Governo previa resultado 'muito bom' para contas públicas em outubro; só que não foi nada disso
"MUITO BOM." O resultado das contas públicas federais de outubro seria "muito bom", dizia o pessoal do governo no início deste mês.
Muito bem. O resultado das contas públicas de outubro saiu ontem. Foi o pior desde 2004.
A despesa cresce muito mais do que a receita. A despesa em investimento ("obras" e assemelhados) caiu em relação ao ano passado (em termos reais, descontada a inflação).
Nos 12 meses contados até outubro, o governo poupou de suas receitas o equivalente a 1,2% do PIB. No ano passado, de resultado já fraco, poupara 1,6% do PIB.
Muito ruim.
A previsão do outubro "muito bom" era de autoria de Arno Augustin, secretário do Tesouro, na prática um dos vice-ministros da Fazenda.
Ontem, Augustin disse que o resultado de novembro será "histórico".
Depois do "muito bom" previsto para outubro e o resultado real, a gente começa a temer que os piores críticos do governo possam vir a ter razão: que novembro será um desastre.
O pessoal do governo em geral tem dito que as contas públicas estão sob "absoluto" controle.
Obviamente não estão. Não, não se quer dizer que o Brasil está um descalabro, no caminho da insolvência ou qualquer coisa remotamente parecida.
Mas até agora o governo demonstrou escassa noção de quanto seria sua receita ou sua despesa neste ano. Dificilmente cumprirá mesmo suas metas rebaixadas de "poupança" (superavit primário).
Ao descrédito em relação à política econômica em geral o governo acrescenta a desconfiança geral sobre a capacidade oficial de satisfazer até as expectativas mais reduzidas a respeito da prudência financeira oficial.
A política fiscal (de receita e despesa do governo) obviamente já não colabora com o controle da inflação (mais gasto, mais inflação, tudo mais constante). A desconfiança em relação ao "absoluto controle" deteriora ainda mais a situação. Os juros sobem, não apenas os "do Banco Central". Os juros na praça do mercado sobem ainda mais.
Por falar em juros, ontem saiu também o balanço do crédito no país. O total de dinheiro emprestado, o estoque total de crédito, sobe cada vez mais devagar.
Na verdade, vinha subindo apenas porque o governo turbinava os bancos públicos, fazendo dívida para encher o caixa da banca estatal, que reduziu juros meio por decreto de Dilma Rousseff e ganhou fatias de mercado.
O crescimento do crédito (estoque) dos bancos privados foi praticamente zero nos últimos 12 meses (o saldo de crédito dos grandes bancos privados ainda cresceu. Mas, no conjunto, o resultado foi retranca).
Agora, está acabando o gás dos bancos públicos. O ano de 2014 vai ser entre desanimado e de incertezas feias. Não é provável que o crédito da banca privada acelere muito.
Haverá inflação resistente, na casa dos 6%. Haverá o tumulto da mudança da política monetária americana (que deve dar em alta do dólar e de juros). Haverá a incerteza da eleição presidencial. Haverá a contínua desconfiança e/ou decepção com a política fiscal.
O vento vai soprar contra, e o governo ainda rasga as suas últimas velas. Difícil ir adiante.
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