Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Maluf e os outros - MOISÉS MENDES


ZERO HORA -

O promotor paulista Sílvio Marques tem como missão no mundo rastrear o dinheiro que corruptos mandam para fora do país ou escondem em paredes, pisos, armários. Ele e sua equipe monitoram processos contra mais de 700 envolvidos em corrupção.
Se você acionar o Google para procurar informações sobre Paulo Maluf, o nome do promotor aparecerá quase sempre ao lado. Marques já teve que recorrer a um furgão-baú para mandar uma montanha de documentos sobre Maluf à Justiça.
O promotor tem provas do dinheiro enviado pelo ex-prefeito e ex-governador para o Exterior. É algo perto de R$ 1 bilhão. Mas Silvio Marques tenta abater Maluf há mais de uma década, e Maluf escapa sempre. Quase todos os processos que envolvem o político passaram pelo promotor.
No dia 10 de setembro de 2005, Maluf foi preso, em meio a uma das tantas investigações. Era um sábado, eu estava no plantão de Zero Hora e telefonei para Marques. Falei com o xerife poucas horas depois da prisão. É dele essa frase, publicada na entrevista na íntegra, na edição de segunda-feira:
- A prisão tem um valor simbólico, porque mostra que a Justiça, que agiu com firmeza, existe também para os poderosos.
Naquele sábado, véspera da primavera, contagiado por tanto entusiasmo, saí pela Redação espalhando: guardem esse dia, o dia em que Maluf foi preso.
Maluf foi solto 40 dias depois por determinação do Supremo, e os processos continuam correndo na Justiça. Ele já foi condenado por superfaturamento de obras, desvio e lavagem de dinheiro quando era prefeito. E recorre sempre. Há uma década e meia, só o que faz é recorrer, recorrer.
O nome de Maluf está na lista suja da Interpol. O Banco Mundial pôs Maluf e o banqueiro Edmar Cid Ferreira e Daniel Dantas num cadastro de corruptos internacionais. E Sílvio Marques continua correndo atrás de Maluf.
Naquele dia 10 de setembro, Marques me disse também que o serviço só estaria completo se pegasse Maluf e a quadrilha que agia com ele. Era uma turma graúda de quatro megaempreiteiras e de dois bancos. O que você acha que aconteceu?
É comovente a persistência cívica de Sílvio Marques, que já foi processado por Maluf, que também tentou processar o promotor de Nova York responsável pela indicação de seu nome à lista da Interpol.
No início do mês, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou Maluf por superfaturamento de obras entre 1993 e 1996. Claro que ele vai recorrer. Há outro processo penal tramitando no Supremo. As ações têm tudo o que Maluf e o entorno representam _ os corruptos da turma que não mostra o rosto, os corruptores também sem feições e a estrutura indestrutível de conluios, superfaturamentos e aditivos das empreiteiras, como a desmontada agora no metrô de São Paulo. (Você já viu a cara de um dos executivos que denunciaram os esquemas do metrô? Eu não vi.)
É provável que Maluf seja um poderoso ainda impune porque seus comparsas é que são de fato os poderosos. Maluf pode ser também o laranja dos saqueadores que ninguém vê, o mais bem remunerado laranja da corrupção brasileira.
E enquanto Maluf estiver no centro da cena, nos entretendo como clichê de corrupto, os megacorruptores continuarão agindo em todas as frentes, impunes e invisíveis.

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