas de várias partes do mundo se inscreveram para o Revalida, e apenas 77 (menos de 9%) conseguiram a aprovação no exame. O Brasil respondeu pela grande maioria dos inscritos (560), mas apenas 7% dos candidatos foram aprovados. O país ficou na sexta colocação no ranking de índices de aprovação. Os países que obtiveram o maior êxito neste quesito foram Venezuela (27%) e Cuba (25%), apesar de o número absoluto de inscritos ter sido pequeno. Nenhum candidato com nacionalidade de países da Ásia, África ou América do Norte conseguiu passar na prova do MEC.” (grifos nossos)
De volta
Não é por acaso que o governo evita ao máximo que os profissionais do “Mais Médicos” façam tal exame. A badalada Cuba, vejam só, não consegue aprovar mais que um quarto de seus médicos. Imagine se o país deixa de ganhar a comissão em cima de 3/4. Não pode. Por isso, não haverá revalida aos “profissionais” do Mais Médicos.

 

Novos municípios têm baixo IDH

Em muitos casos, a emancipação não garantiu independência das cidades de origem
Um levantamento feito pelo jornal “Folha de S.Paulo” com a ajuda do IBGE revelou que a maioria dos 595 municípios criados no país desde 1997 continuam quase tão pobres como quando surgiram.
A baixa qualidade de vida ainda está presente na maioria desses novos municípios. Ao todo, 570 deles não evoluíram a ponto de superar o atual IDH de seus estados. O Índice de Desenvolvimento Humano leva em consideração renda, escolaridade e expectativa de vida.
Em muitos casos, a emancipação não garantiu independência das cidades de origem. Em entrevista à “Folha”, o economista Guilherme Mercês, da Firjan, ressaltou que a emancipação não é garantia de que a verba pública vai ter aplicação eficiente.
O Congresso aprovou recentemente novas regras para a criação de municípios. A medida está aguardando a sanção da presidente Dilma Rousseff.
Fonte: Opinião & Notícia (Folha de S. Paulo)

Contraste brutal - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP -
Paulistanos desaprovam em peso violência nos protestos, que pode pôr a perder tudo que há de legítimo e salutar nas manifestações de rua



É perceptível que as manifestações de rua em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, em geral motivadas por justa insatisfação com serviços públicos indigentes, se encontram numa encruzilhada.

A persistirem as explosões de violência que se seguem a elas, os protestos legítimos perderão cada vez mais o apoio da população. A tendência aparece claramente na pesquisa Datafolha realizada com paulistanos na sexta-feira.

Uma sólida maioria de 95% dos entrevistados desaprova a depredação que algumas dezenas de mascarados protagonizam na esteira das marchas. Outros números evidenciam a queda paulatina de simpatia pelos protestos: de 89% dos ouvidos no final de junho, o contingente dos que os apoiam caiu para 74% em 11 de setembro e agora se encontra em 66%.

Já é expressivo que, numa democracia, quase um terço desaprove as manifestações. Mas a reprovação seria maior se a pesquisa tivesse captado a reação ao espancamento de um coronel da Polícia Militar na mesma data, à noite.

As cenas demonstram uma agressão covarde; ilustrarão com clareza o despudor com que agem grupelhos parasitas de organizações mais representativas, como o Movimento Passe Livre. Estas tardam em repudiar, sem ambiguidades, os atos criminosos.

Faz falta, no campo dos que protestam, alguém com a serenidade e o desprendimento do coronel vitimado, Reynaldo Simões Rossi. Ainda há que esclarecer as circunstâncias que desencadearam o deplorável ataque, mas é digno de nota que o oficial, antes de receber atendimento médico, tenha cuidado de orientar os comandados a não usá-lo como pretexto para responder com mais violência.

O coronel, é claro, conhece a propensão da PM --não só da paulista-- para lançar mão da truculência e das prisões a esmo quando perde o controle da situação.

A polícia tem por obrigação garantir o direito constitucional de manifestação. Mas não é menor seu dever de impedir a destruição de patrimônio, público ou privado, e a violência física contra pessoas.

O que sobressai desses episódios, além do desprezo de parte dos manifestantes pelas vias pacíficas e democráticas para solucionar conflitos, é o contraste entre a atitude do coronel e a renitente incompetência da corporação policial para coibir os excessos pelos meios legais a seu alcance.

Vale dizer: com investigação preventiva, ação repressiva imediata aos primeiros atos de depredação (e não só quando o vandalismo campeia) e coleta técnica de provas para instruir processos judiciais contra os verdadeiros criminoso --e apenas contra eles.

