O 31 DE MARÇO DE 1964
O que eu sei é o
que eu vi naquela época.
Almino Alfonso, Darcy Ribeiro e
outros fazendo conferencia na USP onde eu cursava o quarto ano de Engenharia, e
onde o Serra era meu colega e ainda presidia a UNE. Eles mostravam como seria o
Brasil depois das tais reformas de base. Nada mais nada menos que transformar
em mais um satélite da antiga URSS, como já era Cuba na América. Assustava, mas
impressionava a plateia. Meia dúzia de paus mandados aplaudia entusiasticamente
da mesma forma como fazem hoje, para dar clima de euforia.
A perplexidade era geral, e
até os mais céticos estavam preocupados. No entanto, havia uma esperança dada a
resistência dos governos de São Paulo, Minas e do Rio de Janeiro, que com
tropas leais, estavam dispostos a enfrentar a coisa. É bom que fique claro,
portanto, que não foram só os militares que entraram em cena, mas governos
Civis e a própria população saindo na rua clamando e protestando contra o que
esta por vir.
Acho até que foi a precipitação do
General Mourão Filho, partindo com suas parcas tropas de Juiz de Fora, quem
forçou a entrada dos Militares na coisa. Lembro-me perfeitamente quando o
Comandante do II Exército sediado em S. Paulo, General Kruel, e que havia
sido ministro do próprio Jango, propôs a ele endurecer com as esquerdas para
que as coisas pudessem acalmar. Sem êxito, acabou marchando com os outros
comandantes para sitiar o Estado da Guanabara, dando inicio ao movimento.
Na verdade, foi um alivio
geral e disso lembro-me muito bem. Pouca gente foi contra, mas aceitaram como a
melhor solução para o momento. A paz voltou e o Brasil pôde caminhar
novamente.
Lembro-me ainda, e
muito bem, que as coisas passaram a melhorar a tal ponto em relação aos
governos anteriores, que não havia quem não estivesse satisfeito. O Brasil
progredia, e havia real crescimento econômico batendo alguns anos depois nos 10 /11 %. O governo
militar foi fartamente apoiado. Até amigos e antigos políticos da esquerda se
sentiram surpresos e satis feitos. Aliás, o crescimento era
realmente sentido e não como os de hoje, puras mentiras fartamente ditas pelos
governantes para um povo que não sabe ler índice econômico. Não havia corrupção
nem bandidagem. E, nenhum General presidente ou ministro ficou rico como
depois.
Tudo ia bem, até colocarem a
bomba nos Guararapes em Recife. Foi uma surpresa a todos. A partir daí
soubemos da existên cia
de um movimento terrorista. Foi quando, então, o governo
emitiu o AI - 5
e a coisa endureceu.
Portanto, a mim ninguém engana
e não faz a historia mudar como estão tentando fazer. Havia paz e prosperidade
sim e não havia manifestação contra o regime
instalado, muito pelo contrário. Apenas ações extremistas pipocavam, e isso é
importante, totalmente condenadas pela grande maioria da população. A grande
verdade é essa. Além disso, essas ações só atrapalharam porque acabaram por
prolongar ainda mais o retorno à normalidade institucional, e que só aconteceu
por meios pacíficos, quando o terror já estava extinto.
JAMAIS LUTARAM CONTRA O
REGIME, MAS PARA INSTALAR UM OUTRO REGIME. E, os torturados não foram pessoas
que trabalhavam, produziam e viviam em paz, mas apenas e tão somente aqueles
que radicalizaram. Disso eu sei por que eu co
nhecia
muitas pessoas que por fanatismo ou por indução acabaram sendo perseguidas.
Eu precisava falar disso porque eu
tenho visto, lido e ouvido tanta besteira e principalmente mentiras que tem me
enojado. Fui testemunha viva e quero deixar claro, eu também fui e sou contra o
Regime Militar assim como eram muitas pessoas e até mui
tos
militares. Mas fui a favor da ação na época. Era um mal necessário. Não havia
outra saída.
O grande problema é que os terroristas de
ontem conseguiram
chegar democraticamente ao poder, até com a ajuda da impren
sa
e de empresas. Mas não tenham duvidas, o que eles não querem é manter a
democracia. Chegaram lá, mas não vão sair facilmente, igualzinho ao que o Hugo
Chavez fez na Venezuela.
Para complicar, hoje as forças
armadas estão enfraquecidas. Há tempos estão sendo desprezadas e não existem
mais gene rais
e oficiais como os de antigamente. Então, pouco se pode contar com eles. Hoje,
pretende-se que sejam também aparelha das para servir ao
Governo e não ao Brasil, com o único objetivo de manter-se no poder. Uma pena
que estejam aceitando isso também.
Essa tal comissão da verdade
era o que faltava para pisar ainda mais no calo. Só humilhação.
Agora abaixaram a cabeça e nem
comemoração pelo 31 de Março vai haver.
É o fim.
Miguel Pellicciari
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