Mais casuísmo - CELSO MING
O ESTADÃO -
O governo Dilma acaba de
prolongar até o final de dezembro a redução do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) para automóveis e caminhões.
Essas prorrogações
casuísticas vão se perpetuando sem que ninguém no governo consiga
justificá-las. A nota oficial do Ministério da Fazenda avisa que o
objetivo é "estimular o setor automotivo, um dos principais motores da
economia".
No entanto, se o setor
já esperava crescer mais de 3% em unidades físicas, por que precisa
desse empurrão? Além disso, se esses incentivos são sistematicamente
prorrogados é porque não passam de expedientes de curto alcance, que não
garantem nunca estímulo que assegure futuro sustentável ao setor.
A decisão implica
renunciar à arrecadação de R$ 2,2 bilhões em relação à que estava nas
contas do governo. Não é uma ajuda que contribuirá para a cura de um
setor incapaz de competir, que produz caro demais e que só consegue
vender 4 milhões de veículos por ano por contar com reservas de mercado.
O argumento de sempre é o
de que a indústria automobilística tem de ser protegida porque, no
mundo inteiro, recebe tratamento especial. Assim é nos Estados Unidos,
onde a GM, a Ford e a Chrysler estão sempre obtendo favores do Tesouro. E
é na França, na Itália, na China, na Coreia do Sul...
Nada de errado na
proteção. O equívoco está em definir essa proteção sem uma política
consistente, sem um objetivo estratégico que a sustente. A indústria de
veículos no mundo opera dentro de um sistema global de suprimentos,
apoiada por tratados comerciais que abrem mercado externo. E não é o que
acontece no Brasil, onde vigora uma esquisitice chamada conteúdo local,
que tem de prever, também, proteção a ainda mais atrasada indústria
argentina de autopeças e que refuga tratados comerciais consistentes.
Não está claro nem mesmo
o objetivo de curto prazo do governo federal com essa decisão. Não deve
ser a preservação do emprego, como a Anfavea, a associação que defende
os interesses do setor, chegou a argumentar. Só no Estado de São Paulo, a
indústria de veículos mantém registrados 132 mil trabalhadores e espera
bater o recorde histórico de 1980, quando eram 133,6 mil. Não há
perspectiva de encolhimento do emprego no setor automotivo. De mais a
mais, é o Banco Central que adverte para a situação atual de pleno emprego, e para o aquecimento excessivo do mercado de trabalho.
Esta também não pode ser
mais uma manobra destinada a conter a alta do custo devida. Os veículos
não fazem parte da cesta básica e não será a redução de dois pontinhos
de IPI que vai levar o setor a praticar preços mais baixos.
Caso seja para empurrar a
indústria, então cabe perguntar por que repetir a escolha arbitrária de
um favorecido quando todo o sistema produtivo enfrenta os mesmos
problemas.
Ao contrário do que
alardeia o governo, decisões assim criam insegurança porque complicam o
planejamento. A qualquer momento favores assim podem acontecer ou deixar
de acontecer.
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