O relatório do FMI - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR


 GAZETA DO POVO - PR -
Em vez de contestar tecnicamente, ponto por ponto, as afirmações do relatório do FMI, autoridades do governo brasileiro partem para a cantilena de sempre: criticar o órgão pelo que ele é



Nos anos 80, um dos inimigos preferidos das esquerdas era o Fundo Monetário Internacional (FMI). Criado a partir da conferência de Bretton Woods, junto com o Banco Mundial e o padrão-dólar para o comércio internacional, o FMI nasceu com a missão de fazer empréstimos em moeda estrangeira aos países com escassez de dólares para fazer importações. O órgão tornou-se alvo dos ataques de políticos, economistas e empresários que eram contra o governo porque, junto com o contrato de empréstimos, exigia um programa de austeridade fiscal e autorização para fazer auditorias nas contas do país.

Para implementar as exigências do Fundo, o governo era obrigado a apresentar uma carta de intenções, na qual se comprometia com políticas de combate à inflação, redução do déficit público, controle da dívida estatal e equilíbrio no balanço de pagamentos. Esse último ponto diz respeito ao balanço entre as entradas e as saídas de dólares do país que, segundo a cartilha do FMI, não podia ser deficitário eternamente.

Passado um período, o órgão enviava seus auditores ao país, para verificar as contas do governo e examinar o cumprimento das metas explicitadas nas cartas de intenção. Se o país não cumprisse o que ele próprio escreveu, o Fundo era implacável: cortava os empréstimos, colocava o país na lista negra e o mundo inteiro ficava sabendo dos maus indicadores econômicos nacionais. Tal situação prejudicava as relações com o resto do mundo, a taxa de juros dos empréstimos concedidos pelos bancos internacionais subia e o crédito era reduzido.

O argumento principal dos críticos do FMI era de que o órgão defendia os interesses do capitalismo internacional, suas políticas eram liberais e as medidas de austeridade fiscal e monetária conduziam à recessão e ao desemprego. Quando assumiu o governo, Lula teve a sorte de ver o Brasil ser inundado de dólares resultantes dos aumentos de preços das commodities exportadas; as reservas internacionais tiveram elevação expressiva e ele, que é um político astuto, quitou o saldo da dívida brasileira com o Fundo.

Lula, como seria previsível, fez grande estardalhaço dessa medida, anunciou ao mundo que o Brasil deixara a guilhotina do Fundo e agora não mais iria submeter-se às injunções do órgão. As esquerdas entraram em êxtase e Lula faturou popularidade política vendendo a ideia de que a quitação daquela dívida tivera origem em sua genialidade. Na prática, foi um mau negócio, pois a taxa de juros cobrada pelo FMI sobre os empréstimos era de 3% ao ano, quando o Brasil devia, e continua devendo, a outros bancos estrangeiros pagando taxa de juros muito maior.

O FMI perdeu o direito de auditar o Brasil e de exigir o cumprimento de metas econômicas, mas não perdeu o direito de fazer relatórios sobre o país. O órgão acaba de publicar suas impressões sobre o Brasil e, por mais que a presidente Dilma insista em dizer o contrário, também o FMI endossa o que todos já sabem: as contas públicas pioraram, o déficit fiscal nominal está aumentando, a dívida bruta está crescendo e, mesmo com as alterações na forma de calcular a dívida, Dilma terminará seu mandato com resultados piores do que quando assumiu.

Mas a principal crítica do FMI não é ao estado atual das contas – as quais, reconheça-se, não estão deterioradas –, mas à tendência das contas e dos indicadores. Para o Fundo, essa tendência é de piora e, mais cedo ou mais tarde, o país terá de impor medidas de austeridade, caso queira recuperar a saúde financeira. O equívoco cometido pelo governo é que, em vez de contestar tecnicamente, ponto por ponto, as afirmações do relatório do Fundo, algumas altas autoridades partem para a cantilena de sempre: criticar o órgão pelo que ele é.

Se o FMI está errado, o governo só teria a ganhar se expusesse com clareza onde estão os erros e as inconsistências do relatório. Se não age assim, o governo abre espaço para a crença de que o relatório está certo e, sem argumentos, volta-se conta os autores para tentar desacreditar as afirmações que eles fazem. Só que, em pleno ano de 2013, os tempos são outros e o FMI não é mais visto como um inimigo da pátria e muito menos um monstro a serviço do capitalismo internacional. O caso agora é que se trata de um simples relatório de análise econômica que deveria merecer um debate técnico de alto nível. Nada além disso.

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