Presidentes e técnicos não fazem parte de nossa família. Vamos fingir que somos órfãos.
Na missa do sétimo dia, dia 15 de julho, poderemos enfim olhar para a
frente. Sem cabeça erguida nem abaixada. Sem orar nem chorar. Olhar
adiante, pensar no futuro do Brasil e mirar no centro da meta. Vamos
preencher os espaços vazios, sem violência, e cuidar dos fundamentos de
uma nação que engatinha na escola da civilização. Qualquer criancinha
conhece esses fundamentos. São os direitos das categorias de base do
cidadão, que andam mais em falta que um bom futebol...
Sem perder a alegria espontânea, vamos planejar com seriedade, suor e
competência, sem oba-oba e sem jeitinho. Reunidos aqui, abraçados,
podemos até cantar o Hino Nacional, mas vamos parar de nos ajoelhar, de
erguer os dedinhos para o céu e de rezar para que algum deus atenda a
nossos desejos e torne nossos políticos verdadeiros servidores públicos.
Quantos jogam para o conjunto e não para seus bolsos ou de seus clãs
herdeiros?
Sobretudo, vamos parar de olhar para o líder como se fosse pai ou mãe.
Presidentes e técnicos não fazem parte de nossa família. Façamos de
conta que somos órfãos. E, quem sabe, aí a gente aprenderá a influenciar
o destino e a virar o placar, a evitar os vexames do cotidiano e as
goleadas mundiais nos campeonatos de educação, saúde, segurança,
infraestrutura, cuidados com crianças e idosos. O Brasil precisa mostrar
para si mesmo que tem capacidade de reação e de renovação. Criatividade
e pragmatismo não são excludentes.
A quem se queixar de que associo futebol a política ou a quem me acusar
de fazer o jogo de algum partido, queria deixar claro que só torço
mesmo pelo Brasil – e, carioca, também pelo Rio de Janeiro, Estado com
uma das escalações mais desoladoras da federação nas próximas eleições.
Como eleitora e torcedora brasileira, vi oportunismo explícito de todos
os partidos durante a Copa das Copas. Não foi apenas da oposição, que
esteve mais discreta do que se esperava. Logo no primeiro dia, a
presidente Dilma Rousseff, ao se refugiar nas sombras do Itaquerão como
se fosse clandestina, ao lado do presidente da Fifa, Joseph
Blablablatter, esquivou-se de seu papel de anfitriã para escapar às
vaias, foi xingada. Depois pediu o apoio de Lula – mais invisível que
Fred – para agredir a “elite branca” e politizar a Copa do “nós” contra
“eles” em comícios ufanistas.
Quando o povo adentrou o gramado encantando os gringos, quando os
assaltantes tiraram férias, quando nenhum estádio desabou – só um
viaduto, com “apenas duas mortes” – e quando a Seleção continuou de pé,
só desabando em lágrimas para cobrar pênaltis, Dilma decidiu aproveitar
politicamente a Copa. Atacou os pessimistas que previram o caos e
protestaram contra os gastos excessivos e os estádios elefantes brancos.
Caiu na esparrela de declarar em 2013: “Meu governo é padrão Felipão”.
Faltou cautela a ambos.
Dilma esqueceu o meio-campo, a zaga e quis colher os louros e os
mulatos prematuramente. Achou-se popular e antenada ao fazer o “É Tóis”
do Neymar nas redes sociais. Agora, defende “a renovação” no futebol.
Foi a pior besteira. Defender a intervenção do Estado no futebol e
afirmar que o Brasil precisa parar de exportar jogadores. Se alguém tem
medo de um Estado mais interventor nos próximos quatro anos, essa
declaração só fez temer a onipotência.
Felipão tem muito a ensinar a Dilma. Como técnico, foi o melhor
garoto-propaganda dos treinadores da Copa. Toda hora o país o via
vendendo alguma coisa na televisão. Não soube convocar. Não soube
escalar. Não soube reagir. Chegou a admitir que deveria ter chamado
outros jogadores – àquela altura, um erro. Apelou a uma psicóloga, como
se o problema fosse exclusivamente emocional. Onde já se viu uma Seleção
transformar em desvantagem o fato de jogar em casa, com a torcida?
Ao treinar um time sem dois craques, Neymar e Thiago Silva, Felipão
decidiu “confundir o técnico deles (alemães)”. “Vocês da imprensa
estavam todos lá (na Granja Comary) e iam passar o que treinamos para os
alemães.” Felipão também adota o “Padrão Dilma/Lula”. A culpa é sempre
da imprensa. O professor deixou tão confusa a turminha que os alemães
decidiram tirar o pé do acelerador no intervalo, em respeito aos
canarinhos. “Sentimos que estavam perdidos”, afirmou o técnico alemão
Joachim Löw.
Na hora de chamar a responsabilidade dos 7 a 1 para si, Felipão exibiu
planilhas para dizer que foi bem. Exaltou seu trabalho e da equipe
técnica. Atribuiu a goleada a uma “pane de seis minutos”, dos outros,
claro, dele não. Foi uma entrevista coletiva para esquecer. Não me digam
agora que aconteceu o inexplicável. Tudo está mais do que explicado. É a
falta que faz um bom líder, em campo e fora dele.
Fonte: Por RUTH DE AQUINO, revista Época -
fonte - blogdosombra





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