Jorge Schwerz
A vida em outro País traz um enriquecimento pessoal sem igual.
A cultura, a língua, a gastronomia, a arquitetura, a história como um todo, possibilita-nos a imersão em um mundo completamente diferente do nosso e nos permite um grande crescimento, que se aprofunda com o tempo.
É um exercício de tolerância também, visto que não há como criticar um povo que nasceu, cresceu e se desenvolve com um “protocolo” de pensamento muito diferente do nosso.
É ver e aprender. Descartar o que não serve e incorporar o que é bom.
Mas confesso, que uma coisa muito me incomodava, quando morei em Paris, durante dois anos, na função de Adido de Defesa e Aeronáutica: as Feiras de Natal, os conhecidos “Marchés de Noël”.
Que o leitor não entenda mal a minha colocação, as feiras de Natal são maravilhosas.
São iluminadas e decoradas para um Natal de sonhos. Nos trazem de volta à infância.
O que me incomodava era a falta de referência ao aniversariante, o menino Jesus.
Com o tempo aprendi que, sendo considerado um símbolo religioso, o presépio de Natal só é permitido nas igrejas ou dentro de casa, ou seja, fora do espaço público.
Era o Estado laico francês no seu dia a dia.
A revolução francesa trouxe os ventos iluministas que levaram à separação entre o Estado e a Igreja. A igreja católica ficaria impedida de influenciar o Estado francês, pois a razão deveria dominar a fé.
A ideia foi consolidada na lei de 1905, que oficializou essa separação.
Naturalmente, houve um oportuno “esquecimento” de que o nascimento e o crescimento do Estado francês têm muito a dever à religião católica.
Foi a partir do catolicismo que Clóvis I, considerado o primeiro rei francês, conseguiu unir as diversas tribos, estabelecendo o reino franco a partir da sua conversão à fé cristã. A França tornara-se a “filha primogênita da igreja”, a primeira nação católica na Europa, no ano 496 DC.
Ter a anuência do Papa significava poder, então imagine um País que teve 16 papas franceses na sua história.
Quando Felipe IV, Rei francês de 1285 a 1314, viu-se pressionado por dívidas junto à Ordem dos Cavaleiros Templários, foi com a anuência do Papa Clemente V, também francês, que ele eliminou aquela ordem de cavaleiros, tomando-lhes os bens e se livrando de dívidas incômodas.
Foi este Rei Francês que propôs a canonização do seu avô, Luís IX, que passou a ser chamado São Luís, no intuito de fortalecer o apoio dos cristãos ao seu reinado, bem como levou a sede da igreja para Avignon, a cidade dos Papas da França, que lá permaneceu entre 1309 a 1377.
Sem esquecer que, durante a revolução francesa, os bens da igreja foram tomados pelo Estado.
Ou seja, o Estado francês muito se beneficiou da Igreja Católica, mas tudo isto ficou esquecido na história.
Na verdade, parece que há um movimento para afastar Deus de tudo.
Lembro que o filho do meu Auxiliar, ao frequentar uma escola francesa, foi obrigado a esconder o crucifixo que levava consigo, pois não poderia portar o sinal da sua fé, publicamente.
Bem como a crítica, pouco sutil, de um General francês que, ao notar que um General brasileiro agradeceu a Deus o término de uma jornada de muito trabalho, disse que aquilo seria impensável para um oficial francês.
Como antecipei no início do texto, tolerância.
Na verdade, o que me chateava é que o francês ganha muito dinheiro com as Feiras de Natal. Há de tudo: gastronomia, artesanato, produtos regionais, decoração de Natal e presentes em geral.
Uma maravilha que tomava o coração de Paris, na Avenida Champs Élysées, e os principais pontos turísticos da cidade ao final do ano, durante quase um mês.
Na cidade de Strasbourg, chamada a Capital do Natal da França, o centro da cidade era fechado ao tráfego de automóveis, tal era a afluência de turistas nessa época.
Todo mundo ganha muito dinheiro com essas feiras, principalmente o Estado francês, que leva 46,1% de impostos do cidadão. A maior taxa da União Europeia.
Não há como negar a marca que a religião deixou na formação do Estado francês, mas parece que isso foi esquecido, como se a nação se distanciasse de si mesma, afastando-se da sua alma.
Parece que na luta para separar a Igreja do Estado, a sociedade francesa acabou por substituir o símbolo do menino Jesus por um símbolo de papel. O papel moeda do Euro.
Desejo um Feliz Natal a todos os leitores do Blog Ao Bom Combate! Que a comemoração do nascimento do menino Jesus, nos traga tempos melhores!
“O preço da liberdade é a eterna vigilância!”
*Publicado originalmene em aobomcombate.org
Jorge Schwerz é Coronel Aviador da Reserva da Força Aérea Brasileira; Mestre em Ciências pelo ITA; ex-Adido de Defesa e Aeronáutica na França e Bélgica; e Coordenador do Blog Ao Bom Combate!
PUBLICADAEMhttps://www.puggina.org/outros-autores-artigo/menino-jesus-de-papel__17337
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