editorial de O Globo
Uma característica bizarra do mensalão do PT, denunciado em 2005, mas
que funcionava desde a campanha, em 2002, na compra literal de apoios a
Lula, é que se tratou de uma “organização criminosa”, termo usado pelo
MP em denúncia, mas sem chefe. Primeiro, o ministro da Casa Civil, José
Dirceu, foi denunciado como tal, mas esta qualificação terminou apagada
no Supremo, na fase dos recursos de embargos. Do ponto de vista penal, o
mensalão ficou acéfalo, mas não no entendimento geral. O chefe, estava
claro, era o presidente Lula. Um esquema como o mensalão não existiria
sem o sinal verde dele.
Vitorioso o candidato petista, montou-se o petrolão, sistema de desvio
de dinheiro do contribuinte muito maior. Este, então, não teria mesmo
condições de existir sem o acompanhamento direto do presidente,
conhecido por ser centralizador.
Os testemunhos dados pelo ex-ministro Antonio Palocci, preso em
Curitiba, ao juiz Sérgio Moro, e divulgados quarta-feira, acabam com as
dúvidas de quem ainda as tinha. Lula, definitivamente, era o chefe da
organização criminosa que assaltou o Tesouro, por meio do uso de
estatais (Petrobras, Eletrobras etc.), para, em conluio com
empreiteiras, superfaturar contratos e transferir dinheiro público,
lavando-o na Justiça Eleitoral ou não, para PT e aliados de ocasião,
como PMDB e PP. E não há mais dúvidas: também com a finalidade de dar
vida muito boa a Lula, em pagamento pelos serviços bilionários muito bem
prestados. No caso do depoimento de Palocci, à Odebrecht.
Ainda em fase de pré-delação premiada — o depoimento foi como testemunha
em um processo contra Dilma e Lula —, o ex-ministro, pelo que disse,
promete ser demolidor, na condição de alto dirigente petista,
coordenador da primeira campanha de Lula à Presidência, ministro da
Fazenda no primeiro governo dele e coordenador de campanha de Dilma.
Antonio Palocci não deve decepcionar. A clássica tática da defesa de
tentar descredenciar testemunhas enfrentará rara dificuldade.
Entre os vários pontos altos do depoimento, além daquele em que o
ex-ministro reconhece ser o “Italiano” das generosas planilhas de
Marcelo Odebrecht, está o relato do “pacto de sangue” proposto pelo pai
de Marcelo, Emílio, e aceito sem resistência pelo então presidente no
final do segundo mandato. “Envolvia um presente pessoal (o sítio),
envolvia um prédio de um museu (do trabalhador) pago pela empresa,
envolvia palestras pagas a R$ 200 mil, fora impostos, combinadas com a
Odebrecht. E envolvia uma reserva de R$ 300 milhões.” Lula chamou
Palocci e o escalou para recolher e gerenciar o dinheiro.
Um bom sumário do que foi o relacionamento criminoso entre Lula e a
empreiteira. Outro resumo emblemático é o que se refere ao uso do
pré-sal para financiar o projeto de poder do PT, estatista e de
eternização no Planalto. Sempre com o conhecimento de Dilma Rousseff.
Em reunião no Planalto, com Palocci, Dilma já candidata, e José Sérgio
Gabrielli, presidente da Petrobras e militante petista, Lula determinou
que o programa de construção de sondas para o pré-sal servisse para
financiar este projeto de poder e a eleição de Dilma.
Sabe-se o que aconteceu com a Sete Brasil: corrupção, mais rombos na Petrobras e até em bancos privados.
Começa a ser desvendada a verdadeira história da passagem do lulopetismo
pelo Planalto. Não que surpreenda, mas contada por um subchefe tem
valor especial.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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