Vilma Gryzinski
“A hora é agora”, disse Juan Guaidó, parecendo extraordinariamente no controle.
A seu lado, Leopoldo López, mentor original, tirado da prisão domiciliar pelos próprios agentes da polícia política que o guardavam e colocado, com expressão séria, no centro da fogueira dos acontecimentos.
Tudo mais era caos. As fitas azuis amarradas no braço dos militares que se declararam a favor dele e contra o regime de Nicolás Maduro pareciam quase perdidos, montando uma linha de resistência num viaduto de Caracas perto da base aérea de La Carlota, o marco zero da insurreição.
Blindados do Exército atropelaram várias pessoas na região, num retrato chocante do desequilíbrio de forças.
Quando os fitas azuis apareceram no meio do povo gritando “Liberdade”, na avenida Francisco Miranda, os poucos rebelados criaram um símbolo poderoso. Um blindado carregado de fardados sendo aplaudidos por venezuelanos comuns.
O homem que pode mudar o rumo de tudo, Vladimir Padrino, o general mais alto do escalão militar, declarou fidelidade ao regime ao qual está ligado umbilicalmente pela ficha suja. Os “atos de violência” haviam sido “parcialmente derrotados”.
O corte do sinal de televisões e redes sociais não indicava muita segurança das forças maduristas.
A propaganda habitual não causou surpresa. Disse o representante do regime na ONU, Jorge Valero, o governo americano “usou a CIA para comprar militares do alto comando e fracassou, só conseguiu recrutar pequenos núcleos militares de baixa hierarquia sem nenhuma influência na estrutura de comando”.
Do outro lado, a representante de Guaidó na Argentina, onde é tratada como embaixadora, Elisa Trotta: “Não é um golpe de estado, é um processo constitucional e democrático, um processo de recuperação da democracia liderado pelo presidente interino Juan Guaidó com apoio da nossa Força Armada Nacional.”
“Senhor Maduro, está em suas mãos evitar a violência, nosso processo é pacífico e democrático. Entregue o poder e evite o derramamento de sangue”, apelou Elisa Trotta.
Caminhando no meio de uma multidão, Juan Guaidó e Leopoldo López rumavam para o desconhecido. Com a aposta ambiciosa, só duas saídas eram possíveis: derrubada do regime ou prisão dos dois dirigentes apoiados pela maioria dos países democráticos e parte considerável da população.
Agora, não tem volta.
Veja
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