#vamosmudarbrasilia
Milton
Pires
Quando eu
tinha 18 anos de idade conheci, no início da faculdade de medicina, uma colega
por quem em pouco tempo me apaixonei. Evidentemente sem retribuir em nada ao
meu sentimento e constrangida com os constantes convites para sair, a moça, um dia muito preocupada, me disse:
“Milton, acho que tu estás confundindo as coisas: não quero te magoar, sabe?”
Não
preciso dizer para vocês como fiquei me sentindo depois. Todos nós, homens ou
mulheres, já levamos “foras” nessa vida. Lembro que, acima de tudo, eu pensei o
seguinte: “aguenta firme: ninguém é obrigado a gostar de ti. Além disso,
mulheres mudam de ideia com relação a esse tipo de coisa..” Pois bem, meus
amigos – não houve “mudança de ideia” no meu caso. O que aconteceu foi o
seguinte: não contente com aquilo que havia me dito, a tal “moça” resolveu
tornar “conhecida” de todos os nossos colegas de aula essa história que contei
a vocês..
O nome do
sentimento que fiquei e que descrevi no primeiro parágrafo é humilhação. A
humilhação é um sentimento individual. Não acredito que possa ser compartilhado
de maneira plena. Pergunto (e aí entro
no assunto do texto) portanto como explicar essa sensação que percorre o Brasil
inteiro depois do sete a um que tomamos da Alemanha e do terceiro lugar que
cedemos à Holanda. A resposta não está na importância do futebol nem no
despreparo do nosso time. A categoria que une a minha história na faculdade com
a relação que temos com o futebol é a “paixão”.
Não
existe termo mais distorcido, mais mal empregado e desconhecido no mundo
ocidental do que “paixão”. Paixão é, antes de tudo, a impossibilidade da razão.
Não faz diferença alguma se tratamos de amor ou futebol: todo apaixonado –
concretizando ou não sua paixão – é um infeliz...é alguém incapaz de guardar
para si mesmo aquela quantidade de amor mínima para se poder amar alguém ou
alguma coisa: o amor-próprio. Se conseguirmos aceitar nossa paixão pelo
futebol, conseguiremos compreender que depositamos na correria atrás de uma
bola a autoestima da nossa nação, a visão que temos de nós mesmos e a nossa
capacidade de nos reerguermos depois de cada tombo levado.
Meus
amigos, o Brasil pagou um preço imenso pela Copa do PT. O que se desviou de
dinheiro púbico, o que se superfaturou com obras sem licitação e realizadas na
última hora..o que se perdeu na economia em dias parados por causa de jogos da
seleção ainda está sendo contabilizado, mas não há dúvida que foi um momento
ímpar na história do sentimento que o brasileiro pode (ainda) ter pelo seu
país...Foi uma espécie de “Milton, tu estás confundindo as coisas e eu não
quero te magoar” que pegou 200 milhões de apaixonados de 18 anos desprevenidos,
totalmente abestalhados e hipnotizados pelo seu “amor inventado”...
É muito
triste, mesmo para um escritor amador, tentar fazer a crônica de uma sociedade
através do esporte. Nunca gostei do jornalismo desportivo..Aliás, em se
tratando do Brasil, não gosto de jornalismo algum, mas é patética a necessidade
de me remeter ao futebol para tirar as devidas conclusões necessárias sobre a
nossa relação com a ideia de país. A síntese necessária é a seguinte: nós não
temos “ideia alguma” do que venha a ser amor a pátria e respeito pela nação.
Nós não somos capazes de nos mobilizar por mais nada que não seja carnaval e
futebol..Nós não guardamos pelas nossas mulheres o respeito mínimo que nos
faria mandar para o inferno o jornal americano que descreveu a paixão delas por
“estrangeiros” durante a Copa...Nós já esquecemos o viaduto de Belo Horizonte e
a filha da motorista esmagada por ele..Nós não reparamos mais nas obras pela
metade nem no silêncio sobre o Decreto 8243 que promete nos transformar, a
todos, numa espécie de União Soviética que fala português...tudo isso já foi
esquecido: o sete a um que levamos da Alemanha e o terceiro lugar cedido à
Holanda também vão ser...Fica só a humilhação..o
sentimento de ridículo que eu tive na faculdade de medicina...é a Copa de 2014 contando para o mundo inteiro o que PT
fez conosco...Dor de cotovelo depois do... Fora que levamos de nós Mesmos
Dedicado
à “mulherada furiosa” do Inglourious..Sou apaixonado por vocês...não
espalhem...
Porto Alegre,
Fonte – diplomatizzando





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