Jornalista Andrade Junior

domingo, 25 de outubro de 2020

Facebook já faturou R$ 8,7 milhões com impulsionamentos de propaganda de candidatos nas disputas municipais

 Bruno Ribeiro

Estadão

Seja por repasses diretos, seja através de subcontratadas, o Facebook é a empresa que mais faturou com as eleições municipais nestas três primeiras semanas de campanha, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Até esta quarta-feira, dia 21, 3.144 candidatos de todo o País haviam declarado gasto de R$ 8,7 milhões com impulsionamento de propaganda na internet para a rede social norte-americana. No topo da lista, está o candidato à reeleição para a Prefeitura de São Paulo, Bruno Covas (PSDB).

RECURSOS – O tucano  declarou à Justiça Eleitoral um gasto de R$ 200 mil para que a rede social exibisse suas mensagens para mais pessoas. Sua campanha confirma ter feito tal compra, mas afirma que nem todos os recursos já foram gastos e que, no decorrer da campanha, parte desse valor poderá não ser utilizado.

O Facebook permite que anunciantes modulem os anúncios que querem espalhar para grupos específicos. É possível escolher se o objetivo é que mais homens ou mais mulheres vejam a mensagem, de qual faixa etária específica, ou de determinados gostos. Um usuário da rede que, por exemplo, passa mais tempo vendo fotos do cães e curte páginas de proteção à espécie é mais propenso a receber anúncios de pessoas que escolheram atingir amantes de cachorros.

É o que fez a candidata a vereadora que mais gastou (R$ 180,4 mil) com o impulsionamento na campanha, Andreza Romero (PP), do Recife. “Nossas propostas ressaltam a importância da causa animal, e grande parte das pessoas sensíveis ao nosso trabalho com os animais está nas redes sociais”, informa sua campanha.

NICHO IDEOLÓGICO – “Nós apostamos em um nicho de eleitores mais ideológico, que acompanham nosso trabalho de resgate e ajuda a protetores e ativistas não de agora, mas há anos”, afirma.

Essa possibilidade de direcionamento de mensagens específicas para certos públicos está no centro das denúncias de manipulação eleitoral em outros países a partir de 2015 por meio da rede social. Nestas eleições, a rede tem uma página onde algumas informações sobre os anúncios são divulgadas. Não é possível ver quem a página anunciante queria atingir, mas é possível verificar, em cada anúncio, qual o perfil do público mais atingido.

No caso de Covas, as propagandas impulsionadas que trataram da volta às aulas foram mais vistas por mulheres acima dos 35 anos no Estado de São Paulo – sua campanha afirma que, por uma questão de estratégia, não comentaria o perfil do eleitor que busca atingir nas propagandas.

VANTAGENS –  O cientista político Cleyton Monte, do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias (Lepem) da Universidade Federal do Ceará, explica que a minirreforma eleitoral, que é válida nesta eleição, permite esses impulsionamentos. Uma das vantagens desse modelo, afirma, é que o candidato chega a mais pessoas “se tiver uma campanha com mensagem clara, com proposta de marketing coerente”.

Por outro lado, aponta Monte, quem tem mais espaço nas redes sociais são os que pagam por impulsionamento, para ter seu nome priorizado em sites de busca. “Então existe uma desigualdade em relação ao poder econômico dos candidatos. Quem tem mais poder econômico para investir, quando muitas vezes são as grandes campanhas, acaba tendo um maior acesso, uma maior capilaridade nestes espaços”, avalia.

PROPOSTAS – “Por ser a internet um meio mais democrático do que as mídias tradicionais, propicia ao eleitor oportunidade para conhecer um número maior de candidatos, suas propostas e seus históricos”, pondera Djalma Pinto, também cientista político e especialista em Direito Eleitoral. “Na internet, não há tempo limitado como na propaganda eleitoral no rádio e na TV, mídias em que esse tempo é distribuído sem qualquer respeito à isonomia entre os candidatos”, avalia.

O Facebook faturou, diretamente, R$ 2,3 milhões, segundo os dados do TSE. Mas parte das candidaturas está declarando os gastos como repasses às empresas DLocal (R$ 4 milhões) e Adyen (2,4 milhões), que são empresas de pagamento eletrônico, com sede na Ilha de Malta e na Holanda, respectivamente, usadas pela rede social para receber as faturas. Parte dos recursos vem do fundo eleitoral.

CAMPANHA EM FORTALEZA – Apesar da liderança de Bruno Covas, é em Fortaleza que a disputa pela internet é mais acirrada. Das dez campanhas do País que mais gastaram com impulsionamento de postagens, quatro são da capital cearense.

Líder de gastos, com 181 mil, Célio Studart (PV), candidato à prefeitura, foi eleito em 2016 o vereador mais votado das regiões Norte e Nordeste do País, utilizando também as redes sociais. Com a pandemia, afirmou, foi preciso intensificar a campanha virtual este ano. “É impensável a realização de agendas de rua e formatos tradicionais de campanha que possam ocasionar aglomerações e impactos negativos na saúde da população, restando o campo virtual o mais responsável para a atuação política”, disse.

Capitão Wagner, candidato à prefeitura de Fortaleza pelo Pros, também faz ligação entre os gastos e a crise sanitária e argumenta que “nenhuma campanha hoje, no Brasil, abre mão das redes sociais”. Wagner, que já gastou R$ 130 mil, ressalta que as ações são feitas “dentro das normas da legislação eleitoral”.























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