O PT e o medo das urnas
Alfredo Brandão Horsth
Advogado, presidente da Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários em Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Distrito Federal
Correio Braziliense –
A decisão as cúpula petista de orientar o Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a se misturarem às manifestações de rua em todo o país, com a clara intenção de tentar dirigi-las de alguma forma, ou pelo menos “blindar” o governo federal das críticas espontâneas que surgem em todo o país, revela um rosto até então desconhecido da legenda: O medo das ruas.
A verdade é que, desde que a atrasada “primavera brasileira” floresceu, o petismo tromba com os seus próprios aprendizados e convicções, perdido entre a busca de um discurso defensivo convincente – como o que sempre pendura no passado ou em circunstâncias fora de seu domínio a responsabilidade pelas inúmeras deficiências de seu governo – ou, melhor ainda, uma estratégia de providencial aderência à insurreição popular, que o removeu do lugar de aliado histórico para a posição incômoda de alvo de graves questionamentos, contradições, desvios e frustações.
Pretensiosa e equivocada, a decisão de tentar aparelhar o movimento revela muito sobre esse novo PT. Revela, sobretudo, um grande desrespeito pela população que diz representar. A tentativa de transformar milhares de manifestantes em massa de manobra de sindicatos aparelhados e de interesses partidários ofende a integridade e a legitimidade de um movimento que preferencialmente tem atacado práticas e desvios nitidamente petistas, no campo da corrupção e da gestão.
De norte a sul do país, reverberam os protestos contra o fabuloso volume de recursos públicos desperdiçados na Copa, enquanto áreas essenciais à vida dos cidadãos ficam à mingua – como o transporte, a saúde e a segurança. A corrupção endêmica é o denso pano de fundo dos protestos.
A iniciativa da cúpula petista carrega, ainda, aquele viés autoritário que há muito vem sendo denunciado em outros campos. Afinal, se o PT quer fazer uma manifestação sua – e tem o direito de fazê-lo -, por que não a convocou para um dia e local diferente das que estão ocorrendo espontaneamente e que não querem participação de partidos? Por que tentar se apropriar de sonhos e esperanças que não são seus?
A resposta é simples: porque o que o partido e seus sindicatos amestrados querem é evitar manifestações alheias aos seus interesses ou domínio. Atuam, assim, como se fossem os donos da rua. Como compreender, afinal, que tamanha mobilização esteja ocorrendo sem que, em nenhum momento, tivesse passado pelas suas “bases”, totalmente instrumentalizados pelo poder?
A missão dos petistas em Belo Horizonte e em outras cidades é clara – entoar palavras de ordem que ofusquem as críticas ao partido e ao governo federal, torcendo para que manifestantes não percebam a manipulação e façam coro. No fundo, é uma tentativa de assinar o novo para manter o velho com seus privilégios, injustiças e distorções.





0 comments:
Postar um comentário