por Elena Landau O Globo
Mesmo com um quadro eleitoral bastante indefinido, uma coisa é certa nesta eleição: a discussão de propostas será mais profunda e o risco de um novo estelionato eleitoral, reduzido.
Muito mais que direita e esquerda, há uma divisão mais acentuada entre intervencionismo e liberalismo. O fracasso da experiência petista como representante da esquerda e a falência do Estado abriram caminho para que uma agenda liberal saísse do armário. A tarefa do eleitor é agora entender as nuances das propostas.
O enfoque até agora tem sido na economia, o que deixa as divergências sobre política social e direitos civis em segundo plano. Há candidatos que batem no peito falando em “privatizar tudo”, mas que são extremamente conservadores nos costumes e não apresentam proposta para reduzir pobreza e desigualdade ou de equidade no acesso a serviços públicos.
As diferenças deverão ficar mais claras com o avanço do debate, mas há sempre o risco, ainda que menor que no passado, de valer a velha máxima “candidato que falar o que pensa não ganha eleição”.
Quase todos pré-candidatos já apresentaram seus gurus econômicos. O diagnóstico parece não ser o maior problema, até os mais à esquerda reconhecem a gravidade da crise fiscal e a necessidade de gerar empregos com crescimento sustentado. Mas, como diz o ditado, “o diabo mora nos detalhes”.
Uma pauta liberal progressista é a mais correta para nosso momento. O país precisa reduzir a segmentação da sociedade entre regiões, entre gêneros, entre raças, entre emprego público e privado, entre serviços públicos e privados, entre sistemas previdenciários, aumentar a produtividade e se abrir para o mundo, acompanhando a revolução tecnológica na área ambiental e trabalhista.
A agenda é desafiadora: privatização ampla, sem vacas sagradas; reforma administrativa para valer como racionalização dos ministérios e revisão da estabilidade do funcionalismo público; abertura comercial e fim das desonerações e reserva de mercado; prestação de serviços públicos com parceiros privados, ampliando o uso de vouchers; fim da gratuidade incondicional de universidades públicas; ampliação do acesso a clínicas populares de saúde e oferta de creches; atração de investimento privado com regras claras e estáveis para infraestrutura, em especial, para o saneamento; reforma da Previdência mais ampla possível, reintroduzindo temas como igualdade de idade mínima para homens e mulheres; avanço das reformas microeconômicas que ajudem a reduzir a concentração na economia, em especial, no setor financeiro; e, por fim, educação, educação, educação e mais educação.
Os desafios são imensos, em especial, para uma sociedade viciada em Estado e com fortes e poderosas corporações, nossas saúvas. Por isso, a mãe de todas as reformas parece ser a reforma política. Sem ela, podemos convergir em diagnósticos e soluções durante a campanha, mas como implementar?
Elena Landau é economista
extraídaderta2014blogspot
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