Para
o Foro de São Paulo, não existem leis a serem respeitadas ou estatutos
próprios que não possam ser rasgados, pisoteados ou descumpridos, desde
que estejam a serviço dos seus camaradas.
Mas a imprensa nacional, como sempre, brilha por seu silêncio cúmplice.
O
mês de abril foi brindado com duas eleições na América do Sul,
importantes e díspares em suas razões, e que por isso mesmo revelam os
dois pesos e duas medidas empregadas pelo Foro de São Paulo (FSP), que
continua mandando na região. Refiro-me à fraudulenta eleição
presidencial da Venezuela e a democrática eleição no Paraguai, ocorridas
nos dias 14 e 21 respectivamente.
Como
todos devem recordar, com a morte de Hugo Chávez fazia-se necessária a
eleição de um novo presidente, sendo indicado o então chanceler Nicolás
Maduro que havia sido escolhido desde a década dos 80 pela ditadura
cubana. Em Cuba, foi treinado como agente mas não pôde assumir o poder
logo pois havia um Chávez no caminho. A idéia de fazer de Chávez
candidato nas eleições do ano passado, antecipadas para outubro por
causa de sua enfermidade, foi desde aí um golpe e uma fraude em si
mesmos, pois tanto ele quanto seu preposto Nicolás Maduro, assim como os
verdadeiros mandantes da Venezuela, os irmãos Castro, sabiam que Chávez
não chegaria vivo para mais um mandato.
Passando
por cima da Constituição, as altas cortes venezuelanas permitiram que
Maduro fosse empossado no lugar do presidente da Assembléia Nacional,
Diosdado Cabello, quando Chávez não pôde tomar posse em 10 de janeiro
porque estava em Cuba numa nebulosa recuperação pós-operatória. Nessa
ocasião, esta usurpação de poder recebeu o aval e apoio incondicional do
FSP e seus braços, UNASUR, MERCOSUL e CELAC, que não viram qualquer
ilegalidade em que se rasgasse a Carta Magna para satisfazer os
caprichos da criminosa organização. À farsa, que foi executada com
juramento e faixa presidencial, assistiram e aplaudiram os mesmos países
que, em junho do ano passado, condenaram e tentaram um golpe de Estado
na destituição legal e constitucional do então presidente Fernando Lugo
do Paraguai.
As
coisas aconteceram simultaneamente: Chávez já havia sido informado de
que não tinha sequer um ano de vida mais, entretanto, por orientação dos
Castro diz que está curado do câncer e se candidata a mais um período
presidencial, para garantir seu sucessor. Enquanto isso, os chanceleres
dos países do MERCOSUL invadem o Parlamento paraguaio para impedir a
destituição de Lugo que eles consideravam golpe de Estado, não vendo na
ação praticada por eles uma ingerência nos assuntos internos de outro
país, como gostam de alegar que fazem seus opositores.
Após
a destituição de Lugo, num conchavo urdido entre os presidentes do
Brasil, Argentina e Uruguai, suspende-se o Paraguai e imediatamente dão
ingresso à Venezuela no MERCOSUL, mais uma vez passando por cima das
leis e do próprio estatuto da entidade, uma vez que o ingresso ou
exclusão de um país neste bloco é feita única e exclusivamente pelo
poder Legislativo. Esta arbitrariedade sem precedentes contou com o
apoio dos países da região eleitos democraticamente como o Chile e a
Colômbia, além dos membros do FSP.
No domingo 14 Maduro venceu com a maior fraude eleitoral que já se tenha ouvido na história da Venezuela,
fato que foi prontamente contestado pela oposição que pediu uma
auditoria. A presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) levou dias
para acatar o pedido da oposição enquanto Maduro apressou-se em marcar a
data de sua juramentação. Logo após ser empossado, o usurpador mandou
de volta o embaixador dos Estados Unidos numa retaliação a este país por
não tê-lo reconhecido de imediato como presidente, que afirmou
preferir aguardar a auditoria. Maduro fez ameaças grosseiras, tanto aos
Estados Unidos quanto à Espanha por levantarem suspeitas sobre sua
“vitória”.
Por
outro lado, no domingo 21, logo após ser dado o resultado das eleições
paraguaias que elegeu Horacio Cartes, do Partido Colorado, Cristina
Kirchner, que fora uma das artífices da suspensão do Paraguai no
MERCOSUL junto com Dilma e Mujica, execrando e não reconhecendo o
presidente Federico Franco como presidente legítimo, enviou-lhe uma
mensagem dizendo que o dito órgão esperava o Paraguai “de braços
abertos”. Por sua vez, a presidente do Brasil enviou um comunicado ao
novo presidente impondo “condições” para o retorno desse país ao bloco
comercial: exige que para o fim da suspensão o Paraguai aceite legal e
oficialmente o ingresso da Venezuela, “esquecendo-se”, mais uma vez, que
quem determina o ingresso ou não de um país à instituição não são os
presidentes e sim seus parlamentares, que já deram mostras de que não
pretendem se ajoelhar perante os poderosos vizinhos.
Como
se pode ver, para o FSP não existem leis a serem respeitadas ou
estatutos próprios que não possam ser rasgados, pisoteados ou
descumpridos, desde que estejam a serviço dos seus camaradas e que
deliberadamente prejudiquem aqueles que lhes são incômodos, como o caso
do pequenino grande país que não se dobra às vontades desta organização
criminosa que é o Foro de São Paulo. Estes são os casos mais
desavergonhados e asquerosos de dois pesos e duas medidas que se tem
conhecimento em nosso continente, mas a imprensa nacional, como sempre,
brilha por seu silêncio cúmplice.
Publicado no jornal Inconfidência.
0 comments:
Postar um comentário