REINALDO AZEVEDO
É
claro que José Dirceu e Delúbio Soares fazem, à sua maneira, pouco caso
da Justiça e da punição ao anunciar as suas respectivas intenções de
trabalho. Se alguém me passasse uma lista de atividades possíveis para
Dirceu exercer e me pedisse para excluir algumas, a primeira seria
justamente aquela que ele escolheu. Que mente tem este rapaz! Ooops!
Desculpo-me com o ancião que agora quer ser beneficiado pelo Estatuto do
Idoso! Que mente tem o vovô Dirceu! Confesso que chego a ficar
impressionado!
Pensem
bem: em que outro ramo ele poderia, se quisesse (é claro que ele será um
gerente de hotel dedicadíssimo; sabe tudo da área!), exercer seu
trabalho de “consultor de empresas privadas” sem ser importunado por
ninguém? Bastará ao empresário interessado em seus conselhos hospedar-se
no St. Peter. O mesmo vale para políticos, que sempre podem passar por
lá para tomar um cafezinho. Assim, só as noites representarão uma quebra
na rotina do lobista bem-sucedido, que continua, como se sabe, a ser um
dos chefões do PT mesmo na cadeia. Não é o primeiro presidiário que
passa “salves” para os colegas que estão do lado de fora do muro, não é
mesmo?
É evidente
que Dirceu sabe que a gente sabe e sabe que a Justiça sabe… A graça da
coisa está justamente nisto: arrancar do Judiciário uma espécie de
consentimento para a não pena. Caso não seja bem-sucedido nos embargos
infringentes, a sua condenação volta a ser de 130 meses (10 anos e 10
meses). Ao menos um sexto desse total (quase 1 ano e 10 meses) tem de
ser cumprido em regime fechado mesmo. Aí estará criada a questão: esse
início em regime semiaberto será “descontado” de que fase? O seu
“patrão”, no entanto, não se importa em, eventualmente, ter de abrir de
seu “gerente administrativo”.
O
“emprego” de Delúbio não é menos acintoso. A sua origem, como é sabido, é
o sindicalismo — nem Lênin via essa gente com bons olhos… O homem
pertence à velha-guarda lulista, que levou para a política os métodos
vigentes nos sindicatos, que nem sempre são os mais suaves. A CUT, de
que ele já fi dirigente, decidiu contratá-lo justamente para o seu
chamado “setor de formação”. Isso quer dizer que a central considera que
a experiência de Delúbio é fundamental para formar a têmpera e o
caráter de seus quadros.
E não
deixa de ser, à sua maneira, verdadeiro. De todas as personagens do
mensalão, nenhuma foi tão fiel à causa como Delúbio Soares. Ninguém fez,
nesses anos todos, um silêncio tão obsequioso. Outros — até Lula —
deram uma fraquejada, mínima que fosse. O próprio Dirceu, basta
pesquisar um pouco, andou dando recados aqui e ali — faz isso até hoje.
Já houve até a ameaça de uma “biografia” contando tudo. Isso foi no
tempo em que Dirceu temeu que o Apedeuta pudesse jogá-lo ao mar. Mas
Lula não roeu a corda, e os originais da tal biografia desapareceram.
Delúbio nunca nem mesmo tremeu. Está com a causa e fim de papo!
No setor
de “Formação” da CUT, Delúbio será um professor. O que ele tem a
oferecer? Certamente não vai falar sobre a necessidade de respeitar as
instituições democráticas… Que fique claro: ao contratá-lo, ainda que
fosse para ele ficar sentado numa sala caçando moscas, a central
sindical está dando de ombros para a Justiça e deixando claro que não
acata seus fundamentos e seus valores.
“Ah, então
é assim com qualquer empresa que contrate um presidiário em regime
aberto ou semiaberto?” Claro que não! Ocorre que a CUT é uma entidade
que representa trabalhadores — parte de seus ganhos, diga-se, deriva do
indecente Imposto Sindical, compulsoriamente pago pelos trabalhadores.
Delúbio cometeu um crime contra a ordem republicana, contra os
fundamentos do próprio estado de direito. Chamá-lo para o “setor de
formação” corresponde a dizer que a entidade não contrata apenas o seu
trabalho, mas também referenda os seus valores.
E que se
note: A Justiça tem a prerrogativa, sim, de vetar tanto um emprego como
outro se julgar que não farão bem à ressocialização dos presos. Eu, por
exemplo, vetaria — para preservar os dois de si mesmos. Um presidiário
tem a sua liberdade tutelada pelo estado. Como o objetivo é fazer com
que Dirceu e Delúbio sejam pessoas melhores ao fim da pena, conviria não
lhes facultar circunstâncias que acabem predispondo ao crime, não é
mesmo?
Pensando
no bem de ambos, fosse eu o juiz das execuções penais, diria “não” a um e
a outro. É preciso pensar na alma desses reeducandos.
Por Reinaldo Azevedo
0 comments:
Postar um comentário