AS MÃOS DOS GATOS OU OS PRÓPRIOS GATOS? De Paulo Chagas
(Meu comentário construtivo sobre o artigo “O 31
de março e as mãos do gato”, do jornalista Carlos Chagas)
Caros amigos
Gosto do Sr Carlos Chagas. Houve vezes em minha
vida que trocaram o meu Paulo pelo Carlos dele. É a fama do famoso se impondo à
simplicidade do comum. Não somos parentes, embora haja quem diga que todos os
Chagas são parentes. Walmor Chagas, por exemplo, era primo do meu pai!
Com tudo isto e dentro da minha simplicidade
comum, ouso democraticamente discordar, em parte, do famoso da “família”.
Não sou um “furibundo defensor de tudo o que
aconteceu nos 21 anos do regime militar”, mas incorporo-me à parte da população
que teria apoiado, não o golpe, como impropriamente menciona, mas o
contragolpe se, à época do evento, tivesse maturidade para compreendê-lo, o que
os anos, a curiosidade, o estudo, a pesquisa, a responsabilidade e o
patriotismo se encarregaram de fazer.
Inicio meus retoques sugerindo a substituição da
referência à magnanimidade do Sr João Goulart, por não ter autorizado a
resistência armada, pela lógica da aceitação da derrota de seu “esquema
militar” que, como o articulista bem diz no parágrafo seguinte, sucumbiu ao
movimento das tropas e rendeu-se à eloquência do movimento cívico. Não havia
qualquer condição para a resistência, armada ou não, e o Sr Goulart sabia disso
e, como socialista latifundiário que era, voou “para uma de suas
fazendas” e acabou no Uruguai”, preocupado em não ser preso, responsabilizado e
punido pela baderna que acabara por deixar instalar-se no Brasil.
Não posso concordar com a assertiva de que os
militares teriam agido por “contaminação da propaganda anticomunista”,
porquanto o fizeram por convicção cívica, já que a afeição do Soldado pela
democracia é intrínseca à sua formação e a solução pacífica dos conflitos é
herança do exemplo do maior de todos eles, o Duque de Caxias.
Chamar o evento cívico militar de 1964 de “mera
quartelada” e os anos subsequentes de “ditadura cruel e ilimitada”, é, ao mesmo
tempo, uma simplificação e um exagero que me fazem crer, pasmo, que o Sr Carlos
Chagas, ele sim, esteja contaminado, não pela propaganda, mas pela intimidação
do “politicamente correto” que acaba por distorcer o pensamento até dos mais
brilhantes formadores de opinião. Não creio que seja esta a sua
verdadeira visão da história, mas um agrado ao ego dos patrocinadores oficiais
da imprensa.
Não foi, certamente, a “ambição das elites” que
colocou a espada contra as reformas sociais, conforme afirma o Sr Carlos
Chagas, mas a forma atabalhoada como estavam sendo impostas à nação. Uma prova
disso é, entre tantos, o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), o BNH
(Banco Nacional de Habitação) e o Estatuto da Terra.
Se os militares foram as mãos do gato que tiraram
as castanhas do fogo em nome das elites, estas representadas por “grandes
comerciantes, empreiteiros, especuladores, barões da mídia e demais espécimes
nacionais da fauna”, aí incluída a FIESP , “estimulando a perseguição e até a
tortura nos adversários” do contragolpe, hoje no poder da República, podemos
dizer que a situação pouco mudou, já que esta mesma fauna está, não mais
atrás da espada, mas da estrela vermelha dos partidos dos corruPTos, a usar, não as mãos, mas o próprios gatos
para, agora, apropriar-se das castanhas!
Com certeza, os sucessivos presidentes corruPTos, seguindo a cartilha da ambição própria e a
dos que com eles formam quadrilhas, também perderão a aceitação pública e o
regime hoje instalado no governo encontrará o rumo do desprezo e a sua debacle
estimulará a sociedade a começar uma releitura menos ideológica e mais
realista dos jornais de cinquenta anos atrás e poderá, aí sim, julgar e
concluir quanto ao que foi melhor ou pior para o Brasil.
Paulo Chagas
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