Carlos Arouck
Essa experiência da qual falo foi adquirida, dia após dia, sob condições bastante difíceis na região onde convivi com os mais diferenciados segmentos: silvícolas, ongs estrangeiras, militares, ambientalistas, Funai, diplomatas, missionários, autoridades locais, guerrilheiros, contrabandistas, entre outros. Todos com interesses nas grandes riquezas amazônicas.
Pude ouvir suas demandas, analisar o que não era dito, perceber como eram postas em prática as políticas públicas no local, compreender melhor o Norte e suas mazelas. Não vou contar aqui as aventuras passadas, apenas que elas me fizeram compreender melhor que nem sempre o discurso bonito e os projetos bem elaborados são a resposta apropriada para as complexidades regionais.
Vamos aos fatos. Por decisão governamental, uma área de 47 mil quilômetros, rica em cobre e outros minerais, poderá ser agora explorada pela iniciativa privada, após mais de trinta anos fechada à exploração. Gritaria geral! Rapidamente, nas redes sociais, artistas e “especialistas” começaram a exclamar sua indignação, hashtag SOS Amazônia.
Aposto que praticamente nenhum deles conviveu com os habitantes locais, se informou realmente sobre a região e sequer colocou os pés na terra que supostamente defendem. Constatei “in loco” como é falacioso o mito da reserva intocada.
Voltando a falar sobre o tempo que ali passei quando mais jovem, destaco que minha atividade policial visava, entre outras atribuições, a defesa das riquezas locais.
Vou citar alguns exemplos, como proteger a retirada de madeira de lei por peruanos, contrabandeada para o outro lado da fronteira, ou mesmo a mineração ilegal que permitia a saída de importantes minérios tranquilamente pelas fronteiras, enriquecendo traficantes e outros países.
Não raro, em minhas andanças no meio do mato, pude ouvir o barulho das motosserras, esse equipamento que tanto aparece em charges, porém que a grande maioria nunca viu de perto.
A verdade é que em nosso País o ideal não existe.
Querem manter um paraíso ecológico preservado e intocável, e para isso é necessária uma fiscalização rígida. Colocar uns poucos homens na fronteira não garante essa tarefa, apesar de muitos terem dado o melhor de si e tombado em conflito com criminosos bem armados em emboscadas. Uma possível solução seria permitir a exploração por uma empresa de renome, considerada apta a garantir, ao mesmo tempo, a legislação ambiental.
Com dinheiro rolando, o governo recebendo sua parte, a empresa faturando, trabalhadores cadastrados realizando a mineração, é mais fácil fiscalizar porque toda a atividade que já existe hoje se tornaria legal e estaria condicionada às leis em vigor. Multas poderiam ser aplicadas, licenças suspensas em casos de desrespeito e riquezas geradas para o País.
Essas riquezas estão lá e hoje o Brasil precisa delas para o desenvolvimento da região e da Nação como um todo. Se o brasileiro não explorar seus bens, outros vão fazê-lo em seu lugar e de forma rudimentar, agressiva ao meio ambiente.
Por exemplo, garimpeiros criminosos usam mercúrio para facilitar a exploração mineral mesmo sabendo que a substância contamina o solo, a água e os seres humanos. Fazem isso por ser mais rápido e barato, com medo de serem pegos não têm tempo a perder. E nem regulamentos a cumprir, uma vez que agem na clandestinidade.
Em pleno ano de 2020, com a tecnologia de ponta disponível, a exploração sustentável é uma alternativa para resolver com inteligência esse impasse. Tentar fiscalizar uma área não explorada é uma missão difícil para um país de primeiro mundo, imagine para o Brasil. Um país como o nosso, em luta para sair da crise, não pode abrir mão de suas riquezas em momento de fragilidade financeira alegando a hipótese da destruição ambiental com viés ideológico. Como o Brasil e seu povo com renda per capita tão baixa e dívida quase impagável pode deixar suas riquezas “intocadas” sob justificativa de que a entrega à iniciativa privada nacional ou estrangeira estaria colocando em risco a nossa soberania?
A reserva criada no regime militar tinha como objetivo futuras explorações previstas em lei. Por que ouvimos e acreditamos em ONGs internacionais e nacionais sobre as quais nem sabemos a verdadeira origem e suas pretensões?
A Amazônia legal é uma riqueza do povo brasileiro e deve ser explorada, sim, sob nossa tutela, principalmente agora que estamos tentando sair “do fundo do poço”. Já chegou a hora de aprendermos a ganhar com o que temos e a respeitar nosso bem maior que é o patrimônio nacional. Todos os brasileiros devem e podem participar dessa fiscalização ambiental.
Nos dias atuais, o argumento de preservar sem usufruir não se sustenta mais. Corremos riscos? Sim, mas esses riscos são ainda maiores se mantivermos a inércia mantida até o momento. Devemos ter em mente que a degradação do meio ambiente causada por explorações ilegais é muito maior que qualquer atividade legal na nossa floresta.
Termino citando James Lovelock:
“Não é a terra que é frágil. Nós é que somos frágeis. A natureza tem resistido a catástrofes muito piores do que as que produzimos. Nada do que fazemos destruirá a natureza. Mas podemos facilmente nos destruir.”
PUBLICADAEMhttp://rota2014.blogspot.com/2020/10/o-relato-de-um-policial-federal-carlos.html
